Crítica: Thelma & Louise (1991, de Ridley Scott)

Falar sobre um filme de quase 30 anos me dá permissão para soltar um pouquinho de spoilers, então, caso você seja alérgico a eles, me desculpe, mas toma um remedinho e continue lendo porque valerá a pena! Eu garanto!

É muita responsabilidade falar sobre um filme considerado um clássico, que mesmo 27 anos após seu lançamento continua com a bandeira feminista erguida; mas mais do que isso, também é muito difícil falar sobre um filme que representa fortemente a angústia de tantas mulheres. E não é difícil por não ter ou não saber o que falar mas, sim, por ter tanto o que falar e ter que controlar as palavras e sentimentos para não acabar desfocando o assunto. Mas vamos parar de enrolação e falar sobre esse magnífico filme chamado:

Como o próprio título já apresenta e nos faz adivinhar, o filme contará a história de duas mulheres, quais são melhores amigas. Ambas têm personalidades únicas e fortes, que juntas se complementam e formam como se fossem apenas uma única e imbatível mulher. 


Thelma é uma dona de casa sustentada pelo marido e, por isso, acha que tem que aceitar seu nada-saudável-casamento, se vendo dependente dele para tudo; supostamente, é a personalidade mais ingênua, aquela que, a princípio, ainda não se deu conta de que sua vida é apenas sua e que ninguém deve ditar o que ela pode ou não fazer. 


Louise, uma garçonete sem vínculos matrimoniais, é, supostamente, também, a personalidade mais feroz, aquela que há muito já sabe que ninguém faz dela uma marionete. É extremamente lindo ver a relação das duas, principalmente em como uma vai moldando e dando influência de si própria na outra, fazendo com que se tornem cada vez mais fortes. 


Unidas representam muito bem o lema: “Juntas Somos Mais Fortes!”


Depois de uma briga com o namorado, Louise decide viajar por uns dias para espairecer e convida Thelma para ir junto, que num primeiro momento não se põe muito disposta e diz que tem que “pedir” para o marido, mas depois de ser novamente tratada mal por ele, decide aceitar o convite da amiga sem nem pestanejar. E nisso elas embarcam numa roadtrip inesquecível, cheia de enrascadas, mas provavelmente a mais emocionante que você verá (ou já viu) nas telonas do cinema (ou da sua TV mesmo). 

Elas só querem se divertir, e só estavam se divertindo, até decidirem sair da rota e entrar em um barzinho para beber alguma coisa. Foi aí que os problemas começaram. Entre drinks e danças, um homem – daqueles que acham que podem fazer qualquer coisa com as mulheres, principalmente se elas beberam ou deram algum indício de interesse – tenta estuprar Thelma. Louise chega à tempo para presenciar tal cena e acaba tomando uma atitude que mudará drasticamente a vida das duas. Thelma, por estar numa situação de vulnerabilidade, não consegue se defender do abuso, tendo a sorte de ter sido defendida pela amiga, qual atitude fora justificada mais tarde. A ideia inicial de Thelma era contar tudo à polícia, mas a amiga fala que isso estaria fora de cogitação, pois jamais acreditariam nelas, uma vez que todo mundo no local viu Thelma dando bola para o tal homem. Depois dessa trágica situação, as duas seguem em uma aventurada fuga, mesmo sem sequer terem sido acusadas de algo, mas prevendo o que o futuro lhes guardava. 

A atitude de Louise passa a refletir no comportamento delas, principalmente no de Thelma, que passa a se rebelar uma pessoa muito mais forte e “porra louca”, qual a amiga nunca vira antes. Mas nada abala a amizade, elas seguem fortes e unidas para conseguir escapar da enrascada em que se meteram. Em nenhum momento elas jogam a culpa uma na outra, arcando sempre com as consequências juntas, mantendo a sororidade presente o tempo todo. As amigas também passam a não tolerar mais qualquer tipo de machismo, sexismo e misoginia pra cima delas, respondendo a altura sempre! O que acaba dando uma ótima satisfação, principalmente para nós, mulheres.

“Como se porta assim com mulheres que nem conhece? Como se sentiria se fizessem o mesmo com a sua mãe, sua irmã, ou com sua esposa?”

No desenrolar do filme, conforme entre linhas tênues os segredos vão sendo revelados, passamos a entender o porquê da empatia de um único policial para com as duas; e sem precisar dizer ou mostrar muita coisa, nós entendemos tudo e ficamos cada vez mais revoltados com certos profissionais, que usam do poder apenas para punir de forma vingativa, sem nem querer saber o porquê de às vezes as pessoas agirem de formas extremas, principalmente quando são mulheres ou qualquer outra minoria, ou, como eu prefiro dizer, maiorias oprimidas. 


