Crítica: Dois Caras Legais (2016, de Shane Black)






Shane Black é um cineasta que tem um estilo que lembra às vezes Quentin Tarantino, em outros momentos lembra mais Guy Ritchie, com produções que falam sobre crime e máfia, mas mesclam isso com críticas à sociedade, ao estilo de vida do sonho americano e uma dose de humor negro. Quando o diretor fez ‘Homem de Ferro 3’ lá nas terras da Marvel, decepcionou muita gente e até agora é lembrado como um dos piores filmes dos heróis. Bem, com isso em mente e voltando à boa forma e a seu estilo antigo, Black entregou nesta temporada esta obra aqui, chamada ‘Dois Caras Legais’. É interessante que o filme fez pouco em bilheteria, devido a forte concorrência e também ao fato deste ano estar decepcionando neste quesito. Porém a produção brilhou com a crítica e o público, tendo uma aprovação altíssima nos meios críticos especializados (aprovação que chega a 95%), sendo ainda considerado o melhor filme investigativo e a melhor comédia de 2016. Isso é muito, pois se trata de uma novidade, em meio a tantos super-heróis, continuações e remakes que Hollywood anda lançando. Será que o filme é tão bom assim?



A resposta é sim! O enredo traz uma dupla muito improvável de investigadores particulares, que se vê numa conspiração criminosa e de pornografia em plena Hollywood dos anos 70. E é na reconstrução setentista que o longa se apoia. Visualmente , este filme “é um broto”. Os penteados, as roupas e o estilo transitam entre o glamour exagerado e o brega. Calças boca de sino, costeletas enormes, elementos hippie, a representação blacksploitation, os carrões da década, tudo é recriado de maneira bem fiel e chamativa, sendo quase que como um personagem próprio dentro do filme. A trilha sonora ajuda a empolgar e entrar na vibe “paz e amor”. O roteiro brilhantemente brinca e homenageia todos estes elementos, enquanto apresenta sua história de mistério, envolvendo a morte de uma grande pornstar. Concorrentes outrora, agora os dois investigadores terão um caso em comum. Nessa união, surgem diálogos e situações hilárias.



Neste tipo de filme um fator fundamental é uma boa química da dupla protagonista, caso contrário o filme afunda. E aqui temos uma química, um timing perfeito entre os astros Ryan Gosling e Russel Crowe. Se Crowe traz um personagem mais violento e durão, mas controlado e inteligente, Gosling encarna um protagonista canastrão, atrapalhado, bêbado e egoísta. Esta diferença entre eles traz alívios cômicos espontâneos e inteligentes. Ambos entregam atuações incríveis e hilárias. Uma grande surpresa é a jovem Angourie Rice, que interpreta a filha
de Gosling e curiosamente acaba sendo a verdadeira investigadora do longa. A
menina manda muito bem apresentando inteligência e uma atuação acima da média,
fiquemos de olho nela! A lendária Kim Basinger traz um papel que não deixa
de ser uma auto-referência, uma vez que ela já foi sex appeal e musa de
produções sensuais como ‘Nove e Meia Semanas de Amor’. Todos demais atores
estão muito bem em seus papéis, com visuais cartunescos e boas interpretações.
Dá gosto de ver como todos se esforçam em ter qualidade cênica.




Em uma espécie de releitura de alguns elementos do polêmico ‘Boogie Nights’, ‘Dois Caras Legais’ adentra no submundo do entretenimento adulto e pornográfico, mas sem ser explícito. Ao longo de duas horas o roteiro flui muito bem, nos levando nesta maluca investigação, entregando piadas bem planejadas e situações improváveis. A ação não chega a ser marcante como em um filme policial, mas funciona o suficiente. Há algumas cenas com palavrões, drogas, nudez e violência, que justificam a censura alta do filme. Mas nada chega a ser chocante, é apenas a representação dos elementos que tanto fizeram parte da cultura pop da década de 70.

‘Dois Caras Legais’ foge da regra das atuais comédias sem graça, trazendo boas personagens e boa história. A dupla protagonista é ótima, os coadjuvantes são um bônus e toda a criação de época é um “barato”. Um filme completamente sem pretensões, que surpreende, diverte fácil e prova que dá pra fazer um ótimo filme sem grandes efeitos de computação e capas de super-heróis. Desligue o cérebro, se liga na nostalgia e volte aos anos 70 com esta “viagem”. Legal mesmo é entrar na “onda” deste filme, que é um “bicho”.

NOTA: 8,5






Título Original: The Nice Guys


Direção: Shane Black


Elenco: Ryan Gosling, Russell Crowe, Angourie Rice, Ty
Simpkins, Matt Bomer, Kim Basinger, Yaya DaCosta, Keith
David, Margaret Qualley.

Sinopse: na Los Angeles dos anos 70, Amelia (Margaret
Qualley), filha de uma funcionária do Departamento de Justiça dos Estados
Unidos (Kim Basinger) é sequestrada. Ela então decide contratar Jackson Healy
(Russell Crowe), detetive particular violento e ex-alcoólatra, para investigar
o caso. O trabalho revela-se mais complicado do que o esperado e ele
decide dividir a investigação com o atrapalhado Holland March (Ryan Gosling).
Ambos descobrem que o caso de Amelia e a morte de uma estrela pornô estão, de
alguma maneira, relacionados. Eles então se deparam com uma conspiração
chocante que atinge até os mais altos círculos do poder.



Trailer: 
























Deixe seu comentário: 

Deixe uma resposta