Crítica: Elle (2016, de Paul Verhoeven)

O candidato francês ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é um thriller ambíguo que não se encaixa nos moldes da academia, mas é tão bom que deve ser lembrado na premiação.

Dirigido por Paul Verhoeven (Robocop, O Vingador do Futuro), Elle conta a história de Michèle, mulher que foi estuprada e tem que lidar com isso, mas o faz de maneira bem inconvencional. Verhoeven não mostra todas as suas cartas de início. Você espera que o filme será um thriller como os de David Fincher ou Alfred Hithcock, e o diretor entrega uma mistura disso com um estudo de personagem nunca antes visto no cinema. É um dos filmes mais ambíguos que eu já vi na vida. Cada um vai julgar as ações de cada personagem de acordo com sua visão de mundo.





Nesse jogo de surpresas, Verhoeven e o roteiro de David Birke fazem um excelente trabalho ao abrir o leque de suspeitos do crime, que não é nada pequeno. É um filme muito meticuloso, e você analisa cada movimento corporal do personagem buscando uma resposta sobre quem é o tão misterioso criminoso. Mas o filme não é só isso. É um dos estudos de personagem mais particulares que eu já vi na vida. É um filme que te surpreende a cada minuto que se passa, seja por uma revelação chocante, um ato de Michèle, ou algo que você não espera nem que apareça no filme. Os diálogos em alguns momentos são expositivos mas de forma natural, nada que sai da boca dos personagens soa forçado, o filme não subestima a inteligência do espectador e nos deixa concluir algumas coisas por nós mesmos. Aos poucos vão sendo reveladas relações passadas de personagens e você não consegue prever o que está para vir à seguir. É um filme que me deixou o tempo todo na ponta da cadeira. Nesse sentido me lembrou o excepcional Gone Girl (Garota Exemplar, 2014) de David Fincher. Verhoeven estuda todos os elementos da trama profundamente, nada fica jogado. A única cena vazia do filme é uma que envolve um pássaro, que não acrescenta nada à história. Além disso, ele não usa de truques baratos e sentimentalistas em nenhuma parte. É um filme cru e denso, e seu diretor reconhece isso e trabalha com perfeição.

O filme é tecnicamente impecável. A edição é muito bem pensada, a trilha sonora é sutil, melancólica e encaixa perfeitamente no filme, a fotografia é em sua maioria composta por cores frias e passa perfeitamente o clima pesado e depressivo que a narrativa exige, o figurino é muito bonito e a direção de arte é lindíssima.

Mas, sem sombra de dúvidas, o maior triunfo do filme é a atuação brilhante de Isabelle Huppert. Ela passa todas as emoções da personagem com perfeição e em algumas cenas te deixa desesperado para saber o porque da personagem ter feito tal coisa ou ter sorrido em uma situação dificílima. Acredito que ela brigará com Sônia Braga pela vaga estrangeira na categoria de melhor atriz no Oscar.

O elenco do filme é grande e ninguém prejudica, mas ninguém brilha também. O que mais me chamou atenção tirando Huppert foi Laurent Lafitte, que vai ganhando mais espaço no filme a cada minuto que se passa e dá conta do personagem.

O momento da grande revelação do filme é muito bem feito, mas o que o segue é meio confuso. De primeira, eu achei ridícula a reação dela quando descobre o seu estuprador. Ao longo do filme, isso se desenvolve melhor e não foi um problema tão grande, pois o filme explica (não por meio de diálogos expositivos) o porque de tal ato.

Elle é um filme ambíguo, melancólico, pesado, depressivo, com um diretor que entende a história que quer contar, um roteiro objetivo e muito bem escrito, uma atuação central brilhante e, no conjunto da obra, um excelente filme.

Título Original: Elle

Direção: Paul Verhoeven

Elenco: Isabelle Huppert, Laurent Lafitte, Charles Berling, Virginie Efira, Christian Berkel, Judith Magre, Jonas Bloqet

Sinopse: Michèle é a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale. O problema é que o agressor misterioso ainda não desistiu dela.

TRAILER:







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