Crítica: O Artista do Desastre (2017, de James Franco)


Somos naturalmente sonhadores. Algumas vezes acordamos com vontade de fazer algo diferente e grande em nossas vidas, mas, logo deixamos de alimentar o que nos parece loucura pela falta de tempo para empenhar-se em fazer o necessário para que estes sonhos se concretizem. Parece triste mas, na verdade, não é. Está mais ligado ao nosso discernimento de saber exatamente no que somos bons e/ou temos chance de o sermos. E quando você tem o sonho, não necessariamente habilidade, mas, bastante ego e dinheiro para fazer aquilo se tornar realidade? 

Normalmente quando assistimos a um filme biográfico, estamos conhecendo a história de alguém que salvou a humanidade ou, mesmo com sua insanidade, mudou o rumo dela. E quando somos apresentados a histórias biográficas de pessoas que insistiram em não passar despercebidas nesta vida? Em O Artista do Desastre acompanhamos esta história. Tal qual em Florence: Quem é esta mulher?, aqui somos apresentados a um personagem, neste caso, Tommy Wiseau, que, ao lado de seu amigo Greg, sem encontrar muitas (ou nenhuma) oportunidades para se inserir no cinema, resolve criar, produzir e dirigir seu próprio filme, sendo o ator principal e escrevendo o segundo papel principal (interessante escolha do roteiro em fazer Wiseau chamar o papel de segundo principal e não coadjuvante), para seu amigo Greg.

A história por si só já parece um pouco de devaneio, mas, quando começamos a acompanhar a evolução dela na tela, a reação da sala como um todo é praticamente uníssona: inicia-se pelas risadas, que dão espaço para as gargalhadas e voltam para as risadas, sendo que, no fim, estamos entregues a uma certa melancolia por nos afeiçoarmos a uma pessoa que é incapaz de se afeiçoar ao mundo; note, por exemplo, quando Wiseau entrega a Greg uma caneta de presente com um pingente em forma de planeta (O Planeta de Tommy, onde todos se amam), o que expressa a vontade imensa que ele tem de ser amado e compreendido, ou, de minimamente levar a um mundo particular as pessoas que se aproximam dele.


E é neste ponto que O Artista do Desastre é magnífico. Com um roteiro adaptado que reconta uma história conhecida do público norte americano (e apesar de pouco conhecida para nós, aguardem os créditos finais para terem ideia da genialidade do filme), sobre os bastidores de The Room e um James Franco (127 Horas), que se não é um gênio na direção, entrega uma atuação que, em condições normais de temperatura e pressão, estaria na lista de indicados do Oscar.

Criar um personagem tão complexo e tão desconhecido de maneira tão enérgica é uma tarefa digna de atores como Meryl Streep e Gary Oldman. O grande risco de um papel como este, é que ele flerta com a caricatura. Um deslize sequer e o papel que, mesmo sendo engraçado, deve entregar sua carga dramática, poderia estar perdido. James Franco não sai da risca. Quando nos pegamos gargalhando, imediatamente encontramos um olhar sereno e que sequer faz ideia do porque as pessoas a sua volta, ou, as da sala de projeção (ou a do filme ou a que nos estamos) estão rindo. Repito: é uma composição digna de ser conferida. Mesmo que muitos torçam o nariz para Franco, temos que respeitar que um ator minimamente bom, consiga representar um ator extremamente ruim em tela.

Seu irmão, Dave Franco (Nerve: Um Jogo Sem Regras), não menos brilhante, entrega uma evolução relutante em tela que também chama atenção. Lembra uma atuação (e mensagem) muito sútil de Dakota Fanning em Uma Lição de Amor, sobre como as pessoas tem medo de evoluir quando se deparam com um carinho imenso por uma pessoa que as projetaram por saberem que se tornarão maiores que elas.


Aos amantes de cinema e sonhadores, vale bastante a pena conferir. Enquanto The Room se tornou um cult pelo filme bizarro que é, O Artista do Desastre, se tornou, por hora ao lado de Florence, dois filmes biográficos fora de série a respeito não só de seus personagens, mas, como muitas vezes mesmo não conseguindo atingir nossos objetivos da melhor forma, o reconhecimento pode acontecer, mesmo que seja da forma mais cruel e que, infelizmente, nós como platéia, estamos mais que acostumados a fazer.


Título Original: The Disaster Artist

Direção: James Franco
Elenco: James Franco, Dave Franco, Seth Rogen, Zac Efron, Josh Hutcherson, Jacki Weaver, Alison Brie, Ari Graynor, Bryan Cranston e Sharon Stone.

Sinopse: O aspirante a diretor Tommy Wiseau e o ator Greg Sestero se mudam para Los Angeles para alcançar o estrelato em Hollywood. Wiseau banca a produção de “The Room”, além de escrever, dirigir e atuar no filme. O resultado é controverso, com críticas negativas e se tornou um clássico cult justamente pelos seus defeitos.


Trailer:

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