Crítica: Viagem Sem Volta (2013, de Sebastián Silva)

Recheado de controvérsias, o filme ‘Viagem Sem Volta’ dividiu opiniões e causou revolta no público. Muitos detestaram o fato do longa ter sido lançado tanto nos EUA como no Brasil como suspense ou terror. Na verdade, ele seria melhor descrito como um drama psicológico pesado com muita tensão. Por conta das cenas arrastadas, ele não é o melhor thriller do mundo, mas também não é o pior de todos. O que “tirou da lama” foram as atuações.


[ATENÇÃO: POSSÍVEIS SPOILERS]

A história segue Alicia (Juno Temple), jovem emocionalmente frágil com vinte e poucos anos e que tem um passado obscuro. Durante as férias, ela se junta à sua prima Sarah (Emily Browning), o namorado de Sarah, Agustín (Agustín Silva), o amigo excêntrico do casal, Brink (Michael Cera) e a irmã de Agustín, Barbara (Catalina Sandina Moreno) para um retiro no interior do Chile, mas as coisas não saem como foram planejadas. Desde o começo, a insônia faz com que Alicia perca a capacidade de distinguir sonhos da realidade. Nos dias que seguem, a tensão entre ela e os outros membros do grupo aumenta, especialmente com Brink, que expressa tendências antissociais radicais e não para de provocá-la. Depois da volta de Sarah, todas as ameaças saem o controle: Alicia é perseguida por um cão local que tenta copular em sua perna, Brink e Agustín praticam um jogo perigoso que a ameaça fisicamente, além de outras suspeitas de que Barbara está contra ela, por requerer quietude absoluta dentro de casa. Torna-se cada vez mais evidente que Alicia está prestes a perder a razão, o que preocupa os outros.


Levantamos aqui a pergunta que não quer calar: como levar uma pessoa para um lugar isolado para passar as férias sem se certificar que esse alguém passa por sérios problemas emocionais ao se sentir ameaçado? Foi o que mais me perguntei no decorrer do longa, onde é que Alicia estava com a cabeça para ir em uma viagem onde sabia que algo não daria certo. Enfim, acho que a impressão que o diretor quis passar ao público é que quem sofre de problemas assim, que não se arrisque com aventuras extremas, não seja deixado sozinho e acima de tudo, não esqueça seus remédios. Outra questão que levantei foi: “Se eu fosse deixado sozinho em um lugar isolado com pessoas que mal conheço, enquanto meu amigo precisa sumir por uns dias, eu também ficaria desconfortável.” O problema aqui surge quando Sarah precisa voltar para os EUA por um motivo implícito, mas que depois é revelado. Ao retornar de viagem, Alicia já se encontra perturbada pessoalmente, desconfiando de coisas terríveis sobre seus amigos. Os eventos seguintes então são inusitados. Alicia age de maneira incomum, pois devido a seus problemas mentais, ela faz coisas bizarras quando está inconsciente e depois disso não se lembra de nada do que possa ter cometido. Essas partes são macabras e ao mesmo tempo, cômicas.


Entrando na parte do roteiro, acredito que o primeiro e segundo ato foram razoáveis; conseguiram entreter o espectador. Entretanto, não posso dizer o mesmo do terceiro. Sério, o final foi o que mais me irritou; é super vago. Ele termina com aquela sensação de: “Tá, o que mais? Só isso?” Será o que provavelmente não agradará quem espera ver a conclusão da trama. Certas cenas te fazem achar que conforme o desfecho se aproxima, o filme vá dar um “up”, mas é aí que nos enganamos.


Temos aqui atuações que no geral, salvaram o filme. As mais aceitáveis diria que foram as de Emily Browning, de ‘Suckerpunch – Mundo Surreal’, ‘Desventuras em Série’ e ‘O Mistério Das Duas Irmãs’ e Juno Temple, de ‘Kaboom’, ‘Os Três Mosqueteiros’ e ‘Desejo e Reparação’. As duas representaram bem seus papéis, diferente de Michael Cera, de ‘Scott Pilgrim Contra O Mundo’ e ‘Juno’, que nos entrega um personagem totalmente caricato e simplório. O restante do elenco foi mediano, poderiam ter se saído melhor.


Ressalto que sem muitas músicas presentes, a duração 1 hora e meia não teve a trilha sonora apropriada, pois o silêncio resume a última cena e quando pensamos que pode “haver uma luz no fim do túnel”, ele simplesmente acaba. Pra ser sincero, não o recomendaria para todos os meus amigos, somente para quem estiver curioso sobre o desenrolar. Diria que é um filme pra se ver uma vez e ponto.


Nota: 6


Direção: Sebastián Silva


Elenco: Emily Browning, Michael Cera, Juno Temple, Agustín Silva, Catalina Sandino Moreno, Luis Dubó, Roxana Naranjo.


Trailer:
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