Crítica: A Menina Que Tinha Dons (2016, de Colm McCarthy)



O gênero sci-fi parece nunca sair de moda. Independente se o que está sendo abordado é um apocalipse zumbi ou de vampiros, a maioria dos longas sobre tais temas é assistível. Inclusive, por mais que boa parte dos enredos exiba um grupo de pessoas lutando pela sobrevivência e se virando pra matar criaturas infames, nenhum deles chega a ser tão ruim a ponto de ser descartável e A Menina Que Tinha Dons pode provar isso. O longa, baseado no best-seller de Mike Carey, se saiu muito bem! Tanto a história quanto a narrativa são diferentes e não possuem aquelas enrolações maçantes. Então se prepare, pois ele é dos bons!



Num futuro distópico próximo, a humanidade foi devastada por uma misteriosa doença fúngica. Os afetados são roubados contra sua vontade e transformados em ávidos carnívoros. Em meio a esse cenário, a única esperança da humanidade é um pequeno grupo de crianças híbridas que anseiam a carne humana, mas mantêm a capacidade de pensar e sentir. Elas vão para a escola em uma base militar na Grã-Bretanha rural, onde são submetidas a experiências comandadas pela Dra. Caroline Caldwell. Já a professora Helen Justineau cresce particularmente perto de uma garota excepcional chamada Melanie, formando assim um vínculo especial. Quando a base é invadida, o trio consegue escapar com a ajuda do sargento Eddie Parks e embarcar em uma jornada pela sobrevivência, porém agora cabe a Melanie decidir quem ela realmente é. Hoje sabemos que existe certa controvérsia com relação a adaptações literárias para as telas, tanto de livros como de games – que vem enchendo as prateleiras das livrarias. Há quem opte por ler o livro primeiro, porque desse modo é capaz de imaginar os cenários e idealizar tudo, usando assim a criatividade. Mas infelizmente, ao ver a obra nos cinemas, acaba achando sem graça e até mesmo detestando (pegando Inferno como exemplo). Por outro lado, há aqueles que preferem ver o filme antes e olhar o livro depois, pois ficam com vontade de saber mais sobre os detalhes da história. Afinal, o que é melhor? O livro ou o filme? Ó, dúvida cruel…rs

O primeiro ato é fantástico, pois logo que o espectador é introduzido a Melanie, o mesmo é atraído pelos eventos iniciais e fica curioso em investigar os mistérios que cercam o lugar. Entretanto, o seu roteiro não procura focar no estilo zumbi ordinário. Tem sim sangue e violência, mas não um gore prolongado ou frequente. No início, somos introduzidos a Melanie, protagonista que é um doce de criança. A atriz mirim marca sua estreia no cinema; cheia de gentileza, sua personagem tenta ser o mais bondosa e amigável que , na esperança de obter contato humano, por menor que seja. E por sinal, uma questão interessante é ver a forma como Sennia adentra em sua personagem, encarnando uma Melanie persistente e com um instinto que apesar da desventurada condição, se controla para não matar nenhum inocente – aspecto. Em contrapartida, o ponto de vista da menina parte do ponto no qual a fria distância é baseada em um mundo cínico cheio de adultos, assim como o de todas as crianças da base. Todavia, não se engane; elas não são tão inocentes quanto parecem e você logo percebe isso. Não obstante, Melanie é quem mais demonstra alguma emoção e interação humana, embora portadora de um vírus zumbi oculto, o que significa que os que sobreviveram ao apocalipse deixam de enxergá-la como alguém contaminada.

Já no segundo ato, descobrimos que a razão pela qual aquelas crianças estavam sendo mantidas presas é porque a equipe militar acredita que o sangue delas carrega a chave para uma cura. Em outras palavras, elas possuem o vírus, mas não se transformaram. Algum tipo de simbiose aconteceu, o que salvaria todo o planeta infestado pela doença. E para o papel da Dra. Caroline Caldwell, responsável pela teoria, ninguém mais, ninguém menos que a sempre ótima Glenn Close, de Atração Fatal. A personagem dela, que está à beira de ter a cura em mãos, tem um excelente desempenho. Outros rostos familiares com o público são os de Gemma Arterton, de Byzantium e Paddy Considine, de Já Estou Com Saudades, como Eddie Parks. Arterton, em particular, rende momentos frenéticos na pele da Dra. Helen Justineau, entregando, por conseguinte, uma performance decente! Vale ressaltar ainda que independente de não termos tantos figurantes em cena, o elenco escalado faz jus ao mérito que o filme merece e cada um retrata sua devida importância no contexto. Sobre a duração, está em torno de 1 hora e 50 minutos – as mesmas passarão despercebidas, se analisadas com calma – e é conduzida por Simon Dennis, cujos takes de câmera foram bem posicionados, garantindo aquela sensação de adrenalina nas partes tensas.

Ademais, segundo internautas, faltou pouco pra a que película tenha se mantido o mais fiel possível do best-seller. O que impediu tal feito foi o fato do desfecho decepcionar parte dos fãs do livro (típico). Aliás, nele, Melanie é branca e Helen Justineau é negra; inverteram isto no filme e felizmente não houve prejuízo nenhum. Na verdade, o que acontece é que esta mudança se deu para ter assim uma variedade étnica na obra, o que é justo.

Por fim, A Menina Que Tinha Dons vale pelo entretenimento, sendo uma boa pedida para quem procura uma excêntrica – e por que não, bela – experiência de ficção científica com elementos de terror e uma pitada de drama. Fica a dica para sua sexta!


Título Original: The Girl with All the Gifts

Direção: Colm McCarthy

Elenco: Gemma Arterton, Glenn Close, Fisayo Akinade, Paddy Considine, Sennia Nanua, Anamaria Marinca, Anthony Welsh, Dominique Tipper, Grace McGee, Lobna Futers.

Sinopse: Em um futuro distópico, algumas crianças são mantidas como reféns por um cientista em busca da cura para uma doença que infestou todo o planeta. Melanie, uma garotinha com dons muito especiais, chama a atenção de Helen Justineau e da Dra. Caroline Caldwell, que decidem embarcar em uma jornada com a menina.

Trailer:




Mais imagens do filme:


Gostou? Deixe seu joinha e compartilhe!


Deixe uma resposta