Crítica: Annabelle 2 – A Criação do Mal (2017, de David F.Sandberg)

Acostumados pelo tempo e
experiência com intermináveis explorações de franquias, o cinéfilo se acostumou
com o fato de que continuações costumam ser inferiores aos filmes originais.
Não é nada fora do intuitivo perceber o porquê disso: a primeira boa ideia era
inédita e teve o privilégio das primeiras impressões; enquanto isso,
cada material derivado vê um esforço em dobro para resgatar o mesmo objetivo
alcançado anteriormente, pois a própria natureza de repetir dificulta a
originalidade.


Por essa razão, é curioso (e bem-vindo) notar
como alguns filmes recentes de terror têm conseguido a façanha contrária, seja
pela influência de uma renovação do gênero em seu estilo mais comercial
(principalmente, James Wan) ou pela troca de comando que tenha o potencial
de melhorar algo que não foi muito bem. O próprio diretor citado foi
bem-sucedido em manter uma boa qualidade em Invocação do Mal 2 (2016) e Sobrenatural
2
(2013). Ano passado, Ouija –
Origem do Mal
(Mike Flanagan) elevou significativamente sua qualidade depois de um péssimo
começo. Agora, com a chegada desta continuação sobre a origem da boneca
Annabelle, que já faz parte de um potencial universo cinematográfico de horror,
e sob a batuta de Wan como produtor, a tendência se mostra, mais uma vez,
correta.



Na trama de Annabelle 2 – A Criação do Mal, Samuel (Anthony LaPaglia) é um
artesão de bonecas que vive numa grande casa em uma área rural com sua esposa
Esther (Miranda Otho) e sua jovem filha. Alguns anos depois de perdê-la num
acidente, o casal resolve abrigar um grupo de órfãs, entre elas Janice (Talitha
Bateman) e Linda (Lulu Wilson), sob a supervisão da Irmã Charlotte (Stephanie
Sigman). Tudo parecia bem até que estranhos acontecimentos envolvendo uma das
bonecas revela um mal adormecido que obrigará os hóspedes – e o próprio casal
– a lidarem com poderosas forças malignas presentes na casa.


E aí já observamos outra
tendência de outros gêneros sendo aplicada no terror: as histórias de origem. É
justamente nelas que a coisas parecem estar dando certo (contrariando, novamente,
o senso comum no cinema). Ao expandir a “mitologia” em torno da  boneca Annabelle, o
universo iniciado por James Wan em Invocação
do Mal
(2013) começa a imitar as franquias de histórias compartilhadas,
estabelecendo um longo potencial de bilheteria para todos os envolvidos. Porém, aqui nos interessa a qualidade e é importante reconhecer que, ao menos, os
estúdios estão prestando o mínimo de atenção nos clamores populares, o que pode ser
constatado pelo investimento em diretores que consigam emular o estilo de Wan
por trás das câmeras, justamente a fonte de maior elogio por parte do público e
da crítica.



Aqui o escolhido é David F.Sandberg
(Quando as Luzes se Apagam, de
2016). Se saindo melhor que seu antecessor no primeiro filme, o cineasta
consegue dar uma pitada de personalidade que faltava ao investir num ótimo
elenco de crianças e adolescentes – hábito comum nas recentes produções do
gênero – e numa direção que, apesar de oscilar bastante, é eficiente em
imprimir uma tensão crescente na narrativa. Lembrando que o suspense funciona
ainda mais quando temos personagens que conseguem se diferenciar minimamente
dos estereótipos robóticos que se costuma ver no gênero. Reservando um tempo
mínimo de projeção para dar características mais humanas e afáveis às órfãs, o
expectador tem em mãos pelo menos um pouco de empatia, impedindo que a
narrativa se torne aborrecida apenas por seus personagens.


Mérito este também de Sandberg,
já que de seu elenco é retirado um ótimo resultado. Fora o artesão e sua
mulher, que acabam trabalhando num mesmo tom durante todo o filme (até pelo
tempo de importância), as atrizes mirins são certeiras em evocar uma mistura de
inocência da idade, curiosidade, afeto e senso de urgência, mesmo aquelas que
representam a faixa mais adolescente, não recaindo totalmente no maniqueísmo. O
destaque mesmo fica para Talitha Bateman, que consegue despertar uma conexão
quase imediata com sua Janice, e Lulu Wilson, cuja atuação elogiei na crítica de Ouija – Origem do Mal e que,
aqui, continua a mostrar grande talento em sua expressividade, apesar da pouca
idade (11 anos).



Mas o que realmente importa no
gênero é o quão bem-sucedido ele é em entender como se cria o medo através de
uma boa direção e, em parte, Sandberg até que consegue um bom resultado.
Claramente influenciado por James Wan, o cineasta e seu diretor de fotografia
Maxime Alexandre seguem na opção de brincar com planos que sugerem ameaças fora
do quadro, criando uma sensação de espreita constante na narrativa. Também
optando em investir em alguns planos mais longos, a movimentação de câmera
lembra a fluidez vista em Invocação do
Mal
, embora sem a elegância e inventividade deste. No geral, podemos até dizer que o trabalho da dupla é mediano, mas é eficiente quando acerta a nota. 

Infelizmente, a direção
não mantém essa escolha o tempo todo e, por mais que o filme se saia melhor que outros
péssimos exemplares do gênero, o diretor não consegue escapar de eventuais
sustos mais previsíveis, ainda mais aqueles que são basicamente telegrafados
pela sequência: andando no escuro -> trilha sonora aumentando -> pausa na
trilha com silencio de 3 segundos -> jumpscare. O potencial de sugestão, tão essencial para a criação de angústia, acaba sendo substituído pela necessidade da descarga de adrenalina, mesmo que esta costume mais irritar do que divertir.



Apesar de não atingir a
qualidade dos trabalhos realizados nos filmes mencionados acima, Annabelle 2 – A Criação do Mal é um
filme que supera a maioria dos filmes pasteurizados de terror lançados todos os
anos no cinema. Com razoável sucesso em fazer mais valer sua construção
narrativa do que propriamente sua premissa e história – bem na base do comum,
diga-se de passagem – essa continuação tem sua cota de acerto e apresenta uma razoável experiência
para quem procura um terror convencional que apresente alguma influência de seus semelhantes superiores.



Título Original: Annabelle: Creation

Direção: David F.Sandberg

Elenco: Anthony LaPaglia, Miranda Otto, Talitha Bateman, Lulu Wilson, Stephanie Sigman, Kerry O´maley, Philippa Coulthard, Alicia Vela-Bailey

Sinopse: Anos após a trágica morte de sua
filha, um habilidoso artesão de bonecas e sua esposa decidem, por caridade,
acolher em sua casa uma freira e dezenas de meninas desalojadas de um orfanato.
Atormentado pelas lembranças traumáticas, o casal ainda precisa lidar com um
amedrontador demônio do passado: Annabelle, criação do artesão.


Trailer



O que achou da mais nova continuação do derivado de Invocação do Mal? Quando conferir nos cinemas, não deixe de comentar aqui o que achou!


1 thoughts on “Crítica: Annabelle 2 – A Criação do Mal (2017, de David F.Sandberg)”

  1. Não sou muito fã das historias de terror, mas este filme é realmente extraordinário. O papel que realizo Lucien Laviscount ator em a Nunca Diga Seu Nome é uma das suas melhores atuações, a forma em que vão metendo os personagens e contando suas historias é única. É um dos melhores filmes de terror, tem uma boa história, atuações maravilhosas e efeitos especiais que dão medo.

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