Crítica: Maravilhosa Sra. Maisel (2017, de Amy Sherman-Palladino)

“O que tem demais em trabalhar? E o que tem demais ser divorciada? O que tem estar sozinha? Por que as mulheres se importam com como as pessoas as veem? Todas as mulheres. Me falaram que eu não seria engraçada a não ser que eu inventasse um personagem maluco ou tivesse um pênis. Vai me dizer que homens não vão me achar engraçada porque eu não pareço lixo?”

Atrevo-me a dizer que essa série é a melhor parceria que a Amazon Prime Video poderia ter feito com Amy Sherman-Palladino. Assim como em Gilmore Girls, Amy também fez um excelente trabalho em Maravilhosa Sra. Maisel. Como de praxe, temos personagens femininas fortes, que não precisam de homens para viver e nem daquela construção de família imposta e impregnada pela sociedade, seja de qual década estivermos nos referindo. Resumindo, temos uma série que retrata uma mulher independente e empoderada!
A série aborda muitos temas importantes, como as consequências familiares do divórcio vistas tanto pela família do homem, quanto da mulher, e percebendo que assim como tantas outras coisas, para o homem é sempre mais fácil; vemos a figura de uma mulher que se sente culpada pelos erros do marido, embora não seja; vemos uma mulher insegura a respeito de concretizar seus sonhos simplesmente pelo fato de ela não ser homem, afinal, tem coisas que só podem ser feitas ou aceitas caso você seja um homem, não?! Pois é, não. E não paramos por aqui, também temos uma mulher buscando apoio de estranhos e amigos por não ter apoio da sua própria família.

Tendo como plano de fundo a cidade de Nova Iorque em meados dos anos 50, retratando a classe média alta e contando a história de Miriam “Midge” Maisel, que, após ser abandonada pelo marido, Joel,  é obrigada a olhar à vida com novos olhos, decidindo, então, dar um novo rumo em sua vida. Encontra uma felicidade fazendo stand up comedy em bares noturnos ou em festas de amigos; descendo do salto de vez em quando, mas nunca perdendo a classe, consegue juntar seus pedaços e se reconstruir sozinha, mesmo sem apoio e com os julgamentos da sua família. Nessa época, a opressão por parte da família por conta de como são vistos pela sociedade era ainda mais esmagadora do que nos dias de hoje; felizmente, Maisel pouco liga para a sociedade, ninguém além dela mesma está vivendo sua vida e enfrentando seus problemas e ela tem plena consciência disso.
(Maisel observando a fila de pessoas querendo pagar seus boletos, nossa, são muitas)
Não importa o que se fale, nenhuma palavra dita chegará aos pés do trabalho espetacular de todas as atrizes e atores desse seriado. Todos, sem exceção, fizeram papéis maravilhosos e impecáveis! Michael Zegen como marido de Midge conseguiu representar com maestria aquele tipo de homem que na mesma proporção em que é encantador e galanteador, é perverso e cruel. Tony Shalboub e Marin Hinkle interpretando os pais da protagonista não fizeram menos que Zegen como esposo; Shalboub conseguiu interpretar muito bem aquele pai que só não é ausente porque ainda coexiste no mesmo espaço e dá a sua opinião de vez em quando. A personagem de Hinkle, que interpreta a mãe, para nós, mulheres, pode ser um tanto quanto intragável às vezes, pois imagine, uma mãe, também mulher, também estando sujeita a passar pela mesma turbulência, não aceita e reluta de toda maneira a separação de sua filha, expondo e inventando mentiras para os colegas para que a filha não ficasse mal vista. A inversão de valores se não fosse trágica, seria engraçada, em que planeta “normal” é mais bonito inventar mentiras sobre a própria vida só para a sociedade não julgar, do que aceitar e seguir em frente acerca de certas situações em prol da própria felicidade?! 

Agora, uma salva de palmas para a dupla mais linda dessa série, Midge e Susie(!!!), que dá um banho de lição de moral naqueles que se acham superiores aos outros por quaisquer que sejam os motivos. Elas são a personificação dos opostos que se atraem. Não só a personalidade é completamente oposta uma da outra, mas a classe social, o estilo, o jeito de ver o mundo e tudo que você possa imaginar nas milhares de possibilidades de diferenças que possam haver entre duas pessoas,  mas nada fora suficiente para que as duas não fossem além da parceira profissional e construíssem uma belíssima amizade. 
Rachel Brosnahan, interpretando a nossa fantástica e Maravilhosa Sra. Maisel, já se faz insubstituível e faz-nos ficar vidrados na série nos primeiros segundos em que damos o play do primeiro episódio, acredite! Com toda a sua delicada acidez, ela nos faz mergulhar de forma totalmente sarcástica e irônica em seus próprios destroços; é aquele típico tipo de pessoa que amamos, que fazem piada dos próprios problemas mas o resolvem com bastante seriedade.

