Crítica: Deadpool (2016, de Tim Miller)



Quando ‘X-Men Origens: Wolverine’ fracassou em 2009, dentre as críticas estavam o fato do Deadpool interpretado por Ryan Reynolds ser apagado dentro do filme e bem diferente da HQ da Marvel. Desde aquela época haviam boatos de um filme solo do mercenário tagarela, mas o fracasso do filme e outras decisões da Fox tardaram a produção. Em outra produtora de HQ’s, a DC, Ryan Reynolds tentou com ‘Lanterna Verde’ em 2011, mas de novo o filme fracassou e foi detonado. Parece que cansado destes fracassos e entendendo o que um filme de herói envolvia, começou uma massiva campanha para que Deadpool ganhasse seu próprio filme, mas que fosse algo mais pesado e fiel aos quadrinhos. O ator se envolveu ativamente no projeto, baixou seu cachê para que o filme fosse feito com censura alta e para maiores de idade, conseguiram um diretor pouco conhecido que aceitasse se arriscar no projeto. Quando vários trailers de filmes de heróis a serem lançados em 2016 estouraram e causaram frenesi na internet e na Comic-Con em 2015, o aguardado trailer de ‘Deadpool – O Filme’ estava lá, cheio de sangue, palavrões, humor negro e sensualidade. Chegou então 2016 e um dos mais aguardados filmes do ano veio quebrando recordes de bilheteria. É o primeiro fenômeno de 2016 e dizer isto de um filme para maiores de idade é muito, já que este tipo de produção costuma arrecadar menos dinheiro devido a censura. Pode-se dizer que ‘Deadpool’ já é um marco.


Bem, não é o melhor filme de herói já feito, até por que ele nem é um super herói, palavras próprias do tagarela. Ele salva a quem ama ou quem ele quer, tem suas próprias motivações. Mas isto não tira o fator “heroico” da parada toda. Assim esta acaba sendo uma das melhores adaptações de um quadrinho para o cinema, tal qual ‘Watchmen’, ‘300’, ‘V de Vingança’, os ‘Kick-Ass’ e o ‘Cavaleiro das Trevas’ foram. De certa forma ‘Deadpool’ não chega a ser algo totalmente original. Os dois ‘Kick-Ass’ já tinham trazido referências nerds, violência e humor negro. Porém os ótimos filmes ainda seguem desconhecidos da maioria. Daí a importância de ‘Deadpool’ ao quebrar barreiras e popularizar estes elementos. Mesmo que com um roteiro simples e comum, acaba brilhando em seus momentos mais inapropriados.



O roteiro trafega numa linha ambígua entre “não sou um herói, mas este é um filme de herói”. O próprio final é digno dos melhores filmes da Marvel, como um ‘Vingadores’ da vida. Mas este desserviço por incrível que pareça é positivo, tornando todas as contraditórias criticas uma metalinguagem. Não querendo ser o cara que salva o mundo, a estrutura narrativa do longa caminha exatamente como um filme de super herói deve ser. Mesmo que as exageradas cenas de ação no final lembrem todo filme Marvel, ainda assim funcionam como piada interna e auto crítica. Uma vez que os roteiristas (os verdadeiros heróis segundo a abertura) entendem que não podem fugir de alguns caminhos para prender o público, eles fazem isso com muita “zoeira”. Piadas em cima de piadas, o protagonista parece uma metralhadora. Referências e easter egg’s não faltam à Marvel, Fox, Hollywood, celebridades, atores, os próprios X-Mens, Wolverine, costumes sociais e familiares, músicas e filmes clássicos ou populares. Está tudo ali e é muito rápido, tem que ficar ligado em cada segundo pra pegar tudo. Os palavrões estão numa quantidade gigantesca e a aposta nas cenas quentes e de nudez não ofendem nem atrapalham a narrativa da história. 

