Análise: Os vencedores do Festival do Rio


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Em um ano de crise, agitações históricas e boatos de cancelamento, o Festival do Rio foi resistente, veio em uma versão mais enxuta e decidiu ser totalmente político em sua premiação: a obra mais premiada da noite foi um filme LGBT e os outros laureados falavam sobre temas urgentes como a ditadura militar e a realidade indígena no interior do Brasil. Muitos filmes da mostra já haviam sido exibidos e premiados em importantes festivais  ao redor do mundo, o que só comprova a boa safra criativa pelo qual o cinema brasileiro vem passando. Tinta Bruta foi o grande vencedor da noite, sendo premiado em quatro categorias: Melhor Filme de Ficção, Melhor Ator, Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante.


Essa não foi a primeira láurea que o longa de Márcio Reolon e Filipe Matzembacher, os mesmos diretores de Beira-Mar, recebe. Em sua estreia mundial, o longa foi  muito bem recebido no Festival de  Berlim e saiu de lá com dois prêmios: Melhor Filme Panorama (júri CICAE) e o importantíssimo Teddy Awards, um prêmio voltado exclusivamente para obras de temática LGBT. O Brasil já havia sido anteriormente premiado nessa mesma categoria, em 2014, com o belíssimo Hoje Eu Quero Voltar Sozinho. Tinta Bruta conta a história de Pedro, um menino que responde a um processo criminal e que passa por um momento particularmente difícil em sua vida. Ele tem que lidar com a mudança de sua irmã para a Bahia, a hostilidade de conhecidos seus nas ruas de Porto Alegre e também com a queda de audiência em seu canal na internet. Com o codinome de GarotoNeon, Pedro sobrevive financeiramente fazendo performances eróticas com tintas de néon sobre a pele na webcam. O filme já tem estreia garantida em várias países da Europa e atualmente faz tour por festivais ao redor do mundo. Já saiu premiado, por exemplo, em festivais na Grécia, Colômbia e Estados Unidos. O longa estreia no Brasil ainda esse mês.


João Salaviza e Renée Nader Messora foram os laureados com o prêmio de Melhor Diretor pelo filme Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, que também já havia sido exibido em Cannes e saiu de lá com o prêmio da mostra Um Certo Olhar.  Em 2009, a diretora Renée conheceu o povo Krahô e começou um trabalho de mobilização de um coletivo de cineastas indígenas. Em seu primeiro longa como diretora, ela já foi merecidamente reconhecida com essa vitória no Festival do Rio.


Ao contrário do ano passado – no qual se destacaram boas obras de terror como As Boas Maneiras e O Animal Cordial – o Festival do Rio não premiou nenhum filme com essa mesma temática esse ano. A Sombra do Pai saiu sem nenhum reconhecimento e Morto Não Fala tinha grandes chances de premiar Daniel de Oliveira pela terceira vez no festival. Ele já venceu a categoria de Melhor Ator duas vezes pelos filmes A Festa da Menina Morta, Aos Teus Olhos e todo ano é um forte concorrente da mostra. É quase a Merly Streep carioca.

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O Prêmio Félix, que é voltado para filmes de temática LGBT, foi totalmente feliz ao laurear o filme Sócrates na categoria de Melhor Filme de Ficção. Trata-se de um filme de baixo custo com o elenco todo composto por jovens do Instituto Querô, ONG santista dedicada à inclusão social através do audiovisual. Sócrates é o Moonlight brasileiro, um filme que conta a trajetória de um menino gay que se vê sem rumo na vida após a morte de sua mãe. Uma pequena pérola do cinema nacional que merece ser premiada e ganhar seu espaço, em breve, no circuito comercial. 


Torra das Donzelas, documentário sobre a ditadura militar, também foi duplamente premiado: ele foi escolhido como Melhor Documentário pelo júri da mostra e pelo voto popular. O longa conta com depoimentos da ex-presidenta Dilma Rousseff. 

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No mais, a premiação que mais soou incomoda foi a escolha de Itala Nandi para o prêmio de Melhor Atriz por seu trabalho no filme Domingo. Na trama, ela encarna – de forma caricata – a madame ruralista que trata mal seus empregados e que está visivelmente incomodada com a vitória de Lula nas eleições para Presidente da República. Até as poucas aparições de Marieta Severo – no questionável A Voz do Silêncio – seriam melhor reconhecidas pela premiação. 

Veja a lista dos principais vencedores do Festival do Rio:

Longa de ficção: 
Tinta Bruta, de Filipe Matzenbacher e Marcio Relon
Longa documental: 
Torre das Donzelas, de Susanna Lira
Curta-metragem: 
O Órfão, de Carolina Markowicz
Direção de longa de ficção: 
João Salaviza e Renée Nader Messora, por Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos
Direção de documentário: 
Susanna Lira, por Torre das Donzelas 
Atriz: 
Itala Nandi, por Domingo
Ator: 
Shico Menegat, por Tinta Bruta, e Valmir do Côco, por Azougue Nazaré
Atriz coadjuvante: 
Eliane Giardini, por Deslembro
Ator coadjuvante: 
Bruno Fernandes, por Tinta Bruta
Fotografia: 
Renée Nader Messora, por Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos
Montagem: 
André Sampaio, por Azougue Nazaré
Roteiro: 
Filipe Matzembacher, Marcio Reolon por Tinta Bruta
Prêmio Especial do Júri: 
Azougue Nazaré, de Tiago Melo
Melhor longa de ficção segundo o voto popular: 
Deslembro, de Flavia Castro
Melhor longa documental segundo o voto popular: 
Torre das Donzelas, de Susanna Lira

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