Crítica: Star Wars – Os Últimos Jedi (2017, de Rian Johnson)



Antes de mais nada, se você não compreende a importância desta saga para o cinema, leia esta nossa matéria aqui: Especial: Star Wars!
E leia nossas críticas dos filmes anteriores:

Poucas sagas do cinema tem uma comoção tão forte, uma fã base tão fiel, uma influência tão grande e uma importância tão fundamental no cenário da atual Hollywood, quanto a jornada dos Jedis. Mesmo em tempos em que os super-heróis são os filmes mais populares, a cada novo Star Wars, as obras lembram o porquê de seu forte nome. E não poderia ser diferente, afinal, a saga criada por George Lucas foi pioneira em trazer uma trama planejada que leva milhões aos cinemas, vende bilhões de produtos oficiais e que devido a isto, acabou mudando o cenário do cinema mundial para sempre. Se você tem hoje os seus filmes de heróis favoritos, agradeça a George Lucas e seu Star Wars, inclusive no âmbito visual, uma vez que a empresa de efeitos visuais Industrial Light & Magic é a maior de seu segmento, dando vida aos efeitos dos Vingadores, Liga da Justiça e assim por diante. Tal empresa foi fundada por Lucas após o sucesso do primeiro Star Wars. Contando com isto e a forte influência e sucesso com os últimos filmes (O Despertar da Força e Rogue One foram excelentes, cada um a seu modo), Os Últimos Jedi chega como o filme mais esperado do ano. E tamanha importância é suprida por excelência, em um capítulo ousado e resgatador. 



Não irei falar da sinopse, muito menos sobre grandes acontecimentos. Os Últimos Jedi é uma experiência para ser sentida na sala do cinema, e de preferência vá sem saber absolutamente nada. Irei aqui explanar apenas características técnicas que tornam esta, uma incrível obra. A começar pela montagem e edição. Neste quesito habitam alguns dos pouquíssimos defeitos da obra. Os dois primeiros atos (início e meio) possuem uma certa lentidão que podem incomodar a quem procura mais ação, além de alguns cortes que intercalam as cenas de ação, tirando brevemente a tensão das mesmas. De início, a fita não flui de maneira orgânica devido os fatores citados, enquanto que O Despertar da Força tinha um ritmo crescente constante, indo cada vez mais longe. Dito isto, partimos para o roteiro, onde temos um dos grandes trunfos da obra. É verdade que existem várias piadas nos dois primeiros atos, mas não chegam a atrapalhar. De umas 10, talvez só duas ou três deviam ser descartadas, sendo no restante, eficazes e pontuais, servindo como descarga de tensão em uma trama obscura. Mas todos defeitos citados (montagem e piadas excessivas) são superadas facilmente pelo restante, que é uma sucessão incrível de acertos. 

O roteiro aprofunda as personagens, dando sequência nas suas jornadas pessoais, algumas vezes ambíguas, possibilitando assim atuações inesperadamente maduras. Temos uma Rey impetuosa (e sua intérprete Daisy Ridley mais madura), sendo seduzida pela escuridão, enquanto Kylo está relutante (Adam Driver finalmente entrega um vilão obscuro e calculista, mas ainda humano), dando brechas para a luz. Esta ambiguidade nos heróis e vilões tornam a obra complexa e imprevisível, pois não sabemos que rumo pode-se tomar. E isto se repete nos ótimos coadjuvantes, cheios de base para suas ações, como por exemplo, o passado da nova personagem Rose. Poe (o competente Oscar Isaac) tem um crescimento e um aprendizado sobre a importância da revolta, enquanto que Almirante Holdo (a ótima Laura Dern) é uma adição de peso e representatividade feminina. Mark Hamill tem o papel de sua vida, com um Luke cansado e frustrado. Luke completa seu treinamento, enquanto o roteiro nos mostra um outro lado de ser Jedi: que ser uma lenda e ter poder pode ser uma fraqueza. E Leia Organa aparece competente, como o fator humanitário da trama. Ainda sobre Leia, é emocionante as homenagens feitas a sua intérprete Carrie Fisher (a atriz e a sua mãe faleceram ambas em Dezembro de 2016), através de diálogos poéticos que servem tanto para o filme, como para um adeus a atriz. Todos demais personagens aparecem bem colocados dentro da trama. Até mesmo os mascotes da saga são bem explorados: os veteranos R2D2, C3PO e Chewbacca são nostálgicos, enquanto que BB8 rouba a cena como um herói. E os fofos Porgs servem como o alívio cômico do filme, uma espécie de “Minions” para Star Wars. No geral, um belo trabalho de roteiro ao explorar motivações e um competente trabalho de direção de elenco, extraindo momentos impactantes do time que se tem em mãos. 


