CRÍTICA: “Mary & Max – Uma amizade diferente” (2009)

 “Ame
a si mesmo primeiro.”

Muitos filmes chegam ao
nosso conhecimento de maneira aleatória e ao acaso. Alguns são pouco comentados
e, por vezes, as pessoas acabam nem sabendo de sua existência. Pois bem, esse
filme chegou ao meu conhecimento a partir de uma postagem de uma página no facebook que recebeu muitas curtidas e
vários comentários interessantes, dos quais não me recordo mais. A partir de
então comecei a fazer uma breve pesquisa (assim costumo fazer nesses casos) para
conhecer um pouco mais da obra e tudo o que vi e li suscitou em mim um grande
desejo de assisti-lo, o mais rápido possível. O momento chegou e pude apreciá-lo
há cerca de um ou dois meses e posso garantir: a admiração foi instantânea.
Imediatamente recorri ao facebook
para recomendá-lo e expressar a paixão que se criou entre mim e o filme,
deixando claro que ‘foi um dos melhores filmes que já vi’. Eis que, num belo
dia, um amigo muito querido decidiu me presentear com o DVD do filme, me
jogando um balde de alegria; foi o que me incitou a vê-lo mais uma vez. E, mais
uma vez, me emocionei, o bastante para crescer a paixão que já existia e o que
me fez querer escrever sobre.



“Mary e Max – Uma amizade
diferente” é uma animação australiana de 2009, dirigida pelo pouco conhecido
Adam Elliot (o mesmo que dirigiu o vencedor do Oscar de melhor curta-metragem
de animação em 2004 “Harvie Krumpt”) e com as vozes, entretanto, bastante
familiares de Philip Seymour Hoffman, Toni Collette e Eric Bana. O filme conta
a história da amizade à distância de Mary, uma garotinha tímida australiana e
Max, um senhor introvertido e com problemas com a obesidade que vive sozinho em
Nova Iorque. Nas primeiras cenas podemos conhecer um pouco de cada um. Mary é
uma garota carente de oito anos de idade, complexada com uma mancha marrom que
tem na fronte, que vive com sua mãe alcoólatra e nada exemplar e seu pai
obcecado por pássaros empalhados. Já Max é um senhor de 44 anos viciado em
cachorro-quente de chocolate que possui problemas psicológicos e não tem nenhum
familiar, além da consideração por sua vizinha quase cega.

Se sentindo sozinha e
curiosa, Mary decide escrever a uma pessoa dos Estados Unidos, escolhendo
aleatoriamente um nome da lista de endereços americana, já que ficava tentando
imaginar como seria a vida por lá e ‘se os bebês realmente nasciam dos copos de
cerveja’ como sua mãe um dia lhe ensinara. O nome escolhido, claro, é o de Max
e ela o escreve imediatamente enviando suas dúvidas, ideias e filosofias, na
esperança de um retorno positivo. Max, por sua vez, recebe a carta da garota e
fica assustado, já que não mantém esse tipo de contato com ninguém. Todavia,
decide respondê-la se apresentando e dando a sua visão de tudo que Mary lhe
havia escrito. Assim, o filme prossegue com uma constante troca de cartas entre
os personagens, onde o conteúdo delas não se limita em palavras, mas sim, em
conselhos, dúvidas, ajudas, carinho e filosofias da vida, onde os dois passam a
desvendar incógnitas do cotidiano às suas maneiras.




“A
vida de todo mundo é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas,
outras, têm fendas, cascas de banana e bitucas de cigarro.”


A arte do filme é
incrivelmente simples e a utilização do estilo “massinha” deixa, por vezes,
certos detalhes mal feitos, o que, na verdade, faz parte de todo o conjunto do
conceito criativo do filme. Além disso, o filme é preto e branco, o que me fez
amá-lo ainda mais (já que tenho uma “queda” por filmes nesse estilo), e traz
alguns elementos e detalhes em cores, o que realça bem a arte visual e acentua
o clima depressivo que o filme traz. Sim, o filme é bastante depressivo. Ver
uma garota carente pedir ajuda a um senhor solitário do outro lado do mundo é
uma coisa deprimente e o diretor, que também é o responsável pela arte, fez
questão que transmitir toda essa sensação através das cores (ou falta delas, no
caso), dos movimentos, dos cenários e, claro, nos profundos diálogos. Chegamos
ao ponto máximo do filme: o texto. A fita, em toda a sua extensão de 90
minutos, é repleta de filosofias e falas que vão do interessante ao brilhante.
E o mais incrível de tudo é que, logicamente, esperamos ler diálogos do tipo em
filmes envolvendo personagens cultos e formais, mas não aqui, onde tudo é dito
por duas pessoas isoladas da realidade e transparecendo a máxima inocência
possível e é aí que mora a beleza emotiva do filme.




“Ele
disse que eu teria que aceitar os meus defeitos e tudo mais, e que nós não
escolhemos nossos defeitos. Eles são uma parte de nós e temos de viver com
eles. Podemos, no entanto escolher nossos amigos e estou feliz por ter
escolhido você.”


Sem mais delongas, “Mary e
Max” é um filme recomendadíssimo que mostra em seus detalhes visuais e
auditivos uma explosão de emoções que envolvem uma sincera amizade. Um filme
que é para ser visto mais de uma vez, se atentar e admirar os detalhes e se
deixar tocar com a beleza e inocência de um dos mais belos sentimentos da vida.
Agradeço ao amigo que deu o prazer de ter o DVD em minha humilde coleção e a
certeza de que o assistirei mais uma vez. No decorrer desta reflexão coloquei
algumas citações dos diálogos e pensamentos e, assim como no filme, encerro
este texto com a frase conclusiva da escritora Ethel Mumford que é um soco no
coração e uma verdade tão grande que, por vezes, manifesta-se pelos olhos
através de lágrimas.


Deus nos dá
familiares. Ainda bem que podemos escolher nossos amigos
”.









NOTA: 9






“Mary and Max”
País: Austrália
Ano: 2009
Direção: Adam Elliot
Elenco de vozes: Philip Seymour Hoffman, Toni Collette, Eric Bana, Barry Humphries.

Trailer:

 

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