Crítica: O Culto de Chucky (2017, de Don Mancini)







Nos anos 80, o primeiro filme de Chucky, intitulado Brinquedo Assassino, foi um marco no cinemão popular, especialmente para os amantes do terror. A trama trazia dois elementos comuns para quem curte o gênero: um serial killer típico de filmes slashers, na onda de  sucessos como Sexta-Feira 13 e Halloween; e brinquedos/bonecos assassinos, um estilo que bombou no fim desta década e nos vindouros anos 90 (vide O Mestre dos Brinquedos). O longa alcançou grande sucesso de público e uma relativa aceitação com a crítica. Uma obra classe B que por não se levar a sério, brincou com a plateia e trouxe algumas cenas de terror interessantes. Tamanho sucesso obviamente trouxe continuações: um segundo filme tão bom quanto o original e um terceiro levemente inferior, mas respeitoso. Corta pro fim dos anos 90 e em uma retomada no gênero, A Noiva de Chucky trouxe um quarto filme, bastante regado na comédia e em críticas a indústria cinematográfica (na onda da saga Pânico). O filme é bobo e quase trash, mas diverte e tem interessantes easter eggs com outros icônicos assassinos, como o Jason. Nos anos 2000, o quinto longa veio como O Filho de Chucky, que diminuiu ainda mais o terror e trouxe em dobro a comédia e as críticas aos bastidores de Hollywood, no pior filme da saga, embora levemente divertido e descerebrado. Eis que em 2013, numa outra nova onda de retomadas de clássicos, A Maldição de Chucky foi o primeiro filme a não passar nos cinemas, mas ter um lançamento limitado e direto em DVD e plataformas online. Como grata surpresa, o filme trazia uma atmosfera mais séria e tensa, mais próxima aos dois filmes originais. Foi sucesso inesperado, o que garantiu mais um filme.



Eis que chegamos em 2017, com este O Culto de Chucky, sétimo longa da franquia, que continua exatamente onde o anterior parou. E novamente, o criador da franquia  Don Mancini, entrega um resultado nunca incrível, mas satisfatório. Um dos acertos é o roteiro. Vamos deixar claro: é um filme B de terror cujo boneco mata pessoas, logo é improvável termos um roteiro sisudo e estruturado. Por isso, obviamente o filme não agradará o cinéfilo exigente que procura filmes “oscarizados”. Mas, dentro da proposta de entreter, O Culto de Chucky tem como trunfo não se levar a sério demais, tirando sarro com a franquia, consigo mesmo e com o elenco, mas sem deixar de homenagear eles mesmos, tendo um interessante exercício metalinguístico. A exemplo, temos a participação de Jennifer Tilly (que dá voz a Tiffany, a noiva de Chucky). A moça não apenas interpreta ela mesma, como faz referências a isso e à boneca na qual faz a voz. Não são referências escrachadas, mas divertidas o suficiente para quem acompanhou os filmes antigos. É bacana vermos o retorno do menino Andy agora crescido (dos filmes originais), juntamente com a protagonista do último filme, Nica. Interessante também que Nica é interpretada por Fiona Dourif, filha de Brad Dourif (o icônico dublador de Chucky em inglês). Há várias cenas e participações de referências e humor negro, descontraindo e tirando sarro com o público.



Por outro lado, o roteiro apresenta um probleminha de não saber muito bem para onde ir, atirando para todos os lados com várias personagens e ideias. Com um curto tempo de exibição, acaba sendo rápido demais e soando incompleto, vide o rápido final, que deixa um gostinho de que faltou algo e de “quero mais”. As atuações estão como devem ser: ruins e canastronas, propositalmente. Esta é mais uma prova da autoconsciência que os produtores do filme tem. O diretor Don Mancini consegue entregar uma direção ok, derrapando em alguns momentos, mas indo bem em outros. O trabalho em cima dos bonecos é interessante, mesclando manipulações práticas à moda antiga, com um pouquinho de computação nas expressões deles. Sábia decisão de usar bem pouca computação e mais bonecos e fantoches. Tais artifícios físicos, além de nostálgicos, dão uma sensação mais palpável, enquanto que o uso exagerado de CGI neste tipo de filme, aumenta em muito a superficialidade do mesmo. 

O Culto de Chucky é um filme bobo, beira o trash, não se leva a sério, tem momentos canastrões e só é recomendado para um nicho específico: quem gosta de filmes propositalmente ruins, e por esta despretensão, acabam divertindo. Falta-lhe um pouco de força no final, poderia ser algo memorável se tivesse uns 10 minutos a mais com mais terror e coragem de fazer certa coisa (não citarei o quê para evitar spoilers). Mas é um passatempo divertido, que pode surpreender a quem espera uma bomba total. A franquia é levada a algo maior, um outro patamar. E se este filme for bem recebido pelo público (já que parte da crítica já o aprovou), pode encomendar um oitavo capítulo continuando a trama. Dado o final deste filme, agora mesmo que não compro bonecos. Vai saber se um deles …




Título Original: Cult of Chucky


Direção: Don Mancini


Elenco: Jennifer Tilly, Fiona Dourif, Michael Therriault, Zak Santiago, Brad Dourif.


Sinopse: após investigações, a polícia ficou convencida de que foi Nica Pierce (Fiona Dourif) que assassinou brutalmente sua família, quando na verdade o crime foi cometido pelo famoso boneco assassino Chucky. Agora no manicômio e acreditando que se livrou do mal, a jovem nem imagina o que sua psicóloga pretende lhe dar como presente.

Trailer:




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