E claro, temos a Susie, interpretada pela fantástica Alex Borstein (que participou também de Gilmore Girls), gerenciando toda essa explosão de espontaneidade sarcástica da amiga. Alex é incrível, assim como Brosnahan, se faz insubstituível no momento em que a vimos. A escolha da atriz para esse personagem específico foi completamente feliz, pois conseguiu com muito primor dar toda a representatividade que exigia seu papel. Ademais, atrevo-me a dizer que Susie tem fortes referências de Oliver Twist, personagem de Charles Dickens, o que não é de se espantar, visto que em Gilmore Girls, Oliver Twist era um dos livros preferidos de Rory Gilmore (protagonista). Para quem conhece a história de Dickens essa informação pode ser bastante legal, pois as semelhanças realmente existem! Susie não diz ser órfã de fato, mas percebemos em como sua família é ausente, bem como as demonstrações de afeto dela a eles, percebemos isso devido aos nomes pejorativos que lhes atribuí. Além disso, toda a precariedade que a cerca, a começar por sua casa e higiene; seu figurino também é muito similar ao de Oliver e, se já não bastasse todas as referências, outro ponto muito parecido que vai além das características da própria personagem, é quando Susie se sente muito afortunada por ter uma amizade com Midge, assim como quando Oliver encontrou John Dawkins. 
Fora toda a importância e relevância social que a série possui, ainda visualizamos todas essas lições mergulhados na perfeição. Tudo na série é composto e harmonizado de uma forma tão perfeita, que muitas vezes não sabemos se prestamos atenção no que está acontecendo ou se ficamos admirando a fotografia, simetria, trilha sonora, as cores, atuações, figurinos, em como a produção foi fiel à época e não só em relação as locações, mas também em todos os objetos, acessórios e tudo que você possa imaginar. Muitas vezes você fica perplexo ao ver personagens produzindo diálogos completamente longos e se movimentando sem parar, e, quando você se dá conta disso já é tarde demais, tem que voltar alguns segundos porque você perdeu as falas enquanto estava perplexo olhando e pensando “como elas fazem isso?”. 
(Nessa cena, Midge e a amiga começam um diálogo rápido, longo e complexo enquanto malham fazendo movimentos completamente rápidos e ensaiados; é surreal e lindo de ver um trabalho tão bem desenvolvido!)
Maravilhosa Sra. Maisel é uma série que não merece somente ser assistida, mas sim, maratonada! Não só no Minha Visão do Cinema sua crítica é positiva, assim como em inúmeros outros portais cinéfilos. 1,1 ponto é o que separa a Sra. Maisel de um 10,0 no IMDb, isso mesmo, lá a série possuí 8,9/10! No entanto, aqui em nosso site a Sra. Maisel não merece nada menos do que 10(!!!!!!!!!), pois ela é de fato, Maravilhosa! E, como não seria, se além de tudo já mencionado, ela é uma personagem que representa todas as mulheres?

“Por que mulheres têm que fingir ser algo que não são? Por que temos que fingir ser burras, quando não somos? Por que temos que fingir ser indefesas, quando não somos? Por que temos que fingir culpa quando não temos nada com o que nos desculpar? Por que temos que fingir que não temos fome, quando estamos morrendo da fome? Fuck You.”

Título Original: The Marvelous Mrs. Maisel

Direção: Amy Sherman-Palladino

Elenco: Rachel Brosnahan, Alex Borstein, Luke Kirby, Tony Shalhoub, Gilbert Gottfried, Holly Curran, Jane Lynch, Marin Hunkle, Michael Nathanson, Michael Zegen

Sinopse: Se formar na faculdade, arranjar um marido, ter duas ou três crianças e um apartamento em Manhattan elegante o bastante para oferecer os melhores jantares de Yom Kippur: Miriam “Midge” Maisel (Rachel Brosnahan) não queria muito mais que isso. Mas a vida apronta para a jovem, e ela precisa depender do que mais consegue fazer bem. E a diferença entre dona-de-casa de elite e comediante stand-up num barzinho de hipsters não é tão assustadora assim.
Trailer: 

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Espero que tenha curtido a matéria! Não deixe que comentar o que você achou pelo menos da premissa, caso ainda não tenha assistido! Até a próxima!

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