Crítica: O Labirinto Do Fauno (2006, Guillermo Del Toro)



O Labirinto Do Fauno é um filme espanhol dirigido por um mexicano. Nos últimos anos, o México esteve muito bem representado no Oscar, com vários prêmios para grandes diretores mexicanos como Alejandro González Iñarritu (O Regresso, Birdman), Alfonso Cuarón (Gravidade), e ainda, mais recentemente, Guillermo Del Toro (A forma da água), também diretor deste primoroso filme. Mas estamos falando de 2006, quando o cinema feito por mexicanos ainda não estava tão em alta, e, mesmo assim, O Labirinto do Fauno recebeu seis indicações ao Oscar, sendo elas: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte e Melhor Maquiagem, vencendo as três últimas. Um filme não americano que consegue tantas indicações merece muita atenção.

Guillermo Del Toro entrega um trabalho de direção brilhante. Ele usa alguns movimentos de câmera que saem do foco da cena e passam para um lugar escuro, onde ele aborda histórias contadas por Ofelia e, logo no começo, explica toda a mitologia do filme de maneira magistral. Há um plano sequência que muda da realidade para uma história e depois volta para a realidade acompanhada por um dos ”insetos” que acompanham Ofelia, que é fantástico. Os efeitos especiais, nessa cena e em todo o filme são excelentes. O único momento em que os efeitos são realmente genéricos, é quando os personagens olham para a floresta e há fogo no fundo. É muito notável que são efeitos nessa parte, mas, de resto, eles funcionam perfeitamente. Del Toro imprime um estilo muito autoral e ágil. A câmera está constantemente em movimento, o que dá uma fluidez muito grande à narrativa. O diretor coloca o público no ponto de vista da personagem principal, o que faz toda a exposição do filme ser feita de maneira natural. Junto com o roteiro – também escrito por Del Toro, junto com Antonio Trashorras e David Muñoz – o diretor faz um excelente trabalho na construção da personagem Ofelia; todos os pensamentos dela são revelados em pequenos gestos, como um sorriso contido e outras coisas. O filme passa muito rápido por causa do roteiro, da direção e da edição.

As atuações são um ponto fortíssimo do filme. Ivana Baquera está fantástica como Ofelia, a construção da personagem, já citada acima, deve-se muito à atriz; é uma das melhores atuações infantis que provavelmente você irá assistir. Sergi López está espetacular como o Capitão Vidal, é um dos vilões mais cruéis da história do cinema; é um tipo de atuação diferente de outros grandes vilões como Anthony Hopkins (O Silêncio dos Inocentes), Christoph Waltz (Bastardos Inglórios) ou Heath Ledger (O Cavaleiro Das Trevas), que são vilões que você ama odiar. O Capitão é um personagem detestável, cruel e o ator faz um excelente trabalho na construção do personagem. Infelizmente, o roteiro apela em uma cena no começo para fazer o público sentir ódio do personagem de cara, em uma cena envolvendo um pai e um filho. É uma cena que não precisava estar no filme, e é uma tentativa forçada de falar “Olha só como esse vilão é mal”. Isso não é importante para a crítica, mas o ator do Capitão é igualzinho a Clive Owen. Você não dá nada pela personagem de Maribel Verdú no começo do filme, mas ela toma seu espaço e interpreta Mercedes com competência e segurança extremas.

Tecnicamente o filme é perfeito. Fotografia, direção de arte, trilha sonora, maquiagem, efeitos especiais, figurino e design de som (edição e mixagem) são perfeitos. O aspecto técnico que mais chama a atenção é a edição, que é primorosa. Usa alguns recursos como cortes que não se percebem, como quando a câmera passa por trás de uma árvore ou de um saco no chão, e Del Toro brinca com isso em alguns momentos, quando ele passa com a câmera por trás de uma árvore e você espera que a cena vai cortar, mas ela continua no mesmo ponto em que estava.

O roteiro do filme é espetacular. É um filme quase redondo, que trata de vários temas importantes na sociedade de hoje e, como uma história, também é genial. Abre algumas perguntas no final que nunca serão respondidas e deixa o público de boca aberta.

O Labirinto do Fauno é um filme com direção brilhante, edição primorosa, aspectos técnicos perfeitos, atuações dignas de aplausos, e que só não leva um 10 por causa de uma cena que – na minha humilde opinião – é forçada e não precisaria estar no filme.

Título Original: El Laberinto Del Fauno

Direção: Guillermo Del Toro

Elenco: Ivana Baquero, Doug Jones, Sergi López, Maribel Verdú, Ariadna Gil, Álex Angulo, Roger Casamajor, César Vea, Federico Luppi, Manolo Solo

Sinopse: Espanha, 1944. Oficialmente a Guerra Civil já terminou, mas um grupo de rebeldes ainda luta nas montanhas ao norte de Navarra. Ofelia, de 10 anos, se muda para a região com sua mãe, Carmen. Solitária, a menina logo descobre a amizade de Mercedes, jovem cozinheira da casa. Em seus passeios pelo jardim da imenso mansão em que moram, Ofelia descobre um labirinto que faz com que todo um mundo de fantasias se abra, trazendo consequências para todos à sua volta.

Trailer:
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