Crítica: Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016, de Zack Snyder) O início da Liga da Justiça se torna o filme mais controverso do ano!





Poucos filmes nos últimos anos vem dividindo tanto a opinião quanto este aguardado ‘Batman vs Superman: A Origem da Justiça’. É um caso específico de 8 ou 80, ame ou odeie. O público está dividido. Tem gente odiando, relatando vários erros e saindo decepcionado. Mas há aqueles que dizem que este é o melhor filme de heróis já feito, ou um dos melhores, que o longa é rico em detalhes e cultura do universo dos quadrinhos da DC. Já a crítica especializada quase que em unanimidade vem “matando” o filme de críticas negativas. Realmente não entendo o ódio em volta da produção. A maior parte das reclamações parecem sem fundamento sólido ou sem muito sentido. Antes do filme ser lançado já existia preconceito com o elenco, atores não muito queridos da crítica, especialmente Ben Affleck. Existe uma certa perseguição com o diretor Zack Snyder, devido sua primazia pelo visual. Também há uma forte preferência pelos atuais filmes Marvel, mais família ou debochados. Então o estilo dark da DC se tornou um tanto obsoleto no cinema recente e isso refletiu na maneira estranha na qual as pessoas estão encarando o filme, esperado um novo ‘Vingadores’. Se torna contraditório esperar leveza de um filme cujo material original é sombrio. Também se torna contraditório reclamar que os filmes de heróis são diferentes das HQ’s, mas quando surge um filme mais fiel às mesmas, novamente se reclama da pegada do longa (justamente quando ele tenta ser fiel ao material de origem). Muito se reclamou da ação sem fim e destrutiva de ‘O Homem de Aço’, porém aqui o diretor fez a lição de casa e entregou uma produção mais dramática e coesa. Mas aí novamente se reclama da lentidão e seriedade da produção. A verdade é que o pessoal se mau acostumou com os filmes de heróis estilo ‘Homem-Aranha’, ‘X-Men’ e ‘Vingadores’, não sendo tão receptivos com uma produção mais séria. Enfim é uma infinidade de contradições que só se explica por preconceito, mente fechada e preferência cega pela Marvel. Disto isto, vamos ao filme?



Foram três anos que nos separaram do mediano ‘O Homem de Aço’ até este novo capítulo aqui, prometido como uma das maiores superproduções dos últimos anos e cultuado por ser a realização de um sonho nerd: dar início a lendária Liga da Justiça nos cinemas. A trama começa com o Batman presenciando a destruição que o Superman causa no fim do longa anterior. A partir daí o roteiro engenhosamente apresenta os dilemas do perturbado homem-morcego, querendo fazer justiça pondo fim à “ameaça” que os poderes do alienígena herói pode causar. Enquanto isso, vemos pessoas venerar o todo poderoso Superman, enquanto outras discutem o quanto isso pode ser perigoso, uma vez que ele não pode ser encarado como um deus. Estas questões que permeiam todo início e meio da projeção são importantes para entendermos o conflito de ambos heróis e assim justificar o confronto. A seriedade do assunto levanta questões filosóficas sobre o que alguém com tanto poder pode e deve fazer. O conceito de deus também é posto em xeque não apenas com os heróis, mas com o vilão, que tem uma plano apoteótico, porém claramente influenciado pelo maligno, algo que ainda está por vir.




O roteiro pode conter alguns furos e clichês típicos de filmes de ação e superpoderes, como viajar de uma cidade para outra e lutar em menos de meia hora. Estas coisas impossíveis típicas de filmes, sabe? Mas no geral nada muito grave. E na verdade me surpreendi e muito em ver um filme maduro, com sérias questões discutidas e conflitos internos retratados de maneira cuidadosa e lenta. A base de como tudo acontece é retratada aos poucos e mostrando as motivações das personagens. Muitos apontam roteiro confuso, mas na verdade é confuso para quem não absorve algumas referências das HQ’s. Mesmo que com 2 horas e meia, o filme é pouco para ter tudo que deveria. É muita informação despejada em nós. Por isso muita coisa retratada ali, como os sonhos sinistros do Batman e diálogos de Lex Luthor sobre criaturas malignas de outros mundos são na verdade prelúdios do que está por vir nos próximos filmes da DC. O que parece estar perdido na verdade está fazendo referência dentro do próprio universo. Não dá para julgar isso como divagação, mas sim como fidelidade ao conteúdo de origem. E conteúdo o filme tem muito.

