Crítica: O Filme da Minha Vida (2017, de Selton Mello)

Com o passar do tempo e a cada filme brasileiro lançado, nota-se que a indústria cinematográfica brasileira está crescendo cada vez mais, e para melhor. Os filmes nacionais, quando muito bons, são rodeados por comentários do tipo “é o filme menos brasileiro já visto”, como quem quer dizer que o filme está tão bom que é quase impossível ou inacreditável que tenha sido feito por brasileiros. Como se brasileiro não fizesse nada de bom, ou nada que merecesse ser comparado a nível internacional. Essa introdução serve só para dizer que O Filme da Minha Vida é um filme que enriquece e valoriza o cinema brasileiro. É um filme que faz com que muitos filmes internacionais não cheguem aos pés de muitos brasileiros. 

Johnny Massaro (Filhos da Pátria, A Frente Fria Que a Chuva Traz) dando vida a Tony Terranova foi sensacional, não dá para saber se outro ator conseguiria ter e fazer um olhar tão poético mediante à vida, a sua vida. Não dá para imaginar algum outro ator cabendo tão bem a este papel, conduzindo-o com tanta delicadeza, conseguindo ser, sentir e dizer tanto, mesmo sem dizer ou fazer nada. Selton Mello (Meu Nome Não é Johnny, O Auto da Compadecida, O Palhaço) além de diretor, também tem sua aparição no filme, dando um show na interpretação de Paco, aquele típico e característico homem durão de interior, amigo da família – ou nem tão amigo assim -, que é casca grossa só por fora, mas por dentro é coração mole. Luna, que a princípio não dá para saber ao certo o que sente por Tony e vice-versa, ganha vida através de Bruna Linzmeyer (A Força do Querer, A Frente Fria Que a Chuva Traz, As Brasileiras). Vale a pena ser mencionado, que a atriz conseguiu demonstrar com maestria em sua atuação todos os sentimentos confusos que alguém pode estar sentindo, e que, embora ainda uma menina, estava disposta a amar, a cuidar e sofrer. Sua infantilidade e ingenuidade vez ou outra não faz duvidar em momento algum de que sempre esteve pronta para o que a vida adulta estava lhe trazendo. Por último, não se pode deixar escapar os dizeres sobre Vincent Cassel (Cisne Negro, A Bela e a Fera, Joana D’arc), interpretando Nicholas Terranova, pai de Tony. Cassel foi muito bom em trazer uma personalidade de pai muito amável enquanto presente, e muito cruel com todo seu silêncio e ausência. Conseguiu trazer sufoco e mistério, sensações que as atitudes de seu personagem fazem o telespectador ter praticamente 80% do filme. 


O filme pode conter furos caso você precise e prefira que a história te explique e te mostre o tempo todo o que está acontecendo e porquê algo não está acontecendo, e, pode não conter furos caso você não se importe de não ter tudo mastigado, de ter que interpretar um pouco mais a história, de ter que pegar os acontecimentos na sutileza e, até mesmo, fantasiar um pouco, ir além do que o filme está lhe mostrando. Ou seja, percebe-se que, nesse filme, a questão dos “furos no roteiro” está mais para uma questão de ponto de vista. De como quem está vendo sente e analisa o filme. Aliás, acredito que a segunda opção foi a intenção de Selton Mello, afinal, não é um filme bobo com uma história boba. É um filme poético mostrando uma história densa. 


Não tem problema quem prefira ter algo mais certo do que está acontecendo, quem prefira que em 1 hora de filme explique e mostre exatamente o porquê do personagem ter tomado tal atitude ou falado tal coisa em 30 minutos de filme. Porém, essas pessoas poderão ter problemas quanto ao final do filme, que dá margem para interpretação. Já o outro grupo de telespectadores, pode-se arriscar dizer que costumam não ter problema com isso devido a simpatia com a história, identificação. Por se colocarem no lugar do personagem e imaginarem que são eles ali, e o que gostariam que acontecesse e como agiriam se fossem eles vivenciando tal situação. Mas, independente do grupo a que você se encaixa, vale a pena conferir essa obra-prima brasileira!  


É muito certo que todo filme tem um público alvo, por esse motivo, um único filme pode ser amado por muitos e odiado por poucos, e vice-versa. Talvez esse filme tenha seu público alvo naqueles que sofreram e sofrem com a ausência de um pai, e, principalmente e especialmente, de estarem crescendo, amadurecendo, tornando-se homens sem sua principal figura de exemplo e melhor amigo, o pai. Não que quem não passe por isso não gostará do filme, mas terá que ter empatia o suficiente para compreender toda a poesia da história. 
Uma das coisas que fazem o filme tornar-se ainda mais impressionante, é a fotografia. A cada momento em que aparece um rosto, é como se fosse um retrato, mas não somente uma cena bonita que daria uma foto… O filme tem um sistema que é dar foco principalmente nos rostos que estão em silêncio, mas seus olhares e gestos são completamente expressivos, cheio de sentimentos, de pessoas que dizem tanto através de seu silêncio.  

Para fechar com chave de ouro e fazer envolver-nos ainda mais, a trilha sonora não deixou a desejar em momento algum! Tivemos músicas brasileiras, francesas e americanas. Fechando magistralmente o pacote completo de filme brasileiro sensacional – vivi para ver Nina Simone de trilha sonora em filme nacional -. 

Se o telespectador for um pouco mais a fundo, perceberá que apesar das qualificadoras de um filme bom e bem feito, imaginar pessoas reais vivendo histórias assim ou parecidas, nos fazem ao menos refletir em tudo que somos, em tudo que idealizamos, em tudo que almejamos. Nos faz pensar na nossa existência, na nossa vida, no próprio filme da nossa vida.

“Antes, eu só via o início e o fim dos filmes. O início para conhecer a história, e o fim… Eu já não posso contar.”

Título Original: O Filme da Minha Vida

Direção: Selton Mello

Elenco: Antonio Skármeta, Bia Arantes, Bruna Linzmeyer, Érika Januza, Johnny Massaro, Martha Nowill, Miwa Yanagizawa, Ondina Clais Castilho, Rolando Boldrin, Selton Mello, Vincent Cassel.

Sinopse: Serras Gaúchas, anos 60. O jovem Tony Terranova precisa lidar com todas as questões que a transição de menino para homem implica juntamente com a ausência do pai, que deixou a ele e a sua mãe do dia para a noite. Professor de francês no colégio da cidade, ele se vê às voltas com seus alunos adolescentes. Apaixonado pelos filmes que vê no cinema da cidade grande, Tony faz do amor e do cinema suas grandes razões de viver. Até que a verdade sobre seu pai começa a vir à tona e o obriga a tomar as rédeas de sua vida. 

Trailer:


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Até a próxima!

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