Crítica: Capitão Fantástico (2016, de Matt Ross)


Ovacionado nos Festivais de Cannes e de Sundance, Capitão Fantástico, um filme do ator e diretor Matt Ross, desde seu lançamento vem conquistando o coração de quem assiste ao longa. O drama que ganhou vários prêmios ao redor do mundo e chegou até a ser considerado (por muitos) como o melhor filme apresentado em Cannes, tem sua trama voltada para uma família que mora e vive em uma floresta, com um modo de vida muito contrário ao da sociedade. Porém, devido a um acontecimento, eles precisam repensar a forma que vivem. Um filme divertido, inteligente e deliciosamente excêntrico. Imperdível!

Em uma pequena floresta perdida no Noroeste Pacífico, EUA, mora uma família fora do comum. Ben e Leslie formam um casal não ortodoxo que, desiludidos pelo capitalismo e o modo de vida americano, resolvem tomar conta de toda a educação dos filhos (literalmente). Ensinando para eles sua própria filosofia de vida e modo de sobreviver na floresta, que se baseiam em convívio ao ar livre, estudo domiciliar com livros de literatura e física, caçar sua própria comida, fogueiras e treinamentos físicos diários. Sem o uso de nenhum tipo de tecnologia. Porém, Leslie começa a sofrer um forte distúrbio bipolar e precisa ser internada em um hospital longe de onde vivem. Ben, então, precisa tomar conta sozinho de seus seis filhos (de nomes bem únicos): Bodevan, Kiely, Vespyr, Rellian, Zaja e Nai. O modo de educação deles parece ser perfeito para Ben e seus filhos (exceto para o jovem Rellian, que parece ter se cansado do estilo de ensinar do pai). Mas veremos que esse modo de vida tem tantos pontos positivos como negativos.

Escrito e dirigido por Matt Ross (conhecido por atuar no seriado de comédia Silicon Valley e por dirigir 28 Hotel Rooms), Capitão Fantástico aborda um dos assuntos que mais geram dúvidas e divergência de opiniões: o modo de criação dos filhos. É interessante como simpatizamos com Ben e seus filhos, o modo como vivem é muito tranquilo e simples, passando a sensação de que a família está vivendo em outra época enquanto o resto do mundo está no ano de 2016. A forma que eles são educados, os une, rendendo várias belas cenas familiares. A maneira como eles são felizes apenas por tocar uma música com a família reunida, encanta. Deixando de lado completamente o celular, computador ou qualquer tecnologia que praticamente dominam a sociedade atual.



Ben é sempre muito direto e honesto com os filhos. Mesmo com os mais novos, ele responde às suas perguntas com a mais pura verdade. O que resulta em cenas muito cômicas, como por exemplo, a cena em que tenta ensinar para seu filho de apenas oito anos, o que é uma relação sexual, sem mencionar a clássica história da cegonha. É legal como ele ensina seus filhos as doutrinas e ideologias, ensinando várias delas e não induzindo-os a seguir uma especificamente, mas deixando eles mesmos formularem suas próprias ideias e escolherem no que acreditar. Além de preparar metas diárias de leitura para cada um, de uma lista de livros que ele mesmo escreveu. Outra característica interessante sobre a educação que Ben dá para seus filhos, é o modo como ele os ensina a curtir a natureza e estar em contato com ela, deixando de lado toda a tecnologia atual. É tão comum vermos crianças de cinco ou seis anos já com um tablet ou celular na mão, com os olhos vidrados na telinha preta. Mas os filhos de Ben são completamente diferentes: em vez de carregarem aparelhos tecnológicos, estão sempre com livros, instrumentos musicais ou até mesmo, facas para caçar. No entanto, nem tudo é um mar de rosas e logo veremos que essa educação extremista, tem seus erros.



