Crítica: Les Innocentes (2016, Anne Fontaine)

No fim da
segunda guerra, um convento polonês é invadido por soldados russos, as freiras
são estupradas e deixadas para trás, ainda vivas, porém com um árduo e difícil
fardo. Além de terem que conviver com o acontecido, muitas delas se encontram
grávidas e perdidas e, é aí, que conhecem uma médica francesa, que aos poucos, vai as ajudando dia após dia. A história,
baseada em fatos reais, nos faz pensar em todas as atrocidades que eram
cometidas naquela época e, de certa forma, ainda são hoje em dia. 



Todo o
filme carrega uma melancolia constante. As personagens têm consigo
algo pesado, presente em todos os rostos, tanto pelo pano de fundo da guerra,
como pela própria fotografia do filme. Com tons escuros, variando entre branco,
preto e marrom, a natureza gelada, sempre com neve, dando a vaga impressão de
morte ou, que o tempo em si, não passa ali. Como se todos os dias fossem os
mesmos. Notamos isso também pela rotina das freiras, sempre fazendo a mesma coisa todos os dias. Até que algo sai da normalidade. 



Mathilde (Lou
de Laâge) é uma jovem médica francesa, que, um dia, recebe o estranho pedido
de ajuda de uma freira. Sem poder ajudar, manda-a embora, porém, a freira
insiste e ela então atende seu pedido. Chegando ao convento, percebe que uma
das irmãs está em trabalho de parto, sem julgar ou fazer perguntas, ela ajuda. O mais estranho é que ela não era a única. As irmãs, mesmo sabendo
que ela é médica, não se sentem a vontade em deixá-la tocar seus corpos,
sentindo vergonha, pois, quebraram um voto sagrado. Mesmo não sendo culpadas
por tal, elas sentem que falharam.



O filme é
extremamente sensível, mas, tudo nele indica que algo está errado, ou dá a
impressão de que algo ruim vai acontecer. Provavelmente pela guerra, ficamos
imaginando quando tudo virá a baixo. Mas aqui, tudo já deu errado. A
sensibilidade é algo tão notável que, aos poucos, conseguimos ver mudanças nas
atitudes das personagens, tanto em Mathilde, que é uma mulher que não se prende
a religiões, tanto nas próprias freiras, que aos poucos, começam a aceitá-la.
Talvez a mudança mais perceptível seja da irmã Maria (Agata Buzek), que começou
como coadjuvante e com o passar dos acontecimentos, se torna imprescindível
para a história. Demonstrando que, mesmo com toda sua base religiosa, ela ainda
é uma mulher, e tem dúvidas apesar de tudo, como se ela e Mathilde fizessem uma
troca de concepções a cada conversa. 



Mathilde
começa a entender e respeitar a profunda conexão que essas mulheres têm com
Deus, e chega perto de conhecer o sofrimento delas, porém é salva no último
instante. Talvez a simplicidade da história é o que há de melhor nele, uma
história real e tão humana e comovente, pelo simples fato de ser verdade. É
revoltante ver até onde a humanidade se presta a chegar, e coloca a religião em
dois pesos, o fanatismo e o amor sincero. Podendo ser visto os dois lados da
mesma moeda. 



Apesar dos
contratempos, essas mulheres fortes e sensíveis superaram seus medos e seus
traumas, a fotografia que antes era quase negra, agora é colorida, cheia de luz
e flores, constratando com os sentimentos que antes elas
carregavam e que agora, são outros. A melancolia deu lugar a alegria e a
felicidade, graças a essas crianças, que, querendo ou não, vieram de uma forma
tão brutal. O filme nos faz pensar como as irmãs, no que Deus quer delas e nas
escolhas que ele faz. Claro que nunca saberemos, mas, no filme, apesar de todo
o abuso sofrido, no fim do dia, essas crianças foram a salvação delas.

Título Original: Agnus Dei


Direção: Anne Fontaine


Elenco: Lou de Laâge, Agata Kulesza, Agata Buzeke, Vincente Macaigne, Joanna Kulig, Katarzyna Dabrowska, Anna Próchniak, Eliza Rycembel, Helena Sujecka,Dorota Kuduk. 


Sinopse: Em 1945, na Polônia, Mathilde, uma jovem médica francesa, descobre que freiras moradoras de um convento foram estupradas por soldados e muitas delas engravidaram. Mathilde, escalada somente para cuidar dos franceses, secretamente, começa a ajudar as freiras. A médica ainda precisa enfrentar os julgamentos das religiosas que se sentem culpadas por terem violado o voto de castidade.


Trailer:



Imagens:


Foto real tirada dos nascidos do convento.



A verdadeira Mathilde, que na verdade, se chama Madeleine.



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