Crítica: Attraction (2017, de Fedor Bondarchuk) Ficção Científica com Crítica Social Russa




Em 2017, o cinema russo decidiu sair da tumba no quesito blockbuster, entregando produções que visam o grande público, com longas carregados de ação, efeitos especiais e tramas hollywoodianas, visando altas bilheterias. Depois do mediano Os Guardiões mirar nos super-heróis (crítica aqui!), chega a vez deste Attraction (Atração em tradução literal), que vem como uma ficção científica de duas mãos: tanto uma invasão alienígena (Guerra dos Mundos), como uma distopia romântica adolescente com críticas sociais (Divergente). Será que conseguiu se sair bem?

Devo começar dizendo que o trailer engana, pois o mesmo esconde o romance e drama adolescente tão presentes na fita. Assim sendo, pode ficar um gostinho de decepção em quem esperava muita ação e efeitos especiais, já que os mesmos estão presentes em pouca escala. Outra coisa que incomoda é o próprio drama adolescente afastar a quem procura algo mais sério e maduro, definitivamente não é para todos os públicos. Algumas piadas e criação de romance não são muito bem certeiras, servindo de anticlímax e tirando um pouco da força do roteiro. Assim, com um texto roteirizado de tal modo que apresenta uma situação, mas sem aprofundar muito as personagens, seus dilemas acabam não causando tanto impacto. Embora algumas questões bem sérias e atuais sejam citadas, tais são apenas “pinceladas”, não aprofundando-se nisso, o que é um erro diante o potencial discurso político da obra.



Agora, dentre os pontos positivos, podemos dizer que o filme seria uma A 5° Onda, porém melhor feito. Temos algumas atuações interessantes, especialmente Irina Starshenbaum. Sua personagem começa irritante, mas na metade final consegue passar uma carga dramática interessante (note: não incrível, mas interessante para a proposta teen). O veterano Oleg Menshikov entrega um papel militar clichê, mas ok. Alexander Petrov começa chato, mas no final entrega um lado anárquico e vilanesco aceitável, propositalmente cartunesco. O grande ponto fraco fica por Rinal Mukhametov ser um alienígena heroico muito fraquinho, sem expressões marcantes, embora isso seja proposital da trama (veja e entenderá). Mas ficou robótico demais, embora renda umas cenas cômicas funcionais.

O grande acerto da obra fica pelas críticas sociais que ele carrega, com relação ao governo russo ser extremamente parcial. Isso é corajoso, já que o país vive um momento delicado, com um governo bloqueando diversos tipos de conteúdos, religiões e culturas. O filme explora um pouco este lado totalitário que a Rússia anda pregando novamente. Apesar do romance teen ser desnecessário, o lado conturbado das manifestações, o estilo e atitude problemático dos jovens e as turbas urbanas são bem retratadas. O final explora bem este lado. Lembra do estilo anárquico dos jovens escoceses no clássico cult Trainspotting? De alguma forma, há um padrão parecido aqui neste filme, mudando apenas o país. Muito interessante também, é a metáfora com relação a como o governo e a nação tratam os refugiados estrangeiros. A apatia e o preconceito geram caos e sofrimento, fechando portas e tirando espaço para a humanidade e relações entre países.



Outro grande acerto é seu visual e trilha sonora. Se as canções e faixas eletrônicas dão o tom das atitudes intensas dos jovens e da trama de ficção (algo comum em filmes deste país), o visual é belíssimo. Além da bela fotografia, majoritariamente azulada, com lentes frias, o CGI usado nas cenas de computação gráfica é de primeira linha, ao contrário do que foi criticado no já citado Os Guardiões. A nave possui um movimento não linear belíssimo. Os trajes aliens são interessantes, as cenas de ação (que são poucas), são muito bem dirigidas. Destaque para uma excelente perseguição no final. Há feixes de luz refletindo e brilhando o filme todo, contrastando com a câmera e dando belíssimos frames.
 Fedor Bondarchuk sabe manipular a câmera de maneira bem enquadrada, com alguns planos abertos belíssimos, centralizando personagens e aproveitando paisagens, sejam elas reais ou escombros gigantescos (muito bem feitos).

Attraction poderia ser mais maduro, seguindo de perto A Chegada, Distrito 9 ou o clássico O Dia em Que a Terra Parou, já que suas premissas são similares. Mas opta pelo que vende:
 romance adolescente. Mas ao menos é razoavelmente bem feito, chegando mais próximo de um Jogos Vorazes, muito melhor que um Divergente. Com belíssimo visual e uma moral humana (devemos acolher os refugiados), esta produção ganha seu lugar ao sol de maneira competente. Teve uma boa bilheteria na Rússia e dado o final, poderemos ter sequência. Se souberem explorar, poderá ser uma interessante saga. Os alienígenas podem ser invasores, mas as pessoas é que precisam reaprender a “humanidade”, e já faz um tempo.




Título Original: Prityazhenie (Rússia)


Direção: Fedor Bondarchuk


Elenco: Oleg Menshikov, Alexander Petrov, Irina Starshenbaum, Rinal Mukhametov.


Sinopse: Quando uma espaçonava alienígena entra em rota de colisão na Terra e acaba realizando um pouso forçado em nosso planeta, no território de uma cidade russa, os habitantes do local se dividem entre dois grupos: aqueles que desejam explorar a cultura alienígena para decifrar a própria existência humana e aqueles que desejam expulsar os extraterrestres de nosso mundo.




Trailer:





Imagens:













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