Esse estilo de vida isola demais seus filhos, que por não irem à escola, não pensam em faculdade, emprego ou outro caminho que eles queiram tomar. Apenas seguem o que o pai diz para seguirem. Ben tenta ensiná-los da melhor maneira possível, para prepará-los para o mundo. Mas apenas os prepara para seu próprio mundo, isolando-os de todo o restante. Em um dos melhores momentos do filme, é posto à prova as diferenças entre a educação dos filhos de Ben e a educação comum de uma sociedade, em uma cena simples (porém, genial) de um jantar. O que resulta em diferentes e interessantes pontos de vista. O longa em si pode gerar divergências entre os espectadores, alguns podem achar a forma de educar de Ben uma pura baboseira hippie, mas um dos pontos do filme é justamente tratar a liberdade: todos nós temos nossos direitos de acreditar no que queremos e viver da maneira que mais nos agrada. E Ben apenas tenta ensinar isso para seus filhos.


A atuação de Viggo Mortensen (O Senhor dos Anéis e Senhores do Crime) está ótima (como esperado), e o elenco mais jovem conta com atores pouco conhecidos mas muito talentosos, que também estão ótimos no filme. A mistura de excelentes atores e personagens excêntricos, resultou em uma família bem divertida e diferente. A direção do filme é delicada e direta, combinando com o estilo de vida natural de Ben e seus filhos, com jogos de câmera simples, mas inteligentes, destacando bem o sentimento familiar que o filme transmite. Matt Ross, além de escrever o roteiro, dirige o filme muito bem e mostra (mais uma vez) que também sabe fazer um bom trabalho atrás das câmeras. A trilha sonora é, de certa forma, única (assim como o filme). Reúne músicas de Sigur Rós, Jónsi & Alex, Israel Nash e The O’Neill Brothers Group. Além de músicas clássicas (Glenn Gould e Yo-Yo Ma) e um belo cover de Sweet Child O’Mine, de Guns ‘n’ Roses.



O longa resgata bastante aquele sentimento de estar em constante contato com a natureza e de viver em um modo contrário da sociedade atual, com o intuito de fugir da vida banal atual, que se baseiam basicamente no dinheiro, comida industrializada, prédios e tecnologia. Essas características fortes acabam nos fazendo lembrar de tramas similares de outros filmes conhecidos (que são baseados em fatos reais), como Na Natureza Selvagem (2007) de Sean Penn, que conta a história de Christopher McCandless, um jovem que decide largar sua vida na sociedade para viver livremente na natureza, e Livre (2014) de Jean-Marc Vallée, sobre Cheryl Strayed, uma mulher que precisando de um tempo sozinha para repensar sua vida, decide trilhar a PCT (Pacific Crest Trail, trilha famosa na costa oeste dos EUA) em busca de auto-conhecimento. E nos remete também a vários livros naturalistas (que inclusive, influenciaram McCandless e Strayed) como Natureza de Ralph Waldo Emerson e Walden de Thoreau. Além de outros autores que valorizavam a natureza, como Jack Kerouac, Tolstói, Jack London, Emily Dickinson e Walt Whitman.

Em suma, Capitão Fantástico é tudo o que um filme quer ser: inusitado, engraçado e tocante. Tem um roteiro excelente, com uma história bem simples, mas que envolve muito quem está assistindo. E ainda trata os valores familiares com muita sutileza. O filme, com certeza, mereceu todos os aplausos que recebeu em diversos festivais ao redor do mundo.





Título Original: Captain Fantastic


Direção: Matt Ross


Elenco: Viggo Mortensen, George McKay, Annalise Basso, Samantha Isler, Shree Crooks, Nicholas Hamilton, Kathryn Hahn, Frank Langella, Steve Zahn, Erin Moriarty, Missi Pyle, Ann Dowd, Louis Hobson, Trin Miller


Sinopse: Nas florestas do noroeste do Pacífico, um pai dedicado que educa os seus seis filhos com um rigoroso programa de desenvolvimento físico e intelectual é forçado a deixar o seu paraíso, desafiando a sua ideia do que significa ser pai.


Trailer:



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