Crítica: The Leftovers – 3ª Temporada (2017, Damon Lindelof e Tom Perrotta)


Antes de redigir minha crítica, alerto que escrevo com
grande pesar e alegria. Alegria por viver no tempo e ter a oportunidade de
acompanhar a melhor coisa transmitida na TV nos últimos anos, e se não for a
melhor, certamente está no pódio. E com pesar, pois acaba uma das melhores
coisas produzidas para o público, não se tratando apenas de uma série, ou obra
de arte de ponta, mas de uma poesia visual extremamente impactante, genial,
exemplar e perfeita (tudo isso, pelo menos em sua 3ª Temporada), que por mais que ainda não seja reconhecida, daqui alguns anos com certeza será estudada e aplaudida, eis que falo
de, The Leftovers.

Desde já, também alerto que é muito difícil escrever em uma
matéria, a crítica de uma temporada em que cada episódio rende fácil, no
mínimo, duas folhas de comentários. Talvez, isso deixe claro o nível de
excelência em que essa temporada final carrega em seus ombros, mesmo sendo tão pretensiosa.


Começo com a direção, que foca em deixar tudo nos eixos e ao
mesmo tempo fora dele, montando isso de forma perfeita. Seja a sintonia de
cenas com a trilha sonora, com os silêncios, expressões, cenários e etc. É
difícil assistir e não perceber um toque preciso e minucioso em cada cena. Há
preocupações para transformar todo brilhantismo do roteiro em uma obra
audiovisual de mesmo nível, ou seja, incrível, e mesmo com tanta pretensiosidade,
isso é alcançado. Fazendo tudo não ser apenas centro de palmas ou “uaus”, mas
de um puro sentimento de “que maravilha”, ou para os mais chegados, aquele
comentário no estilo “uma das melhores horas bem gastas na minha vida” (pra
cada episódio).

O roteiro é irrepreensível, além de construir e desenvolver
toda a trama de forma cintilante, tem as pitadas corretas para tudo, sabendo
desenvolver o tom e ritmo com maestria, fazendo o tão raro tom poético (bem
feito) funcionar, de forma que não se tem uma poesia chata. Incrementando
elementos de nostalgia, surpresa, indagação – com o ponto certo de dúvida
gerada no espectador – e humor (não é comédia, é um alívio cômico que
acrescenta, não só tirando a rispidez da trama. Isso que é raro de se ver, e
quando bem feito, o que é, se torna magnífico).


Com isso temos uma união de direção e roteiro inquebrável.
Guiando toda a liberdade poética e criativa em que a série se coloca com
maestria. Deixando de lado não só o título de série dramática como impondo – e muito
bem – outros estilos, deixando tudo bem claro em suas metáforas, referências e
enquadramentos. Usando o que já tinha de praxe, – mas aqui com um efeito bem
mais interessante – as ligações. Indo além, não só ligando o que está em cena,
como o que já esteve, e fora disso também, com referências a livros, filmes,
obras de arte e etc. E mesmo com tanta coisa, tudo é organizado e
milimetricamente mostrado, de forma com que se não desvie a atenção do
espectador, mas a aumente.

Nessa temporada a trilha sonora – que já era muito boa -, agora
está bem melhor. Todas as músicas e sons fazem total sentido. Fica em uma
sutileza e fora de repetição, ambas coisas que, respectivamente, faltava e
havia muito nas temporadas anteriores. Além da edição e montagem sem
comentários, na qual era um erro comum dos dois primeiros anos. Isso tudo, com uma fotografia sem
palavras. Deixando clara a alta qualidade audiovisual dessa temporada.


Como toda temporada, temos episódios focados em seus
personagens principais, e além deles serem de suma importância pro decorrer da
história, são presentes para os atores demonstrarem suas qualidades artísticas,
e aqui, dessa vez, não é passado por despercebido. Justin Theroux e Carrie
Coon dão um show, sendo em seus episódios ou não, há claramente uma entrega ao
personagem sem palavras, se não forem indicados ao Emmy pode ter certeza que há
algo de errado nele (se é que já não tem). Além disso, deixo minha admiração
pelo trabalho de Amy Brenneman, Christopher Eccleston, Scott Glenn e Lindsay
Duncan (que tem um monólogo excepcional).

The Leftovers chega
ao seu 3º ano irreconhecível. Deixando claro que não se trata sobre o mistério,
mas sobre o que aconteceu depois ele, sobre as pessoas, sobre a vida e o quão
agridoce, questionável e estranha ela pode ser. Finalizando de forma perfeita uma série que ficará tanto na memória de quem assistiu, como da história da TV. Sem basicamente NENHUM,
absolutamente nenhum erro notável por mi
m, deixo com minha nota um comentário (SEM
SPOILERS) que fiz no 7º episódio dessa temporada:
Melhor temporada que já vi na vida, excepcionalmente bem feita, escrita,
reproduzida, se não, perfeita, e além de tudo, poética! 
Pois feliz são os poucos que viram até o fim.

Criadores: Damon Lindelof e Tom Perrotta.


Elenco: Justin Theroux, Carrie Coon, Amy Brenneman, Christopher Eccleston, Scott Glenn, Kevin Carroll, Jovan Adepo, Lidnsay Duncan.


Sinopse: Três anos se passaram e a vida dos personagens da série está completamente diferente. Kevin (Justin Theroux) assumiu o posto de xerife local e a cidade não realiza mais controle de acesso para os turistas que chegam de todas as partes do país. No entanto, o mistério sobre o desaparecimento de 2% da população mundial ainda continua e o reverendo Matt (Christopher Eccleston) acredita que o protagonista é chave para desvendar tudo o que aconteceu. Os primeiros dois episódios serão situados nos EUA; os demais na Austrália onde o pai (Scott Glenn) de Kevin (Justin Theroux) está morando desde a segunda temporada.


Trailer:







Saudades e alegria define o fim dessa maravilha jamais vista igual.


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