Cinema & Vida Real com: Diorela Kelles

Para quebrar um pouco a rotina, o especial de hoje será um pouco diferente do que estamos acostumados a ver por aqui. Neste, temos a honra de vos apresentar a nossa querida convidada, Diorela Kelles.

A proposta dessa matéria “super diferentona” é ver qual a relação que nós, pessoas reais, temos com o cinema. E a Diorela, para nossa sorte e felicidade, aceitou participar e estrear esse possível futuro quadro aqui no Blog! 


Diorela mora na França, é formada em Comunicação/Publicidade e Direito e atuou diretamente nas duas áreas; hoje, atua como escritora e jornalista e trabalha com projetos de comunicação e divulgação jurídica. Ela tem projetos particulares que, em nossa sincera opinião, são extremamente extraordinários, isso porque ela deposita nesses projetos todas as verdades na qual acredita, que nada mais são do que visões, ideias e experiências de um mundo melhor para todos nós. 

Um desses projetos é o Direito é Legal, seu site e canal do YouTube, que foi feito para explicar e discutir questões ligadas à direito, democracia, Brasil, ética e constituição. Outro projeto é o Lawsumerism, onde ela traz uma visão de consumo consciente aliado à justiça e vice-versa. Diorela alia (com muita sabedoria, diga-se de passagem) as suas duas formações, entre outros conhecimentos, para fazer esses projetos maravilhosos e necessários. Todos os links para encontrá-la estarão ao fim da matéria.

Agora que já conhecemos um pouco a nossa convidada, vamos lá descobrir qual é a sua relação com o mundo do cinema, onde ela já começa pedindo desculpas! 

“Minha relação com cinema mudou muito e aqui já vou pedindo desculpas porque pode ser meio chato ler isso. Antigamente eu gostava muito de cinema e buscava assistir todos os clássicos, parecer uma grande conhecedora da área. Até que um dia me dei conta de que um filme significava pelo menos duas horas da minha vida. Se fosse um filme chocante, com cenas que me impressionassem muito, significava dias. Dias com aquela imagem na cabeça, com aquela sensação ruim, até com uma certa apatia. Quando era um filme bom, tudo bem, mas quando era ruim, me tirava muita energia. Cinema no cinema, o ato de ir ao cinema, ainda significava uma grana investida e uma discussão (no Brasil) de porquê um estudante universitário teria direito à meia entrada enquanto um recém-formado desempregado não? Enfim… dito isso, eu também tive a impressão que ir ao cinema era praticamente o único programa que eu fazia em Belo Horizonte fora de casa (além de ir para shopping e restaurante) e isso começou a me incomodar. Lembrando que esta é a minha experiência particular, comecei a ficar mais exigente com a ideia de ir ao cinema. Não fazia questão dos clássicos, e nem dos filmes que todo mundo gostava. Não queria mais ver qualquer filme. Mas ainda queria (e quero) ver alguns. Passei a ir no cinema com muito menos frequência e hoje, quando vou, na maioria das vezes, é realmente uma experiência deliciosa. Não é um programa banal para mim. No lugar de repetir este programa passei a pensar em muitos outros diferentes: caminhadas, visitar amigos e parentes, piqueniques, grupos de poesia, noites de crepes, encontros de cachorros, palestras, e descobri uma nova paixão (esta graças a morar numa das capitais do assunto), o teatro! O cinema, por ser ainda muito forte no cotidiano das pessoas, e também por ser uma ferramenta de comunicação muito complexa, tem grande poder de influência. Aí, é tanto de forma positiva quanto negativa. Algo talvez negativo que aconteceu com algumas pessoas foi uma certa alienação em relação às trocas amorosas. O cinema, por ser editado, e espetaculoso e divertido e sensual o tempo que quiser, cria a ilusão nos pobres mortais que uma relação amorosa terá grandes semelhanças com isso. Em alguns casos é um pouco patético ver como caímos nesse conto. Em outros pontos, o cinema também espetaculariza a violência, os dramas familiares, a guerra e até o suicídio. Obviamente que não acho que todo mundo que assiste um filme que glamuriza essas ideias se sinta tentado a vivê-las, mas sinto que desperta uns monstrinhos quando algumas pessoas já carregam esses monstrinhos. E não são poucos. Além disso, a guerra é uma grande, enorme indústria, principal fonte de renda da França, por exemplo (além de tantos outros). E o cinema como propaganda de guerra realmente me dá um nó na garganta e uma vontade de nunca mais dar dinheiro para isso.

