Labirinto: A Magia do Tempo. Especial 30 anos


“It’s only forever. 
Not long at all.”
“É apenas para sempre. Não é muito tempo.”



Quando penso em um filme que me marcou a infância, com certeza tenho que citar Labirinto: A Magia do Tempo. No ano passado, este clássico completou 30 anos.

Não tenho nem como falar o quanto este filme influenciou minha vida, desde a trilha sonora, com destaque para As the Word Falls Down (trilha sonora da minha vida) do Incrível cantor David Bowie,  à história que poderia ser considerada um conto de fadas diferentão. Sou super fã do filme, afinal, quem não é da década de 80 que não lembra do cabelo à lá Chitãozinho e Xororó de Bowie e os chavões clássicos de filme da época, músicas temas, duendes, fadas, cristais e labirintos.


Como além do filme, li a também a adaptação do livro, algumas das ideias que vou citar não estão no filme, já que na novelização, o diretor Jim Henson acrescentou cenas que foram deletadas ou pensamentos que estavam no subconsciente dos personagens. 


Se você ainda não assistiu ao clássico ou não leu o livro, recomendo que assista e leia o livro antes de ler ao especial, ou aperte os cintos que lá vem texto recheado de spoiler! 

 O enredo se dá em torno da adolescente e aspirante à atriz, Sarah Williams (interpretada pela linda Jeniffer Connely), que sente que nada na sua vida é justo, aliás ela sempre repete esta frase no filme, já que tem viver com seu pai e sua madrasta e ainda tem que dedicar uma parte de seu fim de semana cuidando de seu meio-irmão Toby.


Sarah, de acordo com o livro de Henson, treina falas de uma peça homônima ao filme, para atuar como sua mãe, que é atriz e abandonou sua família para viver um romance extra-conjugal com um ator famoso, chamado Jeremy. (Note-se : Jeremy é David Bowie, já que em uma cena de seu quarto, no espelho, existe uma foto com o ator e sua mãe), aliás todos os personagens que aparecem no filme, estão representados no quarto de Sarah, em forma de easter eggs, como as influências do filme como livros do Mágico de Oz, Alice no País das Maravilhas entre outros.

Sarah se espelha no romance de sua mãe e de um atro de Hollywood como ideal, quer seguir a carreira da mãe e creio eu, vê Jeremy como alguém sedutor, em que ela se inspiraria como referência de um amor platônico como temos pelos nossos ídolos.
  


Cansada de ser tratada como uma adolescente sem graça, ao ver que seu pai e sua madrasta a deixam sozinha cuidando de seu irmão, ela sente-se tentada à utilizar uma façanha da peça que esta lendo, e convoca o rei dos duendes para levar seu irmão embora e transformá-lo em um duende.  

Eis que surge o Rei dos Duendes, e atende seu pedido. Sarah, então logo se arrepende de sua solicitação, mas não há volta. Jareth, diz a ela que ela terá que enfrentar um Labirinto em 13 horas, se quiser trazer seu irmão novamente para casa.


Sem escolhas, Sarah se vê em meio à uma aventura forçada, onde “nada é o que parece ser”. E esta é uma lição valiosa que ela vai aprender durante sua jornada. Que é muito além de uma história de princesa, é a “jornada do herói” que é dividida em três seções: Partida (às vezes chamada Separação), Iniciação e Retorno.


“A Partida lida com o herói aspirando à sua jornada; a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho; e o Retorno é o momento em que o herói volta a casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada.”

Acredito que por isso Labirinto tornou-se um marco. Além do contexto lúdico, há também a história em que a protagonista enfrenta o Labirinto de sua mente na adolescência, conflitos, medos, experiências e depois de tudo, ela transita para a fase adulta, com alguns de seus problemas conflitados. 

Uma das frases impactantes do começo do filme é: “Aqui nem tudo é o que parece ser...” E esta frase a seguirá durante sua aventura, pois mesmo em nossa vida, se enfrentarmos nossas batalhas, nada é tão complicado quanto parece. 
No filme e no livro, vemos as coisas sobre a perspectiva de Sarah, então não sabemos muito o que acontece na cabeça de Jareth, mas acreditamos que apesar de ele fazer de tudo para atrapalhar a jornada da protagonista, não é alguém realmente cruel, apenas alguém que dá atenção a Sarah, atenção, que segundo o livro, ela gosta e aliás o acha muito bonito. (Esta é uma das aflições de quem assiste ao filme, será que ela gosta dele?)


