Crítica: Sr. Ninguém (2009, de Jaco Van Dormael)




Numa noite dessas entre amigos, ao som de 30 Seconds to Mars, eu e uma amiga enveredamos por uma conversa sobre o clipe Hurricane e suas várias referências, daí passando mais especificamente a falar sobre Jared Leto e sua carreira cinematográfica. Eu falei muito sobre Requiém para um Sonho (Requiem for a Dream, 2001), que era o trabalho mais significativo do Jared que eu já tinha visto até então, e para minha surpresa ela falou muito mais sobre um filme que eu nunca tinha ouvido falar antes: Sr. Ninguém (Mr. Nobody, 2009).

Nemo Nobody (Jared Leto) tem 118 anos e é o último mortal num mundo em que os seres humanos tornaram-se imortais. Mas nada se sabe ao certo sobre ele, sobre seu passado, sobre como ele viveu sabendo que um dia morreria.
Nemo Nobody tem a esperança de reencontrar seu amor de infância, Anna.

O casamento de Nemo e Elise está passando por uma crise, assim como o casamento de Nemo e Gene.
Nemo Nobody tem 15 anos e está apaixonado por Anna, que é a filha do seu padrasto.
Nemo tem 15 anos, cuida do pai e se apaixonou por Elise, que na verdade ama outro, então ele resolve dar uma chance para Gene.
Nemo Nobody é um menino de 9 anos cujos pais se separaram, e agora ele está numa estação de trem e não sabe se vai morar com a mãe ou com o pai.

Qual destas vidas é a “certa”? Qual destas foi de fato a vida que Nemo viveu? Na verdade, o filme segue por todas estas vidas, contando o seu desenrolar sem seguir uma sequência cronológica. Cada rumo da vida de Nemo depende de uma decisão, de uma escolha sua. Cada escolha vai seguir por um caminho diferente.

Na filosofia grega existia a ideia do Lethe, um rio do Hades no qual, ao nele “beber”, a alma se esqueceria de todas as suas vidas passadas. Em Sr. Ninguém se tem uma ideia muito semelhante, de acordo com a qual todos nós já sabemos de toda nossa vida futura antes mesmo de nascer, e quando é chegada nossa vez anjos pousam os dedos em nossos lábios e nós mergulhamos numa mesma espécie de rio, esquecendo assim de tudo o que anteriormente sabíamos ao nascer. Assim, tem início a nossa vida de fato e, com ela, todos os processos de fazer escolhas e tomar decisões e a primeira delas é escolher os nossos pais.

Um incidente acontece com Nemo, porém: os anjos se esquecem de “marcá-lo” e assim ele nasce já sabendo o que vai acontecer em sua vida. E é aí que está: por saber os vários caminhos que a sua vida pode seguir, a depender da escolha que fizer, ele é incapaz de decidir. Não adianta nos iludir, portanto: ainda que a gente soubesse o que cada escolha acarretaria em nossa vida, não seria mais fácil escolher. Seria ainda mais difícil, creio.

Feliz ou infelizmente só podemos viver uma vida, sem direito a olhar pra frente nem para trás. Praticamente tudo nela envolve uma escolha, até mesmo uma não-escolha é uma escolha. E, uma vez que a escolha não é feita, tudo permanece possível… Daí que, como dito em determinado momento do filme, “tudo na nossa vida poderia ter sido de um jeito diferente e ainda assim teria o mesmo significado”. “Cada caminho é um caminho certo”.

Além de tudo isso, a fotografia e a trilha sonora fazem o filme ser ainda mais maravilhoso, e Jared Leto consegue impressionar ainda mais com a sua ótima atuação. O restante do elenco, que conta ainda com Diane Kruger e Sarah Polley, também está em sintonia; inclusive os atores mirins, que também são bastante compententes.




Título Original: Mr. Nobody

Direção: Jaco Van Dormael

Elenco: Jared Leto, Chiara Caselli, Clare Stone, Daniel Brochu, Diane Kruger, Juno Temple, Sarah Polley.

Sinopse: Em um futuro não muito distante, Nemo Nobody tem 118 anos de idade e é o último mortal a conviver com as pessoas imortais. Durante esse período, ele relembra os seus anos reais e imaginários de casamento.

Trailer:



Deixe seu comentário:

Deixe uma resposta