Para falar bem desta arte, repito, o cinema tem o poder tanto de fazer mal, quanto de fazer bem. E quando faz bem, é sublime. Filmes são capazes de explicar esquemas que antes ninguém estava entendendo. Filmes são capazes de colocar em poesia cenas que precisamos ver. Podemos unir mundos e ideias num longa e num curta metragem. Dar finais diferentes para histórias reais. Denunciar e propor soluções. Podemos usar animação, efeitos especiais, slow motion, jump cut, luz, sombra, efeitos sonoros e criar esperança num mundo que está com sede de ser feliz. O cinema pode ser transformador em muitas esferas, tanto para quem assiste, quanto para quem o produz. É um trabalho árduo (já participei de uma oficina de cinema em Tiradentes!), e eu me pergunto: já que é para fazer este trabalho, por que não fazer algo que tenha sentido de colaborar com o mundo?”

Se pontos de interrogação pairam sobre a sua cabeça do porquê não decidimos estrear essa matéria com uma pessoa extremamente cinéfila, eu te conto o porquê. Simplesmente porque maioria das pessoas não são; e grandes clássicos muitas vezes ofuscam outras incontáveis histórias incríveis. Além disso, nosso intuito não era trazer para vocês alguém que fosse indicar clássicos que já estamos cansados de ver serem indicados, mas sim, obras diferentes que fazem muito sentido para alguém com pensamentos tão fortes e poderosos! 

Outra coisa que você deve estar se perguntando é “o que, então, essa menina assiste?”, bom, isso quem vai te contar é ela mesma. Confira abaixo as indicações de Diorela. 

(Os trailers de todos os filmes estarão no fim da matéria) 

“São tantos os filmes que eu admiro que fica difícil indicar tão poucos… (observe que comecei a entrevista questionando o cinema e termino morrendo de amores). Dois filmes me tocaram muito no último ano. Um é um documentário (aliás, de uns anos para cá, tem sido o que mais busco!), e outro é um filme que, pelo título, eu nunca iria ver. Vamos começar por este. Trata-se de Capitão Fantástico. Com esse título que parece ser filme de super-herói eu já tinha descartado a possibilidade de vê-lo, até que ouvi uma amiga comentando sobre e gostei das ponderações dela. Não era filme de super-herói. É na verdade uma história que eu nem concordo tanto, mas que traz diversos temas de debate e questionamento. Ou seja, não tenho que ver só aquela vida que concordo (olha a lição de moral aqui!), mas é legal ver um universo totalmente diferente, criado pelo cinema que te faz pensar sobre diversos pontos da sua vida que você nunca tinha pensado, como a forma de educar uma criança, a forma de se vestir e até o jeito de beijar na boca! Essa escapada da bolha que o filme permite é muito interessante. E, aliás, este filme fala algo que meu pai já comentava: “interessante” é uma palavra que não significa nada se você não explicar mais. Bom, eu já expliquei, né. Assiste esse!

