Crítica: A Grande Virada (2010, de John Wells)

Muitas são as coisas que podem afetar uma sociedade a ponto de fazê-la se desequilibrar. Uma delas atinge seu âmago de forma a fazer com que o ecossistema, no qual os indivíduos pertencentes à essa sociedade, sofra um grande baque, fazendo com que seus alicerces entrem em colapso. Baseada na grande crise econômica sofrida nos Estados Unidos em 2008, quando a instabilidade do mercado imobiliário acabou fazendo com que o banco Lehman Brothers, entre outros, fechasse as portas, causando milhares de desempregos e afetando assim a vida de milhares de famílias, A Grande Virada retrata as consequências dessa crise na sociedade, retrata a maneira como o trabalhador acabou se tornando uma vítima de uma engrenagem, que apesar de um dia tê-lo usado para que pudesse funcionar, o descartou simplesmente por não ver mais conveniência no seu uso, retrata o como estar a mercê do sistema torna o trabalhador médio ao mesmo tempo que intocável, vulnerável, não importando o quão valioso este julgue o ser.

John Wells, diretor e roteirista do filme, indicado ao Gotham Award de Diretor Revelação pelo longa, diz que um dos motivos que o motivou a escrever o roteiro foi seu cunhado, que apesar de possuir um diploma de engenharia elétrica, MBA e uma aparente estabilidade no emprego em que estava, acabou sendo demitido de uma multinacional europeia juntamente com 5000 empregados. Ele conta que seu cunhado perdeu a casa, emprego e começou a morar com os sogros, tendo uma grande dificuldade em encontrar um novo emprego. O diretor conta que entrevistou mais de 1000 pessoas que passavam por situações similares, inclusive empregadores, que nutriam todo tipo de perfil, desde o tipo empático ao empregado, realmente lamentando deixá-lo sem renda e meios de sustentar a família, ao tipo mais preocupado com a economia que os cortes dariam a empresa do que com as pessoas.
Por se tratar das consequências da crise econômica na sociedade, visando muito mais como isso afeta o cidadão, podemos facilmente nos identificar dada a situação atual de nosso país, isso independente do fato de se passar num cenário causado pelo grande colapso do mercado americano.

Como de praxe nos filmes baseados em eventos reais, ele começa localizando o espectador através de noticiários na TV, informando a turbulenta situação na qual o mercado se encontra, em como a eminente e interminável crise resultou na quebra de diversas instituições financeiras, que ajudavam a movimentar o mercado americano. Como esse filme é muito mais sobre o impacto da crise na vida das pessoas, as razões que causaram a desnivelação da economia ficam bem implícitas, deixando ao público muito mais a visão sobre aqueles que acabaram sendo mais prejudicados, os trabalhadores. Caso tenha interesse em saber mais sobre o que culminou nessa grande crise, o A Grande Aposta, indicado ao Oscar de melhor filme, tem esse papel. Usando de uma linguagem bem própria e bem humorada tenta explicar através de analogias e metáforas visuais, a maneira como alguns dos jogadores envolvidos na grande crise imobiliária tiveram participação.

Bom, agora voltando ao A Grande Virada. A trama circunda os eventos de uma companhia do segmento de construção naval chamada GTX, que como muitas outras empresas, precisou realizar cortes exorbitantes deixando na mão alguns milhares de trabalhadores. Conforme o filme se desenrola, acompanhamos o andamento da vida de três pessoas atreladas a empresa, com diferentes níveis de perspectiva. Robert Walker, o personagem vivido por Ben Affleck, gerente do departamento de vendas, que exercia o cargo na empresa há mais de 12 anos se torna um dos alvos de um  
dos cortes realizados pela empresa. A partir de então, somos convidados a acompanhar o dia a dia de um homem tentando recolocação no mercado, depois de mais de uma década dedicada a empresa que ajudou a construir.

Phil Woodward, interpretado por Chris Cooper, assim como muitos outros funcionários, é aquele que teme pela perda precoce do emprego, apesar de ter feito parte dos pioneiros da empresa. A tão comum cena dos noticiários de pessoas carregando seus pertences em arquivo-morto deixa evidente o ar de preocupação dos funcionários em não saber o dia do amanhã, ao se darem conta que qualquer um poderia ser o próximo, que ninguém estava realmente salvo. E temos Eugene McClary, interpretado por Tommy Lee Jones (indicado ao Satelite Award de melhor ator coadjuvante pelo papel), vice-presidente executivo da GTX. Podemos ver a partir de seu olhar as decisões tomadas pelo alto comitê, e o impacto que elas têm no resto da empresa.



O filme passa mensagens muito interessantes sobre a vida, o trabalho e a família. No decorrer do longa vemos a mudança sofrida por Robert Walker, que com a dificuldade em arrumar um novo emprego que tivesse o mesmo prestígio que o antigo, aprende a lidar com o orgulho, começando a trabalhar como auxiliar de obra na empresa do cunhado, Jack, interpretado por Kevin Costner. O interessante a notar é o paralelo que o filme faz, quase que como fazendo uma apologia ao empreendedorismo, mostrando que apesar de toda a crise presente, Jack sentia-se extremamente seguro, por seu negócio estar próspero e estável. Outro ponto são suas relações com a família, que em momentos de vulnerabilidade e incerteza acabam se aproximando mais.

Algo que fica bastante em evidência, que pode ser visto até como uma crítica, é a grande alusão ao consumismo, ficando mais explícito no personagem do Tommy Lee Jones, que em muitas ocasiões deixa claro seu posicionamento com relação a gastos com coisas supérfluas e sem necessidade.

    
Mais do que simplesmente o flagelo que a crise traz, A Grande Virada fala sobre o apoio da família, superação e a importância de se reinventar sem se deixar abater no percurso. Um filme que vale muito a pena ser visto, principalmente em tempos de crise como estamos, ou simplesmente se estiver em algum tipo de encruzilhada, em algum tipo de dilema sobre sua vida profissional. 








Título original: The Company Men



Direção: John Wells


Elenco: Ben Affleck, Tommy Lee Jones, Chris Cooper, Kevin Costner, Mary Bello, Rosemaire DeWitt, Craig T. Nelson, Eammon Walker



Sinopse: Durante o período da grande crise econômica de 2008, uma empresa realiza corte exorbitantes de funcionários, deixando milhares de pessoas desempregadas. Sob a perspectiva de três funcionários relacionados a empresa, o filme mostra as consequências dessas demissões na vida das pessoas, a dificuldade de encontrar um novo emprego e o medo de ferir o ego por tentar fazer algo diferente.         



Trailer:



Galeria de Imagens:



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