Crítica: Destino Especial (2016, de Jeff Nichols)





Jeff Nichols é um diretor de potencial, que filme após filme vem apresentando
assuntos clichês de maneira original e minimalista. No ótimo ‘O Abrigo’,
Nichols fala sobre um apocalipse profético, mas de maneira dramática, do ponto
de vista da “esquizofrenia”, com um protagonista paranoico mas que no
fim das contas nos surpreende com uma marcante cena final. Em seu novo
trabalho, o cineasta traz um assunto clichê e que facilmente poderia virar só
mais um blockbuster, mais uma superprodução de Hollywood. Mas Nichols escolheu
narrar esta história de um ponto de vista mais íntimo e simbólico.



Na trama acompanhamos um pai (o ótimo Michael Shannon, protagonista do citado
‘O Abrigo’) tentando proteger seu filho (Jaeden Lieberher). O garoto possui
dons especiais e por isso é procurado tanto pelo governo, quanto por uma
instituição religiosa fanática. O pai, a mãe e um amigo policial começam a
jornada para levar o garoto até uma coordenada específica, onde o jovem
cumprirá seu destino, mesmo não se sabendo o que é. Diante disto o diretor
aborda diversos assuntos como amor dos pais pelos filhos, quebras de sigilo do
governo, cegueira religiosa, ficção científica e um pouco de espiritualidade.
Mas o roteiro brilhantemente elaborado traz todas estas características de
maneira sutil, indireta e aos poucos.
 






Inteligentemente elaborada, a trama amarra o drama familiar de maneira
convincente e sem pecar para o excesso de sentimentalismo. Tudo às vezes chega
a ser meio silencioso e ríspido demais, mas é no olhar da interpretação dos
atores que vemos o quanto eles se importam. O roteiro ainda acerta em colocar
pessoas especiais com super poderes (que em outro filme seria mais um super
herói), como seres de luz (algo similar a anjos), porém frágeis e que
necessitam habitar em outra dimensão, um mundo paralelo, imerso ao nosso (mais
uma vez um conceito de anjos ou corpos espirituais, porém que também lembram
alienígenas). Seriam os extraterrestres na verdade pessoas com poderes
especiais que habitam outra realidade? São os aliens provenientes da própria
Terra? Ao colocar todas estas características típicas da ficção científica de
maneira realista e focando em uma construção lenta, o filme ganha ares de
suspense dramático independente. Teorias da conspiração não faltam e os poucos
efeitos especiais estão ótimos. As poucas cenas de ação e tiroteios também são
muito bem dirigidas. Destaque para os ângulos de câmera na cena do capotamento
do carro. Mas mesmo que o longa tenha esta estética caprichada, é no seu
roteiro maduro e ponderativo que está a graça de ‘Destino Especial’.







Michael Shannon tem novamente uma grande atuação, trazendo um pai aparentemente frio, mas que ama seu frio e fará de tudo para levar o garoto no local em que ele deve chegar. A despedida rápida dos dois, o olhar do ator, Shannon se revela um grande na arte dramática, sendo talvez um dos atores mais subestimados e deixados de lado na atualidade. Quem merece destaque também é o policial amigo, o ator Joel Edgerton, que entrega uma atuação digna, com um olhar que carrega fé. Uma agradável surpresa é ver Adam Driver (o vilão de ‘Star Wars: O Despertar da Força’) em um papel centrado, contido e bem atuado. O filme tem uma pegada oitentista, lembrando aquelas fantasias de mistérios com crianças clássicas da ‘Sessão da Tarde’. Do clima mais lento passando pela trilha sonora eletrônica, o longa nos remete a ‘E.T.’, ‘A Montanha Enfeitiçada’, ‘Contatos Imediatos de Terceiro Grau’ e o recente ‘Super 8’. Há indiretamente um elogio e referência a este estilo que Steven Spielberg consagrou. 



‘Destino Especial’ é um filme que no fim das contas não é para se ver efeitos especiais e ação, mas é uma produção com metáforas, para se fazer reflexões no seu término. A bela fotografia contemplativa, o final mágico, os questionamentos sobre fé lançados, tudo remete perguntas em nossa mente. Uma curiosidade crucial é o fato do nome original do filme ‘Midnight Special’ ser referência a uma canção de mesmo nome. Nesta canção fala-se de um homem na prisão que vê a luz especial brilhar a meia-noite. As cenas finais do filme casam perfeitamente com esta letra, mesmo que implicitamente. Todos somos tão envoltos de problemas e questões que nos aprisionam que, de certo modo, precisamos crer em milagres. Milagres que nos dão esperança. Algumas pessoas precisam acreditar em mais, em um destino mágico e especial. Realmente, um filme interpretativo!



NOTA: 9







Título original: Midnight Special


Direção: Jeff Nichols


Elenco: Jaeden Lieberher, Michael Shannon, Joel
Edgerton, Kirsten Dunst, Adam Driver, Sam Shepar.


Sinopse: um  pai que foge de extremistas religiosos
locais com o objetivo de proteger seu filho (Jaeden Lieberher), já que o jovem
apresenta poderes especiais







Trailer: 





A
canção ‘Midnight Special’:





























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