Crítica: Mãe(s) (2015, de Maïmouna Doucouré)

O curta-metragem Mãe(s), no original Maman(s), um dos selecionados deste ano para a competição da 7ª Edição do My French Film Festival, traz uma história única, intrigante e bastante verdadeira sobre a chegada inesperada de novos membros à uma família.

Fazendo preparativos para o retorno do pai, Aida e sua família se surpreendem ao vê-lo chegar do Senegal na companhia de uma mulher e um bebê, e esse é apenas o começo de uma série de mudanças em suas vidas. Com roteiro e direção de Maïmouna Doucoré, o curta é uma construção progressiva da personalidade e comportamento de Aida em face da sua nova situação de vida, pois a vemos tentar se entender com os conflitos que surgem.




Escondida ela presencia o que seus pais não querem lhe dizer, e une aos poucos cada peça do quebra-cabeça da vida adulta que existe em sua casa. Ela tenta compreender essa nova realidade, e ao mesmo tempo sente enorme empatia pela mãe, tanto que depois de uma discussão dos pais, ao ouvir a mãe chorar ela chora também, sem poder se revelar. Aida quer proteger quem ama, e assim faz movimentos de ir e vir, ao se responsabilizar por tomar uma atitude e carregando nos ombros o peso daquela situação tenta agir como adulta, no entanto, ao não expressar em palavras o que pensa e sente, ela opta por agir como criança, fazendo de tudo para demonstrar que a desconhecida não é bem-vinda naquele lar.

Usando simbolismos diversos o curta denota muito bem essa confusão vivida pela menina, que está sempre a um passo da infância e de uma futura vida adulta. Ao fazer um desenho em que está de mãos dadas com seus pais, logo vamos perceber que a tentativa de ajustar a vida dos pais representa o quanto ela acredita ser o meio deles ficarem juntos, e assim assume uma postura muito diversa do irmão. E mais tarde ao perguntar para a mãe se o pai ainda a ama, as sérias dúvidas que permeiam sua mente ganham um ar de inocência, e a resposta é em parte marcada por silêncio, pela intimidade que não é dada a um filho conhecer.

Esse primeiro contato com a sexualidade, ainda que seja a dos pais, intriga a garota e é simbolizada por portas que se abrem momentaneamente e se mantém fechadas à noite, pelas trevas em que tudo acontece, as mesmas nas quais ela procura algum sentido se escondendo. E por rituais afrodisíacos próprios do Senegal, usados tanto pela mãe quanto pela segunda esposa, e que vai aos poucos fazendo sentido quando Aida coloca um “feitiço” no ar na esperança de que os pais ainda se amem. Primoroso no uso de cores, com boa fotografia, de narrativa singular e excelente construção de personagens, ainda conta com música pop senegalense e uma versão instrumental de uma música conhecida na voz de Piaf, Sous Le Ciel de Paris, e trata de maneira interessante a relação entre Europa e África, em que dois estilos de vida diferentes são levados pelo pai da protagonista.

Título Original: Maman(s)

Direção: Maïmouna Doucoré

Elenco: Sokhna Diallo, Maïmouna Gueye, Abdoulaye-Azize Diabate, Mareme N’Diaye

Sinopse: Quando o pai de pequena Aida retorna do Senegal acompanhado de uma mulher, sensibilizada com o sofrimento da mãe, ela decide tomar uma atitude para se livrar da recém-chegada.

Trailer:



Até o dia 13 de fevereiro você pode ver este e outros filmes no site do My French Film Festival e votar nos seus favoritos. E deixa um comentário aqui embaixo sobre a sua experiência com esse festival francês:


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