Crítica: Orange Is The New Black – 5ª Temporada (2017, de Jenji Kohan)


A trama da quinta temporada de Orange Is The New Black, série original da Netflix baseada no livro de Piper Kerman, se passou em 72 horas após o final da quarta, tendo como foco uma rebelião na prisão de Litchfield, após o trágico acontecimento da última temporada. Entretanto, tal enfoque acabou comprometendo o ritmo da quinta, o qual foi arrastado, com aquela velha sensação de “encheção de linguiça” na maioria dos episódios.




Enquanto muitas detentas apresentam histórias de vida interessantes e cativantes, algumas personagens – especialmente Angie (Julie Lake) e Leanne (Emma Myles) (“as drogadas”) – ganharam tempo de tela desnecessariamente nesta temporada, sem acrescentar em nada à história principal, muitas vezes como alívio cômico, o que se tornou cansativo, uma vez que o roteiro abusou desse recurso na trama principal.

Entretanto, apesar de a comédia ter ganhado muito mais espaço nessa temporada (o que pode ter sido uma forma de contrabalancear o triste fim da temporada passada), o roteiro não perdeu sua principal força: a crítica ao sistema prisional. Com o foco da rebelião sendo a exigência de condições dignas de sobrevivência das detentas, foi colocado em pauta a condição sub-humana com que as mulheres são tratadas na prisão: sem direito a atendimento médico de qualidade, violência e abuso de autoridade dos guardas e condições mínimas de higiene foram alguns dos principais “dedos na ferida” que a série colocou.



Além disso, outro acerto da série nessa temporada foi continuar trabalhando na humanização de suas personagens, nos dando diferentes pontos de vistas e, dessa forma, tornando-nos incapazes de julgar esta ou aquela personagem por sua atitude. O recurso do flashback, usado desde o começo da série para nos mostrar o passado das detentas, foi usado menos nesta temporada, com foco não no porquê de elas terem sido presas, mas com maior foco no psicológico e na personalidade delas. Um dos melhores episódios foi o que teve foco em Watson (Vicky Jeudy) e criticou a desigualdade racial.

Por falar em protagonismo, Piper Chapman (Taylor Schilling), que teoricamente seria a protagonista “oficial” da série, afinal foi através de sua entrada na prisão que a série começou, há muito estava como secundária – não que isso seja uma crítica, afinal a personagem é uma das protagonistas mais desinteressantes de séries dos últimos tempos. Mas eis que nesta quinta temporada o roteiro devolveu a ela um pouco de seu protagonismo, e a personagem participou de maneira mais ativa, na tentativa de ajudar as detentas a conseguir suas reivindicações, e também através de seu par com Alex (Laura Prepon), cujo relacionamento finalmente foi resolvido.



Mas o verdadeiro protagonismo da série ficou por conta de Taystee (Danielle Brooks), uma das poucas personagens verdadeiramente consciente do sentido da rebelião e de seus direitos como detenta e como pessoa, além de pessoalmente atingida pela perda de sua melhor amiga. A atriz Danielle Brooks já havia mostrado o tamanho do seu talento antes, tanto sua veia para a comédia como para o drama, mas nesta quinta temporada ela se superou, entregando a melhor atuação do elenco.



Por outro lado, enquanto dois passos foram dados para frente, um bem sério foi dado para trás: o roteiro prestou um desserviço ao retratar um relacionamento abusivo entre um guarda da prisão e a personagem DoggettPensatucky (Taryn Mannning). Como uma série que preza pela representatividade e protagonismo feminino, Orange Is The New Black pisou na bola ao retratar a relação “fofinha” entre o casal, após a personagem ter sido vítima de estupro. Algo tão sério não poderia ter sido retratado de tal forma jamais, e foi um furo gigantesco do roteiro nessa temporada.



Além disso, personagens como Red (Kate Mulgrew) sofreram uma regressão, tomando atitudes incompatíveis com o caráter que foi construído ao longo desses cinco anos de série, e perdeu totalmente o sentido de ser nessa temporada. Black Cindy (Adrienne C. Moore), Big Boo (Lea DeLaria), Maritza (Diane Guerrero) e Flaca (Jackie Cruz), apesar de ótimas, ficaram só no alívio cômico, totalmente sem desenvolvimento nessa temporada.

Assim, o roteiro de Orange Is The New Black sofreu uma queda inegável nesta quinta temporada, mas pelo menos o que diz respeito à essência da série – crítica social e protagonismo feminino, principalmente – se manteve inalterado, além da ótima atuação do elenco ter garantido a nossa audiência e o retorno para o que, esperamos, seja corrigido na próxima temporada.

Título Original: Orange Is The New Black

Direção: Andrew McCarthy, Constantine Makris, Phil Abraham, Laura Prepon.

Elenco: Taylor Schilling, Laura Prepon, Kate Mulgrew, Uzo Aduba, Danielle Brooks, Natasha Lyonne, Taryn Manning, Selenis Leyva, Adrienne C. Moore.

Sinopse: A quinta temporada da série acompanha a rebelião das prisioneiras em busca de justiça após a morte de uma delas, fazendo com que todas as mulheres se unam por seus direitos.

Trailer:


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