A direção de Rian Johnson ainda consegue apresentar uma realidade incrível nas cenas de batalhas, onde sentimos de fato a guerra que o título sugere. Sua câmera foca em momentos tensos sob ângulos interessantes, plano sequências de encher os olhos (nunca exagerados e longos demais) e onde, dependendo do personagem em cena, temos ângulos sob pontos de vistas diferentes. O uso da computação (CGI) é perfeito, criando cenários belíssimos que nos fazem viajar  para o lugar. A fotografia é belíssima, com momentos contemplativos. Mas o mais surpreendente ainda é o cuidadoso trabalho de figurino, direção de arte e iluminação, que elevam o visual do longa a um nível não visto antes. Por exemplo, a Primeira Ordem sempre é representada pelas cores vermelho e preto, enquanto que os Rebeldes são cores claras e pasteis, como branco, bege e marrom. Conforme um lado está em cena, as cores das paredes, roupas, chão e utensílios os representa. A cena do duelo entre Rey e Kylo contra os guardas de Snoke enche os olhos, pois além da coreografia de lutas simular as tradições samurais, os tons de vermelho e preto deixam um belo contraste, tornando tudo muito artístico. Tal referência aos samurais resgata o estilo dos filmes originais, pois o próprio George Lucas já falou que o filme original surgiu como uma homenagem aos faroestes e épicos japoneses. Até o R2D2 e C3PO são uma homenagem ao clássico A Fortaleza Escondida, de Akira Kurosawa. Assim mantém-se o espírito básico da franquia, ao contrário do que muitos irão dizer sobre as mudanças. Outro momento a se destacar é a batalha final, onde determinado planeta que tem uma superfície branca, possui abaixo um sal vermelho. Conforme a batalha avança, o sal vermelho salta, como uma pintura em uma tela branca. Isto é cinema de qualidade, onde apesar de termos ação para empolgar o público, temos nitidamente um cuidado artístico impecável.


Star Wars – Os Últimos Jedi é um filmão completo, que nos leva em uma empolgante e emocionante viagem por duas horas e meia. Temos diversão, ação eletrizante e realista, um drama sólido, momentos de arte, um bom elenco, direção que tenta fugir do óbvio e um cuidado visual impecável. Também temos metáforas à vida real, com filosofias que questionam a política, a religião e a busca por conhecer a si mesmo. Consegue-se aqui um equilíbrio muito difícil de retomar à atmosfera densa de o Império Contra-Ataca e elementos dos filmes originais, ao mesmo tempo em que se aposta em novos horizontes. Mesclando este respeito pelo clássico e esta visão questionadora para o futuro, temos neste filme o equilíbrio da força, por assim dizer. É muito interessante como constrói-se uma subversão do que já conhecemos, como que mudando as regras do jogo. Mas por mais complexa e intrincada que personagens e trama se encontrem, temos o alívio, a chama da esperança, de maneiras sutis e belas. Mesmo já quebrado recordes de bilheteria, o longa não irá agradar a todos. Mas por um lado isto é bom, Star Wars nunca foi para qualquer um. Este é um filme poderoso, uma das obras mais surpreendentes do ano, melhor blockbuster de 2017, um exercício metalinguístico dentro do cânone da franquia e a prova do porquê desta ser um dos pilares do cinema moderno. 




Título Original: Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi

Direção: Rian Johnson

Elenco: Adam Driver, Andy Serkis, Anthony Daniels, Benicio Del Toro, Carrie Fisher, Daisy Ridley, Domhnall Gleeson, Gwendoline Christie, John Boyega, Kelly Marie Tran, Laura Dern, Lupita Nyong’o, Mark Hamill, Oscar Isaac, Amira Ghazalla, Billie Lourd, Danny Sapani, Edgar Wright, Frank Oz, Gareth Edwards (II), Gary Barlow, Jimmy Vee, Joonas Suotamo, Joseph Gordon-Levitt, Justin Theroux, Kate Dickie, Lily Cole, Matthew Sharp, Mike (I) Quinn, Noah Segan, Peter Mayhew, Prince Harry Windsor, Prince William Windsor, Ralph Ineson, Simon Pegg, Tim Rose, Tom Hardy, Veronica Ngo, Warwick Davis.
Sinopse: Tendo dado seus primeiros passos no universo Jedi, Rey se junta à Luke Skywalker numa aventura com Leia, Finn e Poe que revela os mistérios da Força e os segredos do passado.

Trailer:








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Que a força esteja com todos nós.

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