No fim temos uma cena para lá de clássica, que chegou a ser recriada até no desenho Os Simpsons, no episódio seis, “As Escapadas de Marge” (“Marge on the Lam”), na 5ª temporada (vídeo no final da matéria para quem quiser assistir). O final delas não é feliz, mas libertador. E embora eu tenha as duas como heroínas, como símbolos de força e me sinta muito representada, acho triste demais que as situações repugnantes do filme são piores na vida real, e que o mesmo fim fora das telas não é interpretativo, se resumindo em nada menos que tristeza. 


Thelma & Louise é aquele típico filme que te faz sentir mil coisas ao mesmo tempo, e tudo isso graças as atuações maravilhosas das protagonistas e ao roteiro pra lá de bem construído, que fez Callie Khouri levar uma estatueta do Óscar para casa em 1992, por Melhor Roteiro Original! Geena Davis e Susan Sarandon, atrizes que interpretam Thelma e Louise, respectivamente, carregam o filme nas costas, porque tirando a atuação das duas não temos qualquer outra que seja realmente digna de aplausos, nem mesmo a atuação de Brad Pitt, que tem uma pequena participação no longa, mas que graças a esse papel, alavancou sua carreira. É incrível a química das duas e em como ambas conseguiram fazer tudo de forma tão natural, a ponto de sequer parecer uma filmagem.


Outro ponto que merece ser ressaltado, é a trilha sonora; o filme inteiro tem soundtrack e trilhas de fundo que casam magistralmente com as cenas, nos fazendo vibrar e entrar ainda mais no clima da trama. Levando em consideração o ano do filme, também podemos aplaudir a produção fotográfica, que utilizou muito bem dos recursos que teve e fez valer as belíssimas locações desérticas, prova disso é a indicação ao Óscar, em 1992, na categoria de Melhor Fotografia. Claro que o título da matéria entrega o diretor, e para quem já conhece os trabalhos dele, sabe que o filme não poderia ser menos do que nos foi entregue. Conhecido por ser um diretor muito versátil, raramente fazendo dois filmes do mesmo estilo, sendo alguns deles considerados os melhores no seu estilo. E, para quem não está ligando o nome a pessoa, jaz aqui alguns filmes do mesmo: Até o Limite da Honra (1997), Hannibal (2001), Alien, Gladiador (2000), Robin Hood (2010), Perdido em Marte (2015), Prometheus (2012), O Gangster (2008), Tormenta (1996), Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982), entre outros.

A vontade de continuar aqui refletindo e elogiando tudo a respeito desse filme é grande, porque ele representa um dos marcos feministas no cinema, ainda mais por ser um filme atemporal, especialmente por nossa realidade não estar absolutamente nada diferente hoje. Um cuidado especial que eu dou é: saiba captar a mensagem que o filme traz, não ache que a unica conclusão disso é combater violência com violência. Mas, dito tudo isso, deixarei a peteca com vocês, para que tirem suas próprias conclusões!  

Título Original: Thelma & Louise

Direção: Ridley Scott

Elenco: Susan Sarandon, Geena Davis, Harvey Keitel, Michael Madsen, Christopher McDonald, Brad Pitt, Stephen Tobolowsky, Timothy Carhart, Jason Beghe, Lucinda Jenney, Sonny Carl Davis, Ken Swofford, Carol Mansell, Shelly Desai, Stephen Polk.

Sinopse: Cansadas da vida monótona que levam, duas amigas, uma garçonete quarentona (Susan Sarandon) e uma jovem dona-de-casa (Geena Davis) resolvem deixar tudo para trás num fim de semana. Mas no caminho se envolvem em encrencas e acabam sendo perseguidas pela polícia.



Trailer:

Bônus #1:

Episódio recriado na série Os Simpsons: 

Bônus #2: 

Susan Sarandon postou há um tempo em sua página do Facebook uma versão 2 da “selfie” clássica de Thelma & Louise, aqui está o resultado:

Bônus #3: 

Tempos mais tarde, as atrizes homenagearam o filme, posando juntas para a revista “Harper’s Bazaar”, e recriaram mais uma vez a primeira selfie do cinema: 




Gostaram da matéria? Espero que sim e que gostem do filme!
Para quem já viu, não deixe de me contar aqui nos comentários o que acha desse clássico e se ele possui alguma outra curiosidade que eu não tenha mencionado ao longo da crítica.

Obrigada pela leitura, e até a próxima!

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