Crítica: 31 (2016, de Rob Zombie)



O roqueiro e diretor Rob Zombie é um cineasta polêmico. Abusando de referências dos slashers e exploitations setentistas, ele bebe de vertentes que lembram os clássicos ‘O Massacre da Serra Elétrica’ (1974, de Tobe Hooper), ‘Quadrilha de Sádicos’ (1977, de Wes Craven) e produções do tipo, quase sempre envolvendo viagens (road movies) e trazendo uma forte pegada no gore e nudez. Se seus filmes trazem estas referências e é um prato cheio para quem curte produções mais pesadas, por outro lado suas obras são amplamente detonadas pela falta de roteiro, atuações canastronas, estilo de filmagem amador e uma superestimada valorização da atriz Sheri Moon Zombie, que por sinal é esposa do diretor. Entre as suas obras mais bem vistas, encontram-se as duas primeiras: ‘A Casa dos Mil Corpos’, que brinca com os clichês dos filmes de terror como os citados mais acima; e uma pseudo-continuação deste chamada ‘Rejeitados Pelo Diabo’, que é chocante mas disparada sua melhor obra. Após isso, Zombie foi amplamente detonado pelos seus remakes do clássico ‘Halloween’ (o original de 1978 de John Carpenter). Apesar de falhas do roteiro e um visual grotesco excessivamente amador, estes dois últimos ‘Halloween’ (2007 e 2009) tem um terror bem forte, com um certo estudo sobre a infância, origem e mente de um psicopata. Além destes, outro filme detonado é ‘As Senhoras de Salem’, que com suas cenas psicodélicas e abstratas, flerta com um estilo “lynchiano” e traz a melhor atuação de Sheri Moon.



Então chegamos a este demorado ’31’, que parece ter custado a sair do papel, pois foi feito com o dinheiro que os fãs do cineasta doaram por meio de um crowdfunding. O que dizer da obra? Não é totalmente ruim, mas talvez seja o pior (ou menos bom, depende do ponto de vista) filme do cineasta. O fiapo de roteiro é comum de todos nós. Um grupo de amigos drogados e desbocados dos anos 70 que são capturados por um grupo de assassinos sádicos e obrigados a jogar até a morte neste game chamado 31, onde temos rodadas em que os sequestrados enfrentam pessoas bizarras caracterizadas de palhaços macabros. Sem muitas explicações de quem são, de onde vieram, como começou e porquê fazerem isso, apenas temos de aceitar que estes palhaços lunáticos existem. Ajudando em nada este roteiro incompleto, temos atuações realmente péssimas. Até Sheri Moon já esteve melhor antes. Porém é válido destacar que Richard Brake interpreta o vilão principal de maneira assustadora, se assemelhando muito com o Coringa dos filmes do ‘Batman’, porém numa versão assumidamente sádica. E Elizabeth Daily, apesar de atuar de maneira ruim, assumiu um visual assustador e sexy no estilo Arlequina, parecendo se divertir com as barbáries cometidas. Com um Coringa e uma Arlequina liderando estes loucos palhaços armados de facas, motoserras e que tem direito a um anão psicopata na turma, o filme parece um ‘Esquadrão Suicida’ do terror. Fazendo-se claramente esta sátira, o longa ganha pontos pelo humor negro sutil e implícito.

O gore está presente em umas 5 cenas bem explícitas, mas não achei o mais forte dos filmes de Zombie, ele entregou cenas mais chocantes em ‘Rejeitados Pelo Diabo’ e o ‘Halloween’ de 2007. Mas ainda assim deverá manter a atenção do público alvo. Talvez o grande problema na direção de Zombie seja sempre entregar uma filmagem bem amadora, com cortes grotescos e edição apressada. Se fosse melhor apresentado, com pelo menos dois personagens bem desenvolvidos e um final realmente marcante e de grande confronto, poderíamos ter tido algo diferenciado. Porém as cenas finais inconcludentes deixam uma má impressão de que a pesada jornada foi mal apresentada e sem desfecho. 

’31’ é um filme bem específico para quem já conhece o estilo da mente por trás da obra. E para quem já procura um filme que aposte no terror gráfico em vez do terror atmosférico. É divertido, tem boa trilha sonora, uma fotografia amarelada e suja que dão um ar áspero à produção e uma boa (apesar de cartunesca) caracterização das personagens. O estilo rock metal e punk aliado a elementos góticos e do terror setentista com detalhes hippies tornam o filme uma curiosidade visual. É uma produção que merece ser conferida, apesar de não marcar. Em um ano fortíssimo para o terror, algo que não acontecia a tempos, ’31’ não é o thriller de 2016. É apenas mais um filme sujo de Zombie. Está na hora do cineasta se concentrar e trabalhar em algo novo, talvez ainda mais chocante, mas bem estruturado, visto que potencial existe ali. O cineasta claramente entende e aprecia o gênero do terror, mas nem sempre consegue mostrar na prática este conhecimento. Ele parece um eterno estudante de feira de ciências, sempre em fase experimental. E enquanto ele continua brincando, vamos dando chances a ele. 

NOTA: 5


Título Original: 31

Direção: Rob Zombie

Elenco: Jeffrey Daniel Phillips, Richard Brake, Sheri Moon Zombie, Andrea Dora, Daniel Roebuck, David Ury, Elizabeth Daily , Esperanza America, Malcolm McDowell, Meg Foster.

Sinopse: situada em 1975, a trama mostrará a história de cinco pessoas sequestradas, cinco dias antes do Halloween. Mantidas reféns num local conhecido como Murder World, elas precisam participar de um violento jogo de sobrevivência chamado 31, comandado por palhaços assassinos e armados com motosserras.

Trailer: 













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