Durante sua aventura, a adolescente conhece vários personagens que também tem conflitos e são carentes, a maioria a ajuda em seu destino, mas há também os que tentam fazer ela desistir, ter medo e voltar para onde veio e esquecer seu objetivo. Mas ela está focada em encontrar seu irmão. Aqui vemos o senso de responsabilidade da protagonista em tentar se conectar com seu irmão.

Todos os personagens secundários são igualmente cativantes e humanos. Hoggle, que a guia durante uma parte do Labirinto, Sr. Dydymus, um cãozinho guerreiro e Ludo, um monstro grande de chifres e peludo, mas muito meigo.  A magia destes personagens é que eles são Muppets, bonecos manipulados por pessoas e alguns, com movimentos eletrônicos. Os efeitos especiais neste filme são mínimos e isso que torna o filme atemporal e especial.

Outra frase importante durante a jornada de Sarah é: O caminho adiante, às vezes é o caminho para trás”. O que pode significar que se não conseguimos conquistar algo, provavelmente precisamos resolver conflitos do passado, então, para seguirmos adiante, devemos resolver o que ficou lá atrás.

Jareth, durante todo o tempo a acompanha, tenta algumas vezes, alterar a realidade para que ela esqueça do seu mundo e que viva no mundo de contos de fada. Para isso, solicita que o zelador de seu labirinto, Hoggle, dê uma fruta, que altera sua realidade e memória, e temos então, a cena mais lembrada do filme.
Sarah se imagina em um tipo de sonho, que está em um baile à fantasia no estilo veneziano, ao som do tema do filme As The World Falls Down, escrita, como grande parte da trilha do filme pelo próprio David Bowie.


No livro, conta que ela não sabe muito bem o que esta fazendo neste baile, as pessoas à olham com olhares lascivos e que a deixa incomodada, isto acontece muito na idade em que a protagonista se encontra, com 15 anos, geralmente as meninas chamam a atenção de pessoas mais velhas e se não forem bem orientadas, podem ser levadas à falsas promessas de popularidade ou mesmo de sedução. 


Não querendo tirar a magia do filme, aqui, creio eu, que o diretor também quis fazer uma clara menção à denúncias de pedofilia, e abusos por parte de diretores que alguns atores sofrem em grandes festas de Hollywood. 



Neste momento em específico do livro Sarah busca Jareth em todos os cantos e quando o encontra ele a retira para dançar.  Jareth então, murmura no ouvido de Sarah que ela precisa confiar nele que ele realizará seus sonhos. Há uma grande relação com outra cena do livro em que Jeremy dança com ela em seu aniversário de 15 anos e diz que ela deve seguir seus sonhos à qualquer custo para se tornar uma atriz. 

Esta cena que imaginamos que seria o momento em que se beijariam (apesar da diferença gritante de idade entre os dois atores – Jeniffer Connely na época com 14 anos e David Bowie com 39 anos) porém na trama, Jareth é um FAE (Elfo), um ser místico imortal, então, fazia sentido ele ser mais velho que ela.

Aqui no livro, quando Jareth esboça uma tentativa de beijo, ele repara que todos os participantes do baile começam a encara-la, a julgando, então ela sente uma repulsa, empurrando ele e lembrando do que ela realmente foi fazer no labirinto. Sarah, então, quebra seu sonho e cai de volta na realidade. (Este é o momento que eu mais tinha angústia. Porque ela não beijou ele? Porque ela quis sair daquele sonho fantástico?).


Logo depois de cair do sonho, literalmente ela desaba em cima de um lixão, onde ela não se recorda o que está fazendo e então encontra uma senhora duende que tenta a convencer que lá é seu lugar… ela então lhe entrega objetos de sua infância e Sarah após titubear a enfrenta falando que lá não é o seu lugar e que os objetos são apenas lixo. Esta frase é muito emblemática, porque em nossa adolescência queremos guardar tudo, desde papel de bala à bichinhos de pelúcia e isto não é o mais importante se queremos crescer. 

Então ela retoma sua jornada em busca de seu irmão.   

