Crítica: Sing Street (2016, John Carney)



A melhor coisa da temporada de premiações é assistir os filmes indicados. Você acaba assistindo filmes que provavelmente nunca saberia da existência, mas que merecem ser muito reconhecidos. Minha mais recente experiência desse tipo foi com este excelente filme de John Carney, Sing Street, que com certeza teria passado em branco não fosse sua indicação ao Globo de Ouro de melhor filme de comédia/musical.









O filme conta a história de Conor, um irlandês de 14 anos que é inspirado a começar uma banda por uma modelo que fica todos os dias em frente à sua escola.




O roteiro e a direção são assinados por John Carney, e ele faz um trabalho tecnicamente muito bom. A direção tem vários travellings e, como eu gosto de chamar, mini planos-sequência (um movimento de câmera que tem a mesma função do plano-sequência porém não é tão longo quanto um). É um filme muito bem cuidado, ele sabe exatamente o que está fazendo. Há uma cena no começo do filme aonde o irmão de Conor está falando sobre como os videoclipes de bandas como Duran Duran serão o futuro da música, e o diretor dá um close na cara de Conor e ele mostra a vontade de grandiosidade, de ser como seus ídolos e talvez até chegar a um nível tão grande quanto o deles.







O filme é muito bem feito, mas a grande atração aqui é o excepcional roteiro. Há algumas opiniões dadas pelos personagens que claramente refletem o que Carney pensa, como um comentário sobre o baixista do Duran Duran. O roteiro fornece em seu começo um choque de gerações entre pai e filho. Quando um videoclipe do próprio Duran Duran está passando na televisão, o pai da família – interpretado por Aidan Gillen, o Littlefinger de Game Of Thrones – comenta “eles não são como os Beatles”, e o filho retruca dizendo “saia do passado”, e isso é algo muito comum.







Mesmo não mostrando o Rock de raiz, esse é um filme que fala diretamente com os fãs do Rock N’Roll. Há alguns diálogos que todos os fãs de rock vão se identificar, como quando Conor chega a seu irmão e fala “Calma, ainda estamos aprendendo a tocar” e o irmão responde “Os Sex Pistols nunca souberam tocar”, ou quando a irmã deles chama o baixista de guitarrista e os dois se irritam com a situação.





Assim, para quem gosta do estilo, o filme fica bastante referencial e reverencial. Por exemplo, quando a parceria musical entre Conor e Eamon começa a se desenvolver, eu me lembrei de grandes parcerias da história do Rock, como Lennon/McCartney, Page/Plant, Osbourne/Iommi, Waters/Gilmour ou nas terras tupiniquins Cazuza/Frejat. “Será que começou assim? Será que Robert Plant ia na casa de Jimmy Page de madrugada e pedia ajuda para terminar uma música?”, o público pensa.





O diretor demonstra conhecer bastante de música não apenas nas composições da banda (que são da autoria dele), mas também na evolução musical dos integrantes. A primeira música que eles compõem é uma imitação descarada das bandas (um personagem descreve perfeitamente como “um pouco de Duran Duran e um pouco de New Romance”) que eles ouviam e a cada música que eles compõem evoluem e nos presenteiam com músicas excelentes como Up e Drive It Like You Stole It.





Fechando o papo sobre a música da banda, só quero citar o sorriso imediato que aparece no rosto de quem assiste quando o disco do The Cure aparece gigante na tela, e a enorme semelhança entre Ferdia Walsh-Peelo – intérprete de Conor – com Billy Joe, vocalista da banda Green Day.





Em um determinado ponto da trama, Conor enfrenta um valentão de seu colégio. É uma cena clichê, mas aqui ela funciona perfeitamente por mostrar o quanto uma pessoa pode ser encorajada pela música e pela arte. O filme é sobre isso. Um jovem que tenta fugir dos problemas em casa por meio da música. Isso rende várias cenas tocantes – uma, em particular, quando os 3 irmãos aumentam o volume da música e começam a dançar, tentando esquecer das brigas infinitas do pai e da mãe.







O filme tem alguns micro-problemas, e, todos poderiam ter sido arrumados com uma revisão no roteiro. O personagem Darren no começo do filme mostra uma versão de Raphina, e ela mostra ser algo totalmente diferente. Seria normal se a personagem ficasse mais doce ao longo do filme, mas ela se mostra gentil desde o primeiro momento que Conor se aproxima dela. Darren aparentemente não teria motivo para dizer o que disse. O outro problema é o convite a uma pessoa para fazer parte da equipe da banda. Eles não tem um motivo para chamar a pessoa que é convidada.





O filme poderia ser um pouco mais curto, apesar de ter apenas 105 minutos. Algumas cenas na escola são desnecessárias, como a que o diretor se irrita profundamente com a maquiagem usada por Conor após começar a banda.





Sing Street é um filme quase irretocável. Tem uma direção bem pensada, músicas extremamente bem compostas e é um estudo de como a música pode mudar a vida de uma pessoa. Todos deveriam assistir a este excelente filme. Ele está disponível na Netflix, então corra.







Título Original: Sing Street


Direção: John Carney



Elenco: Ferdia Walsh-Peelo, Lucy Boynton, Jack Reynor, Maria Doyle Kennedy, Aidan Gillen, Doyle Kennedy, Kelly Thornton, Mark McKenna, Conor Hamilton



Sinopse: Dublin, Irlanda, 1985. Conor é um jovem obrigado a mudar de colégio, devido à difícil condição financeira de seus pais, que ainda por cima brigam sem parar. Desiludido, Conor tem um sopro de esperança ao conhecer Raphina, uma garota que está sempre à espera na porta da escola. Disposto a conquistá-la, ele diz que está montando uma banda de rock e a convida para estrelar um videoclipe. Com o convite aceito, agora ele precisa fazer com que a banda exista de verdade.



                                                   TRAILER:                                                  




E
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