Outro ponto é que o filme consegue abordar de maneira satisfatória o drama do câncer, com cenas em que Ryan Reynolds realmente convence. E também explora bem o romance do herói com a mocinha, a prostituta Vanessa, interpretada pela bela brasileira Morena Baccarin. Morena vem de séries badaladas nos Estados Unidos (‘Homeland’) e aqui esbanja sensualidade. A química dos dois é forte e convincente, mostrando a entrega dos atores. O romance e as cenas sexy’s em ‘Deadpool’ são extremamente mais bem realistas, plausíveis e bem feitas do que o péssimo, fraco e piegas ‘Cinquenta Tons de Cinza’ por exemplo. A quebra da quarta parede é outra ótima jogada. O personagem pausa o filme para conversar com você que está assistindo. Esta técnica usada em algumas comédias dá certo aqui, dando uma aproximação do anti herói com o público. Assim o filme se torna uma surpresa nestas características. 



Fique ligado na hilária participação de Stan Lee, o rei da “bagaça” toda. Os heróis X-Men Colossus e Míssil Adolescente Megassônico e os vilões Angel Dust (interpretada pela lutadora Gina Carano) e Ajax (Ed Skrein) não chegam a ser marcantes, mas estão bem nos papéis. Ed Skrein, que vem de alguns filmes fracos como o novo ‘Carga Explosiva: O Legado’ ainda não é um grande ator, mas tem aqui seu melhor papel. A lutadora Gina Carano (e seu porte de assustar) até se sai razoavelmente bem. Como já comentado, Morena Baccarin atua muito bem e tem futuro em Hollywood em papéis que exijam da beleza da moça. E Ryan Reynolds tem aqui seu grande momento. O carismático ator tem altos e baixos na carreira, mas aqui mostra o motivo de lutar tanto pro filme dar certo. Atua bem, incorpora o anti herói, ele é o Deadpool. 

 Os efeitos especiais estão bons, apesar de humildes levando em conta um orçamento limitado de 58 milhões. Sim isso é pouco quando se sabe que um ‘Vingadores’ custa 200 milhões. Mas a edição frenética, ambientação urbana imperfeita e fotografia suja e saturada dos guetos e da cidade dão uma camuflada na limitação e um ar realista. Isto ajuda na proposta do longa. Outro grande acerto é a nostálgica trilha sonora, cheia de clássicos românticos, uma jogada similar ao ótimo ‘Guardiões da Galáxia’. Depois de meses com uma campanha de marketing genial, cheia de propagandas falsas, ensaios sensuais e cartazes de datas comemorativas, um dos filmes mais aguardados em anos chega com tudo. Agradará a maioria que procura entretenimento mais pesado, com palavrões, cabeças voando e muito sangue. Não é mais pesado que ‘300’ por exemplo, mas entre os filmes da Marvel certamente é. Um filme insano, malicioso, quente, irreverente e foda! As sacadas são espertas e não há do que reclamar da diversão. Pode não ser o melhor filme de 2016, que recém começou a esquentar. Mas poderá ser um dos melhores blockbusters do ano. E ‘Deadpool’ dá a largada das aguardadas superproduções que virão nos próximos meses, e sinceramente saiu na frente. Agora resta esperar pelo que está por vir e torcer para que os outros filmes também surpreendam. 

NOTA: 8


Dica: fique na sala do cinema para a hilária cena pós-créditos.






Direção: Tim Miller

Elenco: Ryan Reynolds, Morena Baccarin, Gina Carano, T.J. Miller, Ed Skrein, Rachel Sheen, Brianna HildebrandAndre TricoteuxTaylor Hickson, Jed Rees, Leslie Uggams, Karan Soni.

Sinopse: ex-militar e mercenário, Wade Wilson (Ryan Reynolds) é diagnosticado com câncer em estado terminal, porém encontra uma possibilidade de cura em uma sinistra experiência científica. Recuperado, com poderes e um incomum senso de humor, ele torna-se Deadpool e busca vingança contra o homem que destruiu sua vida.

Trailer:














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