Crítica: Nebraska (2013)


Falar do Oscar 2014 a essa altura parece ultrapassado. Mas é inegável que algumas histórias dos filmes que marcaram presença na cerimônia esse ano deixaram alguma coisinha dentre nós, os espectadores que assistiram. 
Como não ser assombrado pelos horrores humanos expostos em 12 Anos de Escravidão? Como não ser tocado pelo amor cheio de cores e essências de Ela ou pelo diálogo final sobre perdão de Philomena?
De todos os indicados ao melhor filme desse ano, até ontem eu não tinha visto apenas dois. Pelo visto O Lobo de Wall Street eu não assistirei mesmo nunca, mas graças ao, digamos, pedido de um amigo, ontem à noite eu conferi o outro que faltava, Nebraska
O que eu já ouvia antes mesmo de assistir era que eu iria me deparar com uma obra muito bonita e fofa e divertida. E que eu gostaria muito. É fato que o pequeno filme foi muito elogiado em incontáveis festivais, teve muito amor dos críticos e marcou sua presença no Oscar com indicações, assim como é fato que gostei sim do filme, só que certamente eu já não me lembrarei dele na semana que vem.
Mas vamos aos elogios. A estória do senhor de idade bem avançada que mete na cabeça que ganhou um prêmio de 1.000.000 de dólares e é acompanhado pelo filho em uma viagem até outro estado para receber o tal prêmio, tem seus méritos. Eu sempre gosto de fugir dos elogios óbvios. Porque em um filme como esse parece que todos têm os mesmos elogios padronizados. Boas atuações, bom roteiro. Então gosto de elogiar o que normalmente ninguém dá crédito.
O estilo visual, por exemplo. Uns acharam desnecessário o uso da fotografia em P&B. Eu achei essencial para fazer o filme se diferenciar de outras pequenas pérolas por aí. O P&B o transformou em algo único. A direção de fotografia é linda, com lindos ângulos de câmera mostrando paisagens áridas distantes (e esse crédito dos ângulos de câmera nada tem a ver com o diretor. Obviamente escolhas do diretor de fotografia).
O som. Não acho que existiu uma alma viva que sentou para escrever uma crítica sobre Nebraska e parou para elogiar o som (risos). Mas para mim é um trabalho de mixagem de som de primeira. E uma vez que estamos no departamento sonoro, aproveito para mencionar a gostosinha trilha sonora que embala os principais momentos com graça instrumental.
Então entrando nos motivos que colaboraram para eu não considerar Nebraska como a cereja do bolo… Eu confesso que só fui esboçar o meu primeiro sorriso enquanto assistia aos 20 minutos de duração com uma sequência inspirada envolvendo o sumiço de uma dentadura. Foi só depois de 20 minutos que eu senti – bem pouquinho – o tal tratamento caloroso da relação pai e filho como prometido. 
Aos 35 minutos um diálogo em um bar entre pai e filho sobre “sexo apenas para procriação” e alcoolismo me ganhou ligeiramente de novo. Era o roteiro voltando a dar sopros de vida.
Aos 46 minutos brilha June Squibb (indicada ao Oscar de atriz coadjuvante com muita justiça, eu posso afirmar agora) numa cena em um cemitério. Quando aos 72 minutos ela solta um “Vocês podem todos ir se foder!” eu bati o martelo decretando ela como a melhor coisa desse filme.
As atuações. Estão todos muito bem, mas eu simplesmente não me perdoo por ter considerado um dia o Bruce Dern nos meus bolões para o Oscar como uma real possibilidade. Falando sobre Oscar em especial, o vencedor do prêmio é o ator (ao menos deveria ser) que mostra algo na arte de atuação nunca visto antes, uma face diferente. E podemos considerar o trabalho de atuação do Dern de alguma forma revolucionário ao beber, dormir em frente a TV e parecer triste? É complexo. É como o povo que defende o Oscar da Sandra Bullock dizendo que ela passou todas as emoções apenas com o olhar, batendo de frente com o povo que diz que ela não passou de uma atriz sem expressão com uma feia peruca loira. Mas uma realidade é que Will Forte, interpretando o filho, merecia muito mais uma indicação como ator coadjuvante, ele sim expressando um leque mais vívido, mais plausível de emoções.
No fim eu acho que o diretor Payne podia ter tentando algo diferente com o Dern. Podia ter usado câmera na mão (essa história tão intimista clama por isso!). 
É um filme bom, que podia ter sido ótimo. Podia ter deixado alguma coisinha dentro de mim para a eternidade como alguns filmes deixaram. Mas as minhas memórias de tê-lo assistido de fato não sobreviverão até meados de julho.

– Crítica de Wellington S.O.

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