A direção de Zack Snyder realmente ainda precisa ser um pouquinho mais cuidadosa, mais calma nos momentos simples e dramáticos. Porém na ação e suspense ela está aprimorada. Não tem os devaneios de ‘O Homem de Aço’. Agora há uma preocupação com a vida da população, apenas prédios e bens materiais são destruídos aos montes, mas até isso é mais controlado. O diretor aprendeu e demonstra maturidade ao se importar com o bem maior no seu filme. Nos combates sempre há poeira, uma fotografia suja e obscurecida, escondendo os destroços para não poluir tanto as imagens. Alguns efeitos em 3D e em câmera lenta são soberbos, empolgam e agregam uma linguagem visual marcante, muito próxima dos quadrinhos. Este é outro ponto muito criticado. Muitos reclamam do excesso de visual do filme, mas a verdade é que as HQ’s falam através do visual. E uma boa adaptação cinematográfica deve (ao menos deveria) fazer o mesmo. Snyder sempre transportou muito bem o visual deslumbrante, chamativo, às vezes cartunesco e fetichista de uma HQ. Ele fez isso habilmente em ‘300’ e ‘Watchmen’. E aqui ele repete esta preocupação de nos trazer algo que parece ter saído das páginas de um quadrinho.



O confronto entre ambos heróis talvez não seja tão longo assim quanto deveria, mas por um lado eles acabam não brigando mais do que o necessário. É justamente no confronto de dois alter egos poderosos e diferentes que se encontra coisas em comum e uma razão boa para se unir e lutar. Em dados momentos nos chocamos com o Batman que aparentemente tem a razão humana. Em outros momentos sentimos pena do Superman, que no fundo é um órfão sem lar, que apenas usa a força sobre humana para proteger a Terra. Estes dois elementos quando em colisão acabam gerando um combate psicológico e moral muito superior ao combate corporal. E nisso sinceramente o roteiro acerta novamente. Fora as várias referências e participações ligadas a outros integrantes da futura Liga da Justiça, que apesar de breves, fará os fãs vibrarem. A prometida Mulher-Maravilha poderia ter aparecido mais e com mais explicações, realmente, porém a rápida presença dela é esmagadora e de um peso impressionante. São os três maiores heróis da DC juntos pela primeira vez em um filme, algo que na infância várias gerações de leitores apenas sonharam. Isto transcende o filme e toca na infância de muita gente, principalmente aqueles que definitivamente são fãs e amantes da DC.

Quanto às atuações, o ponto fraco vai para Henry Cavill, que ainda soa um tanto forçado e com poucas expressões capazes de dar sentimento. Se na aparência ele realmente é o super homem, na atuação ele precisa amadurecer. Já Ben Affleck, alvo de tantas críticas e piadas quando anunciado como Batman (devido a má imagem que carrega depois de interpretar ‘Demolidor’, que nem é tão ruim quanto dizem), cala a boca de muita gente se tornando o homem morcego definitivo. Talvez como Bruce Wayne e como parte dramática, o Christian Bale fosse melhor lá na trilogia do Christopher Nolan. Mas Ben Affleck representa o legítimo Cavaleiro das Trevas dos gibis, com sua armadura pesada, lutando artes marciais, atirando com armas de fogo, agindo de maneira conturbada, mesmo que no fundo com boas intenções. Gal Gadot entrega uma Mulher-Maravilha de força, mesmo que com poucas cenas e diálogos. A moça israelense tem um visual digno da heroína amazona e já podemos perceber pela sua atuação um tanto maluca que a personagem é feita para o combate e gosta da ação, praticamente viciada em adrenalina. Jesse Eisenberg como Lex Luthor talvez seja o divisor de opiniões. Inicialmente soa um tanto forçado tantos tics do excêntrico vilão. Parece uma mistura da psicopatia e ironia do Coringa de Heath Ledger com a nerdice egocêntrica de outro personagem que Jesse já interpretou: Mark Zuckerberg, o criador do Facebook no filme ‘A Rede Social’. Mas de tanto esforço ele consegue algumas boas cenas e no final convence, principalmente nos seus assustadores últimos diálogos. Alguns destaques positivos são duas mulheres: Amy Adams como Louis Lane, que finalmente é útil e convence de maneira sincera no papel e Holly Hunter com uma séria desenvoltura de uma senadora. O restante do elenco coadjuvante está bem e cumpre as expectativas.




