Especial Antifascismo: O que é isso, companheiro? (1997, de Bruno Barreto)

Nem só de Central do Brasil viveu o glorioso cinema nacional do final dos anos 90. Um ano antes, em 1997, surgia o penúltimo filme que representaria o Brasil em uma disputa de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Óscar: O que é isso, companheiro?

O filme conta a história do movimento (sim, alguns chamam de movimento) golpe de estado de 1964 e seu posterior desdobramento em dezembro de 1968, o AI-5. Antes de falarmos do filme, convém mencionar que o Ato Institucional número 5 foi o pior dos decretos, pois foi este, assinado em 13 de dezembro de 1968 por Artur da Costa e Silva, que retirou mandato de parlamentares contrários ao governo militar, institucionalizou as intervenções nos municípios e estados pelo presidente e suspendeu todas as garantias constitucionais, o que então, deu a brecha para tortura e perseguição aos opositores.

Assim, chegamos ao momento do filme. Dirigido por Bruno Barreto, baseado em história escrita por Fernando Gabeira, o roteiro mistura um pouco de ficção com a realidade do sequestro do embaixador dos Estados Unidos, Charles Burke Elbrick (Alan Arkin), em 1969, por guerrilheiros contrários ao regime.


O sequestro tinha como principal motivação libertar 15 presos políticos. E assim foi feito. A carta dos sequestradores foi lida após o sequestro do embaixador (que foi sequestrado numa quinta-feira) e concluídas as negociações ele foi liberado num domingo, em meio à confusão de um jogo no Maracanã. Os 15 presos políticos foram libertados como parte do trato, mas os sequestradores que não conseguiram exílio foram perseguidos e se dão conta de que 2, inclusive, não teriam resistido à tortura.

Uma curiosidade do longa, fica pela história em que é inspirado. Fernando Gabeira escreveu seu livro com personagens fictícios, mas é uma história que se passou com ele. Na história ele é Paulo, representado por Pedro Cardoso no longa. Ainda compõe o elenco Fernanda Torres, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nelson Dantas, Selton Melo, Eduardo Moscovis, Othon Bastos, Lulu Santos e Fernanda Montenegro. Uau! Que elenco!


O filme acerta em mostrar o embaixador como representante de uma política de centro, cercado por 2 extremos (extrema esquerda e extrema direita) e como ambos tem seus dissabores. Ainda assim, foi desse embate entre estes dois extremos, que muitos anos depois o Brasil saiu fortalecido e com uma nova constituição em 1988.

Outros acertos notórios do filme ficam por conta das decisões de gravação, conseguindo com a câmera em punho mostrar a agonia dos personagens em cada um dos distintos momentos da trama. Vale destacar que é graças ao estilo de gravação empregado que o filme ganha de fato o status de um thriller.

Praticamente 20 anos após a estreia do filme e 50 anos dos acontecimentos retratados, parece que estamos flertando com extremos novamente, mostrando não só que nossa história é cíclica, mas que infelizmente a história “falhou”.

O paradoxo entre sermos livres e ao mesmo tempo pertencermos a algo, demonstra que, infelizmente, não estamos preparados para a liberdade.


Título Original: O que é isso, companheiro?

Diretor: Bruno Barreto

Elenco: Alan Arkin, Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Matheus Nachtergaele, Luiz Fernando Guimarães, Cláudia Abreu, Nelson Dantas, Selton Melo, Eduardo Moscovis, Othon Bastos, Lulu Santos e Fernanda Montenegro.

Sinopse: Em 1964, um golpe militar derruba o governo democrático brasileiro e, após alguns anos de manifestações políticas, é promulgado em dezembro de 1968 o Ato Constitucional nº 5, que nada mais era que o golpe dentro do golpe, pois acabava com a liberdade de imprensa e os direitos civis. Neste período vários estudantes abraçam a luta armada, entrando na clandestinidade, e em 1969 militantes do MR-8 elaboram um plano para seqüestrar o embaixador dos Estados Unidos (Alan Arkin) para trocá-lo por prisioneiros políticos, que eram torturados nos porões da ditadura.
Trailer:

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