Crítica: Herança de Sangue (2016, de Jean-François Richet)





Com as franquias ‘Máquina Mortífera’ e ‘Mad Max’, Mel Gibson se tornou um astro da ação, amado pelo público e respeitado pela crítica. Além da sua boa performance na pancadaria, o ator mostrou características cômicas (às vezes de humor negro) que faziam ele ter carisma em cena. Assim, Gibson foi um expoente no cinema de entretenimento. Porém seus problemas pessoais vieram a público, envolto de polêmicas como agressões a esposa, tendências violentas e atitudes um tanto preconceituosas. Com o final dos anos 90 e chegada dos anos 2000, Gibson já não tinha mais lugar no meio dos filmes de ação, apostando assim em uma carreira como diretor. Seria esta uma das melhores coisas que ele faria, pois como cineasta ele ainda tinha mais qualidades, entregando obras contundentes e de força cinematográfica, como o clássico ‘Coração Valente’, o chocante ‘A Paixão de Cristo’ e o divertido ‘Apocalypto’. Porém nos últimos anos ele também se afastou desta função. Atuando em filmes mais humildes recentemente, onde apostaram mais no lado dramático, ele fez papeis legais, mas que já não chamaram a atenção. Teve uma pequena volta ao passado como o vilão do nostálgico e injustiçado ‘Mercenários 3’, mas ainda faltava-lhe seu bom retorno como herói. Bem, não falta mais. Em cartaz nos cinemas, ‘Herança de Sangue’ resgata o protagonismo de Mel Gibson, ao mesmo tempo em que não deixa de ser uma referência interna ao mesmo.



A trama é bastante clichê e simples, diria até mesmo banal. Um pai ex-presidiário que largou a vida do crime, mas que precisa a voltar a “pegar pesado” para salvar sua filha, ao mesmo tempo em que tenta se reaproximar dela. Já vimos muitos filmes assim, é verdade. Mas aqui temos um caso onde o material “requentado” funciona, pois trata-se bem as personagens que se tem em mãos. É interessante como os roteiristas e o diretor francês Jean-François Richet se preocupam em deixar o filme simples e sem frescuras, tornando-o bem cru tanto nos acontecimentos criminosos quanto no drama familiar. Direto ao ponto, o filme mostra como a jovem acaba seguindo os mesmos passos do pai e como isto acarreta tragédias pelo caminho. Juntos novamente, é irônico que enquanto estão sendo caçados e diante a possibilidade de morte; na verdade ambos criam laços e se reaproximam, numa espécie de redenção. 




Interessante que como vários diálogos de John (Gibson) envolvendo sua descida à desgraça, remetem a vida real do ator, na perda da família, etc. Algo parecido com o que ocorreu no filme ‘JCVD’, onde o próprio Jean-Claude Van Damme interrompe a história do filme para brevemente desabafar sobre as desgraças de sua vida. Aqui ocorre algo similar, mesmo que mais sutil. A entrega do ator Mel Gibson é louvável, uma vez que ele mescla muito bem seus estilo de “porrada e piada”, ao mesmo tempo em que entrega passagens de um pai preocupado e com arrependimentos. O astro sempre consegue passar sintonia com o público. A jovem atriz Erin Moriarty é Lydia, filha do John. Se a atriz não faz nada marcante, ao menos atua de maneira aceitável. Diego Luna faz o típico vilão latino, mas está ok no papel. 


A fotografia é bonita, aproveitando paisagens ásperas que às vezes lembra um faroeste. As cenas de ação filmadas com motos são bem executadas e nada exageradas. Não nos sentimos em um filme como ‘Velozes e Furiosos’, mas sentimos a sensação de realismo e perigo, devido a maneira em que a câmera se posiciona mostrando os automóveis, a rodovia e as paisagens ao fundo. Realmente remete a um “bang bang’ moderno. Por fim, ‘Herança de Sangue’ não é revolucionário. Mas é uma produção bem executada, que diverte facilmente, traz a típica caçada com vilões e herói. Traz um Mel Gibson inspirado, em um ótimo retorno aos filmes de ação. Seus estilo de humor negro está ali presente. E tem certos momentos que servem como redenção, remetendo brevemente ao cenário e aos dilemas de ‘Mad Max’, enquanto que disserta questões pessoais do ator. E por isso já merece certa atenção.


NOTA: 7




Título Original: Blood Father


Direção: Jean-François Richet


Elenco: Mel Gibson, Elisabeth Röhm, Erin Moriarty, William
H. Macy, Diego Luna, Thomas Mann, Dale Dickey, Michael Parks. 


Sinopse: após seu namorado traficante culpá-la pelo roubo de uma fortuna do
cartel, Lydia, uma jovem de 17 anos, precisa fugir. Ela só tem um aliado em
todo o mundo: seu pai nada confiável, John Link, um motoqueiro fora-da-lei que
já cumpriu pena. Agora ele está determinado a manter sua filhinha fora do
perigo e fazer a coisa certa pela primeira vez na vida.




Trailer:












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