Crítica: Ash vs Evil Dead (1ª temporada)

Os últimos anos da televisão americana foram marcados pela onda de adaptações de filmes e séries que fizeram sucesso há uma geração, ou nem tão longe assim, dos que ainda não deram nem tempo de serem esquecidos, como é o caso de A Hora do Rush (que já está cancelada), Máquina Mortífera e MacGyver, que tiveram recepções já negativas da crítica especializada. A época atual de remakes, reboots e continuações parece não ter dado sinal de que vai acabar, até porque ela dá lucro, muito lucro. 

Não é muita surpresa esperar que a maioria desses produtos venha preguiçosa, mas as vezes os produtores conseguem as mãos certas e, como é o caso de Ash vs Evil Dead, conseguem criar um trabalho que sabe muito bem onde se encaixa e que é certo para o público certo.
Evil Dead (Uma Noite Alucinante, no Brasil) é um nome que hoje representa uma boa nostalgia para aqueles que compartilham o gosto pelo nicho do terror trash. A série de filmes, que se iniciou em 1981, começou com um primeiro exemplar mais sério, com elementos gore, e com um Sam Raimi muito criativo com a câmera e com o espaço em sua volta. Suas duas sequências se enveredaram mais para o trash (no sentido mais narrativo) e a comédia de desespero, também muito em função de seu protagonista, que cada vez mais abraçou o gênero e a personalidade canastrona que o consagraram como um herói do terror B.
Finalmente, em 2015 chegou a adaptação para a TV, com uma temporada de 10 episódios que prometia resgatar o espírito da franquia, trazendo de volta seu herói interpretado pelo ótimo Bruce Campbell, com sua admirável capacidade de transbordar magnetismo mesmo sendo um sujeito detestável. Ash é, de fato, o grande chamativo da série. Ao optar por seguir a franquia nos moldes das continuações cinematográficas, os roteiristas criaram um personagem atraentemente desagradável, que se comporta o tempo como um adolescente num corpo de um adulto, exibindo uma imaturidade cômica e quase inacreditável. As frases de efeito que fizeram parte da franquia original são um elemento à parte e estão mais hilárias e saudosistas do que nunca. 
O elenco principal foi um acerto: Dana DeLorenzo e Ray Santiago tem carisma e conseguem dar a Kelly e Pablo um frescor dinâmico e atual. A Ruby de Lucy Lawless, além de ser uma adição numérica, representa uma tentativa dos criadores de expandir a mitologia em volta da origem dos demônios.
É preciso ressaltar que Ash vs Evil funcionará mais para aqueles que são fãs desse tipo terror, que se caracteriza pelo descompromisso com a profundidade da história e não é muito preocupado com a tensão clássica do gênero. O tom é majoritariamente canastrão como seu personagem principal. Talvez é daí que venham alguns problemas na abordagem da série. Os episódios constantemente flertam com o limite da linha que separa o descompromisso do total desligamento da capacidade do espectador de se importar com o que está acontecendo. Se o elenco não fosse bom e a maioria dos episódios não fossem divertidos, a empreitada poderia fracassar. A boa notícia é que isso não acontece e os 10 episódios conseguem manter um bom nível, mesmo que a aparição de subplots e de personagens secundários acabe servindo apenas para encher o tempo da temporada. Ainda assim, os fãs são brindados com várias referências e com um encontro muito esperado para os amantes da franquia.
Se o tom se mantém estável, também a direção consegue ser eficiente sem parecer uma cópia das características estilísticas de Sam Raimi, conhecido por seus closes rápidos e montagem rítmica (exemplo a sequência que Ash se prepara para esquartejar um corpo na franquia original, e também a cena do hospital em Homem-Aranha 2). Em vez de imitar, os diretores preferem homenageá-las aqui ou ali num tom mais cômico, como na sequência inicial do primeiro episódio, quando Ash veste uma espécie de cinta modeladora na barriga com o mesmo empenho em que se prepara para usar sua icônica motosserra para enfrentar os demônios.
A premissa dos filmes sempre foi simples: um livro antigo escrito com sangue e feito dos mortos é o responsável por ser uma ponte entre o mundo dos vivos e dos demônios. A partir do momento em que serão necessárias várias horas para desenvolver a história na televisão (agora a série já está garantida até a 3ª temporada) surge também a necessidade de expandir as explicações para esse universo. É o único grande risco que a série realmente corre. Ao tentar fazer isso, a mitologia corre o risco de se tornar enfadonha, como acaba acontecendo em alguns momentos. 
Por fim, a 1ª temporada de Ash vs Evil Dead não é espetacular, mas conseguiu seu objetivo: entreter o público que sentiu falta de Ash, do Necronomicon (o livro dos Mortos) e de uma boa diversão. Com o bom começo de seu segundo ano, só resta nos juntarmos ao coro de “Grooovy!” e aproveitar a carnificina.
Título Original: Ash vs Evil Dead
Direção: David Frazee, Michael Hurst, Michael J. Bassett, Rick Jacobson, Sam Raimi, Tony Tilse
Elenco: Bruce Campbell, Lucy Lawless, Dana DeLorenzo, Ray Santiago
Sinopse: Ash (Bruce Campbell) passou as três últimas décadas empunhando uma motosserra e evitando responsabilidades, a maturidade e todos os horrores de Evil Dead. Quando uma praga ameaça a humanidade, Ash é forçado a enfrentar seus demônios – em todos os sentidos.


Trailer



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