Crítica: Deuses do Egito (2016, de Alex Proyas)






‘Deuses do Egito’ é o tipo de superprodução que já nasce fadada ao fracasso com
a crítica. Lotado de clichês, mais lotado ainda de efeitos especiais em CGI, o
longa ainda causou polêmica quando seus primeiros trailers surgiram. Isso
porque trazia um elenco branco, mais precisamente loiro na maior parte – quase
nórdico – enquanto que muitos afirmam que os egípcios antigos eram negros. Os
internautas detonaram a produção e o já julgaram como preconceituoso e ruim sem
nem mesmo verem o filme. Bem, sem querer defender o filme, registros históricos
mostram que na verdade houve uma miscigenação entre os primeiros egípcios
(brancos) e os núbios (povo desbravador negro). Então na maior parte, os
egípcios eram de pele morena – às vezes mulata – em um meio termo que contradiz
tanto o filme como quem afirma que eram negros. É importante ler os fatos
históricos antes de sair falando. Neste caso ambos os lados se apresentam
errados. Bem, deixando de lado a discussão étnica (leia sobre o assunto aqui!), voltemos ao principal, falar da
produção cinematográfica.



Talvez o maior problema de ‘Deuses do Egito’ seja a falta de originalidade do roteiro, que apenas “requenta” uma mistura de acontecimentos e características de diversas outras produções de aventura. Vemos principalmente duas vertentes na qual o filme “bebe” inspiração. A primeira seria ‘Fúria de Titãs’ (o original clássico e os dois remakes recentes). Se em ‘Fúria de Titãs’ temos um embate entre humanos mortais, deuses imortais e seus filhos semideuses, tudo “regado” a muita mitologia grega, aqui temos elementos similares, apenas trocando a mitologia grega pela mitologia egípcia. E aí chegamos na segunda vertente: a aventura e elementos místicos egípcios lembram em parte os dois primeiros filmes da franquia ‘A Múmia’. Cito primariamente estes, fora os diversos outros clichês de diversas fantasias, como ‘O Senhor dos Anéis’, ‘As Crônicas de Nárnia’ e os atuais filmes de super heróis. Nesta mistura carnavalesca, você encontrará várias cenas já vistas em outras produções, às vezes um tanto forçadas.


O cineasta Alex Proyas já teve muito potencial. O cult noventista ‘O Corvo’ é um filme sombrio e poético, sendo o primeiro e último grande filme de Brandon Lee (filho do Bruce Lee), que morreu durante as gravações do filme. Nos anos 2000, o diretor Proyas entregou outros dois filmes interessantes: ‘Eu, Robô’ e ‘Presságio’, que trabalham com velhos clichês de maneira interessante, colocando em paralelo ficção científica e elementos proféticos. Mas aqui o diretor perde um pouco da mão, pecando pelo excesso. Ele consegue dirigir uma aventura “desmiolada” que distrai fácil, realmente por duas horas você não fica entediado. Porém é tudo tão rápido e maluco que não dá tempo de assimilar tudo. Os efeitos especiais são bons, porém também estão em excesso, poluindo um pouco a imagem. A todo momento temos terra, faíscas, fogo, luz, magia e diversos tipos de partículas voando e se desintegrando, ocasionando um excessivo CGI.




A direção de arte é um destaque, com cenários bem
construídos, utensílios e detalhes que realmente remetem ao Egito. Embora
pomposos, cabelo e figurino são belíssimos e merecem destaque. A trilha sonora
é bem barulhenta e heroica, sendo outro acerto. O elenco de rostos conhecidos
se esforçam e parecem se divertir em cena. Gerard Butler (de ‘300’) faz um vilão caricato, porém tem porte e carisma sufic
iente para isso. Nikolaj Coster-Waldau (de ‘Game of Thrones’) também se esforça na pele de um deus egoísta, mas que precisa aprender a ser herói (lembrou do ‘Thor’?), porém o ator parece nórdico demais para o papel. Elodie Yung (a Elektra da série do ‘Demolidor’) é uma atriz ambígua: dona de uma beleza exótica e sexy, ela tem boa presença na ação e certo mistério, mas ainda parece fraca nas características dramáticas. Brenton Thwaites (de ‘O Doador de Memórias’) vem tentando emplacar como herói. Desta vez ao menos ele tem mais carisma. E a bela Courtney Eaton acaba sendo uma pequena surpresa como a mocinha que precisa ser salva.



Entre erros e acertos, ‘Deuses do Egito’ é um filme descompromissado, feito apenas para entreter e apresentar muitos efeitos especiais caros gerados em computador. Tem muita ação e mostra que às vezes os atores podem se divertir ao fazer um filme mais do que o público ao assistir. Algumas ideias são boas, como asas e armaduras meio futuristas, com plataformas celestiais que lembram naves. Estes elementos de ficção científica rapidamente lembra aquela teoria de que seres divinos e alienígenas seriam a mesma coisa, teoria amplamente dissipada no livro e no documentário ‘Eram os Deuses Astronautas?’. Isso é bem implícito e difícil de enxergar no filme, mas consegui captar algumas coisas neste quesito. Dentro da sua proposta, ‘Deuses do Egito’ é como andar em alguns brinquedos radicais em um parque de diversão. Não é algo que te marca, mas te diverte. E às vezes tudo que precisamos é apenas relaxar e se deixar divertir.


NOTA: 6




Título original: Gods of Egypt


Direção: Alex Proyas


Elenco: Gerard Butler, Nikolaj Coster-Waldau, Elodie Yung, Abbey
Lee, Courtney Eaton, Brenton Thwaites, Geoffrey Rush, Rufus Sewell,
Chadwick Boseman. 


Sinopse: Bek (Brenton Thwaites) é um mortal pacato que se considera apenas
mais um soldado, e que vive em um Egito ancestral dominado por deuses e forças
ocultas. Quando o impiedoso Set (Gerard Butler), deus da escuridão, toma o
trono da nação e mergulha a sociedade no caos, o jovem se unirá a outros
cidadãos e com o poderoso deus Horus (Nikolaj Coster-Waldau), para formar uma
expressiva resistência.



Trailer: 

























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