Crítica: O Insulto (2017, de Ziadi Doueiri)


Guerras há alguns anos eram as maneiras mais fáceis de se resolver conflitos, seja econômicos, políticos ou sociais. Com o decorrer dos anos, esse tipo de confronto foi sendo trocado e os assuntos sendo resolvidos de forma mais pacífica. Isso é o nosso mundo conhecido atual, mas não representa todo o nosso mundo. Na Ásia Ocidental e suas regiões, guerras ainda existem, e mesmo algumas tendo acabado, a cicatriz de uma grande ferida é exposta, e dificilmente tratada por medo de criar outra mais profunda ainda. O Insulto é um poderoso e corajoso filme, falando sobre um dos maiores problemas sociais vividos por Palestinos e povos a sua volta.



A história mundial não nos faz mentir, conflitos por regiões ainda existem e dia a dia sendo noticiados, ou renovados, e quando à memória de uma geração aterrorizada por um outro povo permanece, o ódio se estabelece. Para os conhecedores, sabemos que no mundo do Sudoeste Asiático os Palestinos são pessoas odiadas, sendo um fruto de uma velha disputa onde ocupavam o lado de vilão. Apesar de muitos desses conflitos terem acabado, essa “vilania” vem sendo herdada de pai para filho.



Em O Insulto, acompanhamos a vida de um Libanês do partido cristão de seu país, na qual tem uma calha inapropriada para sua moradia, sendo assim, um capataz Palestino ordena a reparação da calha, e aí nasce um conflito que revela opiniões, xenofobias e ódio.

É fácil dizer que o roteiro desse filme surpreende, a fluidez que ele causa no desenvolvimento da obra, partindo de um faísca, até criar um incêndio, é exemplar por manter tudo de maneira focada e objetiva. Destacando cada ponto necessário para a continuação da história, e sem desfocar em nenhum momento, é algo extremamente plausível, a dificuldade de fazer isso é imensa, e esse filme a cumpre perfeitamente.







A direção é sem palavras, aliás, a dificuldade de gravar um filme desse em que mostra um conflito de uma ferida extremamente atual e “intocável” é um ato extremamente corajoso. E, ainda mais, a forma em que tudo se soluciona é mais corajosa ainda. Sensacional. Fora isso, o trabalho de guiar o espectador por toda a história é perfeito.

Dito isso, temos realmente um filme nota 10. Porém, apesar do final sensacional, o filme peca em algumas conclusões, nada que danifique o objetivo crítico e reflexivo do filme, o que é ótimo, mas como é um filme e tem personagens, há um peso. É fácil reconhecer que eles foram deixados de lado para um bem maior no final, porém, nada que vá danificar a experiência do espectador. Sem falar numa escolha de trilha sonora final que realmente não combina nada com o filme.


O Insulto é um filme corajoso que vai bem além do que aparenta propor, e por isso não só surpreende como também emociona. Não é militante, não é ativista, é um filme real, que trata de algo que aparenta ser incurável, mas a partir do seu raciocínio e diálogo mostra que para qualquer ódio, briga, ou guerra, tanto a tolerância como o respeito sempre serão possíveis e não utópicos.


Título Original: L’Insulte

Diretor: Ziadi Doueiri

Elenco: Adel Karam, Kamel El Basha, Rita Hayek, Camille Salameh, Diamand Bou Abboud, Christine Choueiri

Sinopse: Toni (Adel Karam) é um cristão libanês que sempre rega as plantas de sua varanda e um dia, acidentalmente, acaba molhando Yasser (Kamel El Basha), um refugiado palestino. Assim começa um intenso desacordo que evolui para julgamento com ampla cobertura midiática e toma dimensão nacional.


Trailer:






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