Crítica: 12 Anos de Escravidão (2013, de Steve McQueen)

12 Anos de Escravidão conta a saga de um homem negro em 1841, livre, que é enganado em uma proposta de emprego – ele acha que sairá em uma espécie de turnê, demonstrando sua bela habilidade com o violino – e é forçado a viver como um escravo pelo período de 12 anos, como consta no título. O filme tem o poder de lhe derrubar logo de início: já por cerca dos primeiros vinte minutos, há a primeira surra (de muitas) que Solomon, nosso protagonista, sofre. Aí o filme já ganhou 1) minha adoração incondicional pela sua cortante vivacidade, 2) minha adoração pela atuação – eu engasgo nos elogios. São muitos. – de Chiwetel Ejiofor (seus gemidos, sua expressão). Mentalmente eu gritava “Para! Não dá pra suportar mais isso!” porque essa é a ambição alcançada por esse filme. É cru e poderoso, atirado em nossa cara. Eu não deixei de questionar porque esse mesmo fator, a violência humana baseada em um fato real, foi o que me fez odiar o filme A Hora Mais Escura e aqui foi o que me fez idolatrar esse bravo filme. Talvez tudo se resuma ao propósito. Aqui não é nenhuma campanha que justifica a violência americana, justamente pelo contrário. Mostra esse passado obscuro de escravidão horrível na América e quão horríveis as pessoas foram e são capazes de ser. Esse é o melhor filme que já existiu sobre a escravidão e não se fala mais no assunto.

Quando achamos que não conseguiremos nos chocar ainda mais, ter nossos corações esmagados ainda mais, isso acontece. Se eu já achava ridículo o filme O Mordomo da Casa Branca (The Butler), após presenciar o titã 12 Anos de Escravidão, eu tenho até vergonha da existência de The Butler. Aqui em 12 Anos de Escravidão, se trata de todo o sofrimento que os negros passaram com um coração enorme, que em segundo algum deixa de pulsar forte em respeito, honra e compromisso com a feia e nua verdade.

Eu dou para ele a minha medalha pessoal de melhor filme de 2013 sem qualquer reserva, porque é impossível, em todos os sentidos, que outra produção que eu vá assistir nos próximos meses (nos próximos anos?) vá me fazer sentir metade do que eu senti. As cenas escurecidas de violência com aquela trilha sonora de batidas e ecos sufocantes… Eu me senti mal. O filme de fato quebrou essa barreira da tela e me segurou pelos ombros me submergindo em todo aquele inferno e me fazendo sentir, realmente, muito mal!


Se a atuação do protagonista é de fazer você chorar e ser dominado por essa real necessidade de estender-lhe a mão, dar-lhe um reconfortante abraço, tirá-lo dali, as atuações coadjuvantes também são assombrosas em maravilha. Assim como não há um momento errado de direção de arte, fotografia, figurino, trilha, não há um detalhe de nenhuma das atuações em falso. O que acontece, é algumas terem um espaço menor do que o desejado; a edição peca em um único corte brusco demais e não temos em um todo a sensação dos 12 anos passados.

O filme arrepia a pele e repousa em seu imaginário. É inesquecível. E quanto a esse festival de maravilhas, quem é o responsável? Diretor Steve McQueen, é claro! É dele a decisão de fazer a câmera deslizar por entre folhas no canavial. É dele a decisão de fazer a câmera parar no rosto de Chiwetel por quase dois minutos enquanto em silêncio o ator só olha para todas as direções com o olhar mais desolado que (ao menos eu) já vi na vida. É McQueen o homem por trás de cada detalhe desse espetáculo.

12 Anos de Escravidão não tem uma gota de “produto padrão de Hollywood”. O final grita essa certeza ao não fazer uso da esperada trilha sonora alta, inspiradora. Não. O que você encontrará aqui não é uma coletânea de pretensões. O filme nunca força momentos enigmáticos e é exatamente aí quando os tem. Não é um balé de movimentos coreografados, não é extravagância de efeitos especiais. É cinema da alma e necessário. 

Título Original: 12 Years a Slave

Direção: Steve McQueen

Elenco: Chiwetel Ejiofor, Lupita Nyong’o,Michael Fassbender, Brad Pitt, Benedict Cumberbatch, Sarah Paulson, Alfre Woodard, Paul Dano, Paul Giamatti, Michael K. Williams, Scoot McNairy, Adepero Oduye, Taran Killam, Quvenzhané Wallis, Garret Dillahut, Chris Chalk, Bill Camp, Dwifht Henry, Bryan Batt, Christopher Shane Berry, Kelsey Scott, Storm Reid, Ashley Dyke, Tony Bentley, Liza J. Bennett, Anwan Glover, J. D. Evermore, Jay Huguley, Tom Prodctor, Kelvin Harrison, Topsy Chapman, Douglas M. Griffin, Marcus Lyle Brown, Andy Dylan, Marc Macaulay, Vivian Fleming, Deneen Tyler, Craig Tate, Mustafa Harris, Thomas Francis, Austin Purnell, Robert Martin Steinberg, Devyn A. Tyler, James C. Victor, John McConnell.

Sinopse: 12 Anos de Escravidão é baseado na inacreditável verdadeira história de um homem que luta por sobrevivência e liberdade. Na época pré-Guerra Civil dos Estados Unidos, Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem negro livre do norte de Nova York, é sequestrado e vendido como escravo. Diante da crueldade de um dono de escravos (Michael Fassbender) e de gentilezas inesperadas, Solomon luta não só para se manter vivo, mas também para manter sua dignidade. No décimo segundo ano de sua odisseia inesquecível, Solomon encontra casualmente com um abolicionista canadense (Brad Pitt), que muda sua vida para sempre.

Trailer:


Matéria de despedida escrita pelo membro:
O Mágico de Oz.

Deixe uma resposta