Crítica: Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010, de Edgar Wright)

Scott Pilgrim Contra o Mundo, no original Scott Pilgrim vs. the World, é um filme baseado na série de HQs criadas pelo cartunista Bryan Lee O’Malley, que trabalhou com o diretor Edgar Wright na adaptação para o cinema. Juntos resolveram o desenvolvimento do enredo antes que os volumes restantes da série fossem finalizados, fazendo com que grande parte das ideias contidas no filme fossem reaproveitadas ou expandidas nos quadrinhos que o sucederam.



A história é ambientada em Toronto, onde Scott leva uma vida regular, sem grandes expectativas ou desafios, se deixando levar pelos acontecimentos. Isso muda quando uma garota aparece em sua vida, e literalmente mexe com a sua cabeça, levando-o a sair do lugar comum para conquistá-la, porém uma liga formada por seus ex-namorados do mal pretende tirar o novo pretendente de cena desafiando-o para uma série de duelos. Paralelo a isso, ainda há a possibilidade de fazer com que a banda que integra se torne um sucesso, e fonte de renda, conforme as oportunidades de fazer shows vão aparecendo.

Talvez o que mais chame a atenção é o fato das personagens serem pessoas comuns passando por conflitos possíveis e bastante pessoais, continuamente somos trazidos à realidade de que a história que está sendo contada poderia ser apenas uma das milhares de histórias que existem no mundo. O que a diferencia é a forma como é contada, com o uso de diversos elementos visuais e efeitos para compor de forma lírica e dinâmica, tornando a narrativa leve e divertida, e expandindo as noções de realidade através da desconstrução do que é conhecido e esperado, nos levando a um cenário em que, para o bem ou para o mal, tudo pode acontecer.

Bryan reconheceu ser interessado pelo realismo fantástico, e teve contato com os autores desse movimento literário na época em que criava os primeiros volumes da saga de Scott, o que diz muito sobre a atribuição de talentos e poderes excepcionais concedidos a personagens aparentemente comuns. Essa essência fantástica somada à bagagem cômica trazida por Wright dá o tom adequado à trama cheia de referências, desde games, HQs e desenhos animados, até Seinfeld e o cotidiano canadense, sendo embalada pelas idas e vindas românticas entre batalhas de bandas.

Sendo uma história de jovens contada por jovens, tem no elenco Michael Cera e Mary Elizabeth Winstead formando o casal Scott e Ramona, e é improvável alguém não torcer para que tudo seja superado para que eles possam ao menos tentar se entender, já que parecem enfim ter encontrado, um no outro, alguém por quem vale a pena lutar para fazer dar certo. Kieran Culkin – que rouba a cena sempre que pode – é Wallace, amigo e colega de quarto, e Anna Kendrick é Stacey, irmã de Scott, os dois tentam constantemente trazer Scott à razão, incentivando-o a sair do ponto morto e retomar o controle da própria vida, e são responsáveis por confortá-lo e colocá-lo pra baixo ao mesmo tempo.

Satya Bhabha, Chris Evans, Brandon Routh, Mae Whitman, Keita e Shota Saito, e Jason Schwartzman são os ex-namorados que formam a Liga de Ex-Namorados do Mal, e cada um deles traz uma particularidade que atraiu Ramona e que motivou o início e o término desses relacionamentos. E todos participam do plano de acabar com Scott usando as armas que estão ao seu alcance, dando a entender que ao entrar no jogo é preciso jogar com o que se tem de melhor, unindo a ideia do duelo romântico à essência dos jogos de luta, em que o domínio e plena combinação de suas habilidades pode lhe fazer vencedor.

Ainda no núcleo de Scott de amigos, conhecidos e outros, temos Mark Webber como Stephen, amigo e líder da banda, e talvez o mais preocupado para que ela chegue a algum lugar; Johnny Simmons como Young Nell, substituto de Scott na banda e amigo ligeiramente invisível; Aubrey Plaza – engraçadíssima – como Julie, conhecida e não muito fã de Scott, e as presenças de Ellen Wong como Knives, uma quase groupie, Alison Pill como Kim, baterista da banda Sex Bob-Omb, e Brie Larson como Envy Adams, vocalista da The Clash at Demonhead, todas ex-namoradas de Scott, com alguma mágoa por conta do passado, ou ciúme de Ramona. Embora seja evidente o desconforto delas na presença dele, ou do casal, suas reações são distintas, em nada se assemelhando ao que a Liga de Ex-Namorados do Mal propõe. Com atuações tão notáveis e fluidas é uma pena que o filme não se estenda indefinidamente como um seriado.

Na trilha sonora há várias bandas da cena musical canadense, como a Broken Social Scene que executa as músicas da banda Crash and The Boys, Metric que cede a faixa Black Sheep para a apresentação da banda The Clash at Demonhead, interpretada pela atriz Brie Larson, e ainda com Plumtree, cuja faixa Scott Pilgrim deu origem ao nome do protagonista, e cuja camiseta é usada por ele no filme. Contando também com os americanos Black Lips, Frank Black, Beachwood Sparks, e tendo Beck Harson como compositor das músicas da banda Sex Bob-Omb; ainda fazem parte da trilha os ingleses do The Blood Red Shoes, The Blue Stones, T. Rex e The Rolling Stones, compondo assim uma trilha bem jovial e rock’n’roll com uma pegada bem eclética graças à diversidade de estilos.

Curiosidade: Teve um jogo lançado para PlayStation 3 e XBOX 360.

Título original: Scott Pilgrim vs. the World

Direção: Edgar Wright

Elenco: Michael Cera, Mary Elizabeth Winstead, Kieran Culkin, Ellen Wong, Alison Pill, Mark Webber, Johnny Simmons, Anna Kendrick, Brie Larson, Aubrey Plaza, Satya Bhabha, Chris Evans, Brandon Routh, Mae Whitman, Keita Saito, Shota Saito, Jason Schwartzman.

Sinopse: Acostumado a uma vida sem grandes emoções, Scott Pilgrim vê tudo mudar ao se apaixonar por Ramona Flowers, que é perseguida por uma liga de ex-namorados do mal dispostos a tudo para separá-la de possíveis pretendentes.


Trailer:




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