Oscar 2015: O Juiz (2014, de David Dobkin, indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante)


O Juiz é um drama que acabou sendo esnobado pela academia do Oscar, concorrendo apenas a Melhor Ator Coadjuvante para o veterano Robert Duvall, um dos gigantes do cinema. Na emocionante trama vemos uma mescla de dois tipos de filmes. Um seria os dramas e suspense de tribunal, um estilo que inclusive foi moda nos anos 90. Filmes que acompanham o desenrolar dos processos jurídicos, ao mesmo tempo em que mostram os bastidores, os dramas pessoais e algumas reviravoltas. O outro tipo de filme que O Juiz mistura seria a jornada do homem bem sucedido financeiramente da cidade grande, mas com a vida pessoal destruída; que volta à sua pequena cidade natal, da qual ele fugiu e odeia, para assim por fim à situações mal resolvidas de seu passado, como problemas na família e o amor perdido da juventude. Pois o grande trunfo de O Juiz é justamente fazer a união destas duas temáticas.


Ao longo de duas horas e meia, vemos Robert Downey Jr. como um advogado voltando para a cidade onde nasceu para o funeral de sua mãe, mas acaba ficando e defendendo seu pai (Robert Duvall como o juiz local) de uma suspeita de homicídio. Em meio à humor negro, reencontros, acertos do passado e estratégias de defesa, acompanhamos a relação abalada de pai e filho, genialmente interpretada pelos dois Robert. Se por um lado Downey Jr. ainda parece descolado, é ótimo ver ele com personagens que exijam mais, algo além daquela armadura do Homem de Ferro ou da lógica de Sherlock Holmes. Apesar de demorar, ao fim do filme vemos a entrega dramática do ator, como na cena em que ele sinceramente chora em pleno tribunal. 

Mas quem se destaca ainda mais é o coadjuvante merecidamente indicado ao Oscar, Duvall entrega um pai e juiz linha dura, teimoso, mas que afinal apenas está sentindo a perda da esposa e sentindo o sofrimento das doenças que a velhice traz. Sua atuação é muito digna, com momentos frios e outros mais intensos, delicados. Sempre controlado e na medida, não há faltas e não há excessos quando Duvall está em cena. Ele está a tanto tempo no cinema, onde muitos dos filmes do qual ele participava quando novo nem são mais feitos, mas ainda assim tem tanto a ensinar aos atores mais jovens.

O filme ainda tem uma brilhante e realista cena, onde o filho precisa ajudar o pai a tomar banho, pois devido à doença ele se sujou. Uma cena crua, tocante, onde sabemos que há sofrimento, mas mesmo assim notamos um pouco de humor, resta rir da situação. É ali que realmente começa a reaproximação dos dois. Um belo filme, que fala mais do que leis e crimes. Mostra que a idade chega para todos, fala sobre perdoar, consertar o que está errado. Um filme sobre não perder tempo. Não quebrar a ética e moral humana, mesmo sendo um advogado. Um filme que fala sobre não ter medo de retornar ao seu devido lugar. Mesmo que não seja uma cidade literal, todos nós algum dia fugimos de algo. O que precisamos então é encarar de frente, e se for para melhor, então nos resta retornar.


Direção: David Dobkin

Elenco: Robert Downey Jr., Leighton Meester, Billy Bob Thornton, Vera Farmiga, Vincent D’Onofrio, Robert Duvall, Sarah Lancaster, Dax Shepard.

Sinopse: um advogado de sucesso (Downey Jr.) retorna à sua cidade natal para o funeral de sua mãe, apenas para descobrir que seu pai distante (Duvall), o juiz da cidade, é suspeito de assassinato.

Trailer:


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