O documentário que vou falar ficou bem conhecido e vou queimar a chance de indicar um filme novo com um filme que talvez você já tenha visto ou ouvido falar… Demain (documentário francês traduzido para “Amanhã” na versão em português) é o tipo de documentário que eu amo porque além de denunciar problemas estruturais do sistema em que vivemos, ele propõe as soluções e mostra quem já está fazendo diferente e conseguindo bons resultados. Fui duas vezes no cinema ver esse filme e levei um bloco de anotações para ir pontuando as ideias. Depois, descobri uma série de outros documentários com ideias semelhantes, que mostravam como mudar a forma como consumimos roupas, comida; como fazemos política, democracia, educação e economia; como produzimos energia e como lidamos com a comunidade ao nosso redor. Estes assuntos têm tudo a ver com o que trabalho hoje e com o que quero trabalhar amanhã (perceba o meu trocadilho, por favor). Foi um filme que me encheu de ideias e esperança. Era comum as pessoas aplaudirem no final, não por ser uma grande produção, mas porque mostrava que tem muita gente boa se unindo para melhorar as coisas para as gerações futuras. E a gente pode (e precisa) se unir também!

Por fim, quero só comentar aqui sobre um outro filme que você nem precisa assistir, aliás, ele nem é tão agradável de assistir, mas tem uma ideia muito genial e que me faz pensar como o cinema pode realmente dar uma sacudida na cabeça das pessoas sem ter que necessariamente chocar e colocar imagens ultra violentas e horrendas para todo mundo ver (eu sou do time da sutileza e da poesia na vida!). O filme chama Lobster e não sei se ele recebeu tradução em português ou ficou com esse nome mesmo, que significa lagosta, em todo caso. Talvez você não se interesse por ver um filme com esse nome (eu de novo), mas a ideia, vou contar rapidinho: o cara termina um relacionamento e vai para uma espécie de clínica de reabilitação onde você tem que arrumar outro parceiro/parceira em determinado prazo se não você vira um animal à sua escolha. A maioria das pessoas escolhiam virar cachorro (!), mas ele escolheu virar lagosta. Doido, né! O tipo da história que só pode existir na ficção mesmo, mas que traz um questionamento que considero importante para a nossa sociedade que, com certeza você já fez enquanto lia essa sinopse: Por que somos cobrados para vivermos em casal? E aí, eu vou concluir com o mesmo pensamento que tenho em relação à cinema. A ideia de cinema, ou da vida em casal, em si, não é boa nem má. É só uma ideia. Quando colocamos em ação é que pode fazer bem ou não. Por isso, o meu jeito de colocar o cinema na minha vida ficou muito mais criterioso e assim, muito mais prazeroso. Talvez para a outra opção também seja o caso.”

Outros títulos indicados pela convidada: Muito Além do Peso, A História da Democracia, Nouveau Monde, Ela, Quase Famosos, A Teoria de Tudo, Procurando Nemo, Aquarius, Adeus, Lenin, Sem Notícias de Deus, As Aventuras de Pi, O Alto da Compadecida, Pequena Miss Sunshine, O Jardineiro Fiel, O Oitavo Dia.

A experiência que eu tive entrevistando a Diorela foi magnificamente inspiradora, coisa que ela nunca fará ideia do quanto, e eu espero que, assim como foi para mim, seja para todos que estão lendo essa matéria até o final! 

Com isso, eu só espero que as palavras dela tenham sido fortes o suficiente para que pelo menos abra um campo importante e poderoso em suas mentes, a reflexão. E mais, reflitam sobre qual o papel do cinema e qual a importância dele em suas vidas.

Diorela, obrigada (mais uma vez)! 

Onde encontrá-la:




Trailers dos filmes indicados:

Capitão Fantástico

Demain

Lobster

Muito Além do Peso

A História da Democracia
(Documentário completo)

Ela

Quase Famosos

A Teoria de Tudo

Procurando Nemo

Aquarius

Adeus, Lenin

Sem Notícias de Deus

As Aventuras de Pi

O Alto da Compadecida

Pequena Miss Sunshine

O Jardineiro Fiel

O Oitavo Dia

Esperamos que tenham gostado da matéria e das indicações!

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