Sarah reencontra seus amigos e continua a jornada em busca de Toby. Porém, após uma guerra contra os duendes do castelo, ao ir em busca de seu irmão, Sarah dispensa seus amigos e diz que a batalha final tem que ser feita sozinha. “Porque assim que é em todos os livros… e assim que tem que ser”.

Sarah, então, dá de cara com seu maior desafio: Jareth, que se encontra aparentemente mais envelhecido e nos dá a idéia, que de repente, ela se deu conta da diferença de idade dos dois. Jareth se demonstra apaixonado pela adolescente que conseguiu resolver os enigmas de seu Labirinto.

Jareth e Sarah tem os diálogos mais emblemáticos do filme: 
“Jareth: Sarah, cuidado. Eu fui generoso até agora, mas posso ser cruel.

Sarah: Generoso? O que você fez de tão bom?
Jareth: Eu fiz tudo! Tudo que você quis, eu fiz. Você pediu para criança ser levada e eu levei. Se acovardou diante de mim e eu fui assustador. Reorganizei o tempo. Virei o mundo de cabeça para baixo, e fiz tudo isso por você. Estou cansado de suprir suas expectativas sobre mim. Isso não é ser generoso?
Sarah: Através de perigos indizíveis e inúmeras dificuldades, eu lutei para chegar aqui, até o castelo da cidade dos goblins. Porque minha vontade é tão forte quanto a sua…
Jareth: Pare… Veja aquilo que lhe ofereço… Seus sonhos. Eu te peço tão pouco. Deixe-me guiar você e vai poder ter tudo aquilo que quiser. Tenha medo de mim, me ame, faça o que eu digo e eu serei o seu escravo.
Sarah: Você não tem poder sobre mim.
Ao abandonar seus sonhos e não aceitar a proposta de Jareth, Sarah, volta para sua casa, e vê que seu irmão está bem. E então se torna adulta, ela consegue decidir por sí e enfrentar qualquer pessoa que possa ter alguma influência em sua vida por mais tentador e sedutor que possa parecer.


Ao final do filme, Sarah se olha no espelho e guarda as fotos de sua mãe e Jeremy, sua caixinha de música, como que dizendo para sí mesma que é hora de parar de sonhar e viver sua realidade.
Então ela vê novamente os personagens de sua odisseia e diz à eles que sentirá saudades, que precisará deles de vez em quando, por nenhum motivo. Vemos então que ela entende que ela cresceu, mas que algumas vezes ela poderá revisitar sua infância, como todos fazemos, como eu estou fazendo agora escrevendo esta resenha.


A fotografia do filme, sem muito efeito especial é mágica, a trilha instigante e o figurino é deliciosamente encantador.


Labirinto com certeza tem um grande papel em minha vida e me fez ver que a “mocinha” nem sempre é frágil ou o “vilão” é tão poderoso como se imagina. Que devemos sempre ir atrás de nosso objetivo, sem ceder às falsas tentações, e que por mais sedutor que seja, temos que saber os nossos limites e saber dizer não em um relacionamento. Além da influência de Bowie, com seu “Vilão Heróico”, suas calças justas e sua personalidade andrógina ambígua.



E ao que tudo parece, teremos uma sequência já sendo feita para os próximos anos, dirigida por Fede Alvarez .

Título Original: Labyrinth


Direção: Jim HensonDennis Lee

Elenco:  David Bowie, Jennifer Connelly, Christopher Malcolm, Frank Oz, Warwick Davis, Kenny Baker, Brian Henson

Sinopse: Frustrada por ter de cuidar do irmão caçula enquanto seus pais estão fora, a adolescente Sarah sonha em se livrar da criança, que não para de chorar. Atendendo seu pedido, o Rei dos Duendes, personagem de um dos livros de Sarah, ganha vida e sequestra o bebê. Arrependida, a menina terá de enfrentar um labirinto e resgatar o irmão antes da meia-noite para evitar que ele seja transformado em um duende.

Trailer:

Bônus:

Música Tema: As The World Falls Down – David Bowie

GALERIA DE IMAGENS:







E você? assistiu Labirinto? O que te faz recordar? Queria que Jareth e Sarah tivessem se apaixonado? Comente e não se esqueça de curtir e compartilhar! 🙂

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