Na parte técnica, a trilha sonora do mestre Hans Zimmer é emocionante, épica, onírica e digna de ópera. Ao contrário dos trailers, os efeitos de computação estão bons, inclusive o vilão Apocalipse, cheio de sombras e detalhes como rugas e imperfeições da sua natureza horrenda. Às vezes um pouco exagerado, mas nunca mal feito, não enxerguei os defeitos visuais que alguns apontaram. A caracterização visual dos cenários, armas e fantasias estão dignas dos quadrinhos. Este mundo um tanto futurista onde aliens, heróis e vilões existem é bem retratado sem exagerar, com uma paleta de cores nas câmeras que priorizam tons azuis e preto. E estas cores não são aleatórias. Azul é a cor do homem de aço, preto do homem-morcego. Usar estas cores na fotografia faz-nos adentrar dentro do universo dos protagonistas. A fotografia é bela, algumas cenas de monumentos e paisagens são chamativos, com enquadramentos de câmera centralizados, fazendo com que alguns detalhes visuais sejam ou o foco ou um mero detalhe; tudo propositalmente.


Enfim, o filme rende muito assunto, passaríamos horas aqui. O fato é que estas críticas negativas ao filme o tornam uma injustiça. Um filme cujo pecado é destoar do que o público mais comum e pseudo-crítico espera. Porém que satisfará a que realmente conhece o universo da DC e quem tem uma mente mais aberta para algo novo, que recém está engatinhando. A DC e a Warner tem seu estilo próprio. Eles fizeram questão em fazer um filme digno do material de origem, mesmo que isto destoe do que a maioria quer e do que os críticos chatos gostam. Identidade própria não falta, ao menos ninguém dirá que tentaram imitar ‘Vingadores’, e isto é ótimo. Não que a saga da Marvel seja ruim, não é. Mas esta pegada mais séria é o ponto central da DC e é este rumo que deve seguir. Talvez a saída de Zack Snyder da direção da Liga da Justiça seja boa para abrir caminho para outros cineastas de visão e talento. Seria bom para ter uma variedade cultural. Porém se ele se mantiver, poderá mostrar amadurecimento e acredito que dará conta do recado. 


‘Batman vs Superman’ traz um polêmico e triste final, os fãs mais fanáticos poderão se emocionar. Em um filme tão esperado e detonado, é interessante que ele acaba sendo diferente dos trailers e puxando para alguns caminhos inesperados que foram pequenas surpresas. Um filme de certa forma visionário e que futuramente será encarado melhor. Sim, vá ao cinema e veja com a mente aberta a esta boa produção. É para se ver na tela grande, com som alto, em 3D e alta resolução. Um filmaço que pode não ser o melhor filme de super heróis, mas é muito autêntico e importante. Talvez não divirta tanto quanto o primeiro ‘Vingadores’ ou ‘Guardiões da Galáxia’, que são ótimos. Mas é bem melhor que o enrolado ‘Era de Ultron’ e alguns outros títulos por aí. Um filme grandiloquente que cumpre o que promete em abrir caminho para algo maior. Algo que todos nós vamos querer presenciar. O universo de filmes da ‘Liga da Justiça’.


NOTA: 9



Que venha o filme solo da ‘Mulher-Maravilha’.


E que venha a ‘Liga da Justiça’.

Direção: Zack Snyder

Elenco: Ben Affleck, Henry Cavill, Gal Gadot, Amy Adams, Jesse Eisenberg, Diane Lane, Holly Hunter, Jeremy Irons, Laurence Fishburne, Ezra Miller, Jason Momoa, Jefrey Dean Morgan, Kevin Costner, Lauren Cohan, Michael Shannon e Scoot McNairy.

Sinopse: preocupado com as ações de
um super-herói com poderes quase divinos e sem restrições, o formidável e
implacável vigilante de Gotham City enfrenta o mais adorado salvador de
Metrópolis, enquanto todos se questionam sobre o tipo de herói que o mundo
realmente precisa. E com Batman e Superman em guerra um com o outro, surge uma
nova ameaça, colocando a humanidade sob um risco maior do que jamais conheceu.


Trailer 1 legendado:




Trailer 2 legendado:














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