Crítica: The Mermaid (Mei Ren You – 2016, de Stephen Chow) – O sucesso chinês de 2016!



Stephen Chow é um dos maiores astros do cinema chinês atualmente. O cineasta
começou como ator, em filmes de artes marciais que homenageavam e seguiam a
linha do lendário Bruce Lee, alguns com conteúdo mais trash e bizarro, mas
ainda sobre lutas. Mas com a chegada dos anos 2000, Chow se especializou como
produtor, roteirista e diretor de cinema, além de atuar nos seus próprios
filmes. Suas obras são comédias pastelonas bem bizarras, com cenas trash e
malucas. Mas ironicamente estes filmes carregam críticas sociais, um certo peso
dramático, efeitos especiais dignos de superproduções hollywoodianas e um pouco
de história e elementos culturais da China. Por mais estranhas que pareçam,
suas obras ganharam status cult e são pequenas pérolas cinematográficas. 
Filmes como Kung-Fusão’ e ‘Kung-Fu Futebol Clube’ são extremamente hilários e divertidos, abusando de excentricidade. Depois de um tempo sem nada marcante, estreia em 2016 seu novo trabalho, que traduzido do nome original chinês para o inglês seria ‘Mei Ren You’, mas que também ganhou o genérico nome americano ‘The Mermaid’ (‘A Sereia’). Estrondoso sucesso de bilheteria, é o único filme não americano a aparecer na lista dos 10 mais assistidos de 2016 até o momento, com mais de 500 milhões de dólares arrecadados. E alcançou 90% de aprovação da crítica especializada. Isso é muita coisa, totalmente inesperado na verdade. Bem, o que achamos do filme? Desta vez sem atuar, o diretor entrega uma produção bastante original.




Na trama acompanhamos o jovem empresário Xuan, que não liga para os resultados que seu trabalho causa no meio ambiente de uma região marítima. Em um esconderijo, as míticas sereias planejam uma vingança, enviando uma jovem sereia chamada Shan para seduzir e matar o empresário. A parte clichê é que é óbvio que eles se apaixonam. A notícia boa é que a forma que a história é conduzida apresenta-se de maneira bem autoral. Apesar das atuações dos astros orientais Chao Deng e Jelly Lin serem um tanto fracas e caricatas (caricatura é uma marca do humor oriental), ao menos eles parecem estar se divertindo nos papéis e passam alguma química em cena, dando um ponto a mais para a brincadeira. E o roteiro acerta em apresentar situações bizarras e personagens excêntricos. Se Xuan por um lado é um playboy egocêntrico, o rapaz carrega um passado humilde e tem bom coração, além de protagonizar cenas bem cômicas de dança e canto. Se a sereia Shan tem uma missão assassina, mostrando-se um tanto burra (aliás todas sereias ironicamente são), ao mesmo tempo em ela tem coragem e por fim faz-nos sentir empatia por ela.




No elenco de coadjuvantes, destaco a bela Zhang Yuqi como a megera e badass do filme, enquanto que Show Luo é Octopus, um violento porém bem intencionado polvo, que possui algumas das cenas mais engraçadas. A trilha sonora é um tanto grandiosa e exagerada demais, remetendo a algo épico, porém isso é outra característica típica dos filmes oriundos de lá. Os efeitos especiais às vezes não funcionam, entregando telões de fundo verde, cenários artificias e cenas onde claramente se percebe o CGI da computação gráfica. Há o descuido envolvendo cenas onde se apresenta água, onde objetos e personagens não estão molhados. Mas estes detalhes não atrapalham tanto. A computação dos tentáculos de Octopus é ótima, tem movimento e parece algo vivo, parece que tem vida própria. Parte da fotografia privilegia os cenários, que quando reais, enchem os olhos. E a direção de Stephen Chow merece palmas, com ângulos de câmera bem enquadrados, centralizando nas personagens mas apresentando nas laterais a simetria dos cenários e detalhes da direção de arte. Esta parte da direção que privilegia os ambientes e cenários enriquece o filme visualmente.




Por fim devo alertar que é um filme para poucos, pouquíssimos. Quem está acostumado com as produções de sempre de Hollywood como ‘Vingadores’ e comédias estilo ‘American Pie’ ou ‘Ted’ com certeza irá estranhar o filme. O humor do cinema oriental é muito estranho e cartunesco, com piadas bobas e personagens “patetas”. Há acontecimentos trash que podem chocar e repelir o público. Porém isso é típico deste cinema e quem acompanha sabe do que falo. É uma produção bem interessante, que serve para fugir dos filmes americanos que estão sempre iguais. É toda uma cultura e estilo próprio, que merece respeito. E é louvável o diretor Chow pegar elementos clichês e apresentá-los de maneira simples, mas inteligente. Com cerca de apenas 1 hora e meia o filme é bastante ágil, não parando nem um minuto; mas ao mesmo tempo em que não é incompleto ou apressado demais. Tem alguns sutis momentos fofos ou de peso dramático, mas nunca deixa de divertir com um senso de humor negro, às vezes trágico. O final pode parecer exagerado e há uma presença grande de sangue, mas isto foi necessário para fazer-nos refletir. Pois além da aventura, fantasia, romance e comédia do filme, sua maior intenção é fazer um alerta ecológico. As sereias podem ser uma metáfora, na vida real podemos trocar elas por golfinhos, baleias, tubarões e outras espécies oceânicas. Há uma pesca predatória e matança desenfreada desses animais, principalmente lá na China, Japão e redondezas. Há ainda menções às bombas nucleares e poluição dos mares: atrocidades cometidas pelos homens de grandes governos e corporações. ‘The Mermaid’ diverte, mas apresenta coragem de criticar o seu próprio país. E isso é algo que enriquece ainda mais esta bizarra, hilária e alarmante produção.


NOTA: 8



Título
Original: Mei Ren You


Direção: Stephen
Chow


Elenco: Chao
Deng, Jelly Lin, Bai Ke Li, Hark Tsui, Ivan
Kotik, Kitty Zhang, Yuqi Kris, Lianshun
Kong, Pierre Bourdaud, Show Luo, Wen Zhang (II).


Sinopse: um projeto de propriedade de Xuan envolvendo
a recuperação do mar ameaça a subsistência das sereias que dependem do mar para
sobreviver. A sereia Shan é enviada para parar Xuan e levá-lo para que
faça projeto em outro local. Apaixonado por Shan, Xuan planeja parar a
recuperação. 
Infelizmente, Shan e as outras sereias são caçadas por uma organização
oculta e Xuan tem que salvar Shan antes que seja tarde demais.





Trailer:




























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