Especial Antifascismo: Fahrenheit 451 (2018, Ramin Bahrani)

Senso comum se caracteriza por: conhecimentos empíricos acumulados ao longo da vida e passados de geração em geração. É um saber que não se baseia em métodos ou conclusões científicas, e sim no modo comum e espontâneo de assimilar informações e conhecimentos úteis no cotidiano. Mas e quando esse senso comum passa a ser considerado verdade absoluta? Quando nosso senso crítico passa a ser desmerecido e importuno, já que nosso modo de pensar e entender a verdade é diferente daquela que nos é forçada goela abaixo? Em Fahrenheit 451 temos uma realidade distópica onde as pessoas são proibidas de pensar por si próprias e devem aceitar de bom grado toda e qualquer opinião e notícia dada pelo governo. Jamais deve-se ir contra o sistema!


O filme é baseado na obra homônima de Ray Bradbury, que foi escrita em 1950, numa década pós-guerra, o que diz muito sobre a história quando entendemos alguns detalhes muito relevantes ao momento que o autor passou e vivenciou. Tanto no livro quanto no filme, a leitura, o saber e o senso crítico foram criminalizados, qualquer um que tenha livros em casa corre o risco de acabar na cadeia ou pior. Os bombeiros, antes considerados heróis, hoje são os que ateiam fogo. 451ºF é o mesmo que 252ºC, o necessário para se queimar livros ou qualquer coisa que esteja no caminho deles. O que nos faz refletir sobre o autoritarismo nazista, onde o conhecimento era limitado e sim, eles queimavam livros em praça pública para qualquer um ver. Isso também já fora citado em outro livro, A Menina Que Roubava Livros, em que, em certo momento da história, ela fala sobre as fogueiras de livros nas ruas. Livro esse baseado em memórias do avô do autor, Markus Suzak, que sobreviveu as grandes guerras. Ou seja, não é novidade para um leitor atento, os métodos de alienar a população.

Após anos vivendo confinando num regime totalitário, Guy Montag (Michael B. Jordan) é o segundo no comando dos bombeiros. É um líder forte e destemido que nunca vai contra as ordens de seu chefe (Michael Shannon), até o dia que conhece Clarice (Sofia Boutella), uma mulher que vive abaixo do sistema, que tem que se virar para sobreviver e ainda ajudar as pessoas ao seu redor. Aos poucos ele começa a entender que o sistema ao qual ele vive não é o ideal. Suas perspectivas começam a mudar ao ponto de ele lutar contra o governo. E é aí que tudo começa a desmoronar.


Como um bom governo autoritário temos algumas regras importantes a cumprir, como: você não tem direito a privacidade, você não tem direito a ter ideias próprias, você não pode ir contra a autoridade. A partir do momento que Montag entende isso, ele passa a ser a caça e não o caçador. Pela primeira vez ele entende que viveu uma vida falsa, cheia de mentiras e infelicidade. Ele percebe que nunca fez nada porque queria fazer, mas porque ele devia fazer! Era o que esperavam dele. Como ir contra uma verdade que sempre foi a sua verdade?





O mais marcante da obra talvez seja a ordem invertida de tudo aquilo que entendemos como certo. Bombeiros queimando livros, aversão à leitura, o saber ser considerado um meio para a loucura e insanidade. A falsa sensação de segurança, com um governo que manipula até o que você assiste dentro de casa, moldurando em um belo quadro todo o bem que ele tem feito para você, ao mesmo tempo que mata outras pessoas na casa ao lado. As mentiras contadas como meios para um fim. Fim esse que é a alienação, o medo, as notícias falsas, o preconceito, tudo muito velado numa cortina de mentiras que ninguém tem coragem de atravessar. A comodidade passa a ser regra nesse mundo de covardes. Pensamento de colmeia nunca salvou ninguém, pelo contrário, matou mais do que gostaríamos de admitir. Se você acha que essa história está longe de acontecer na vida real, sinto em lhe dizer que ela já aconteceu e está acontecendo. Não precisa ir muito longe na história da humanidade para ver o que o controle de massas foi capaz de fazer ou o que um governo autoritário está fazendo aqui do lado. Tudo está muito disseminado hoje em dia, só não vê quem não quer ou quem concorda com tudo isso.

“Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.”
Marquês de Maricá

Título Original: Fahrenheit 451

Direção: Ramin Bahrani

Elenco: Michael B. Jordan, Michael Shannon, Sofia Boutella, Laura Harrier, Martin Donovan. Lilly Singh, Daniel Zolghadri

Sinopse: Em uma sociedade do futuro na qual livros são proibidos e queimados, um bombeiro começa a ler em segredo e descobre uma organização rebelde subterrânea engajada em proteger a literatura